sábado, 20 de janeiro de 2024

A PSICÁNALISE DIGITAL


 A Psicanálise Digital.
(por Antonio Samarone)

A descoberta do inconsciente (Freud?) foi um grande passo para a compreensão do Ser Humano. O problema é que as ações inconscientes não são explicitas, nem comandadas pelo Ego.

Conhecem-se as manifestações do inconsciente, indiretamente, por atalhos. O que acreditamos ser, nunca é o que somos. A autoestima se favorece das trevas.

A medicina e a psicologia tem buscado um caminho de acesso ao inconsciente, para entender o homem em suas entranhas mais profundas, desvendar os seus desejos inconfessáveis e inconscientes.

No século XVIII, a medicina francesa estudava os semblantes (semblant), procurando o não dito, o inconsciente não revelado.

Os estudos iam bem, até o médico italiano Cesare Lombroso estender a hipótese para identificar os delinquentes. A coisa desandou para a Eugenia.

No final do XIX, o pai da neurologia, Jean-Martin Charcot, encantou-se com a hipnose, para desvendar o inconsciente nos surtos de histeria, na Europa da Belle Époque. Freud, no início, embarcou nessa visão. Depois desistiu!

Freud criou o seu método, apontando que o inconsciente poderia ser desvendados pelos sonhos. A técnica prosperou, ainda em uso.

Um discípulo de Freud, o médico francês Jacques Lacan foi mais longe: entendeu que o inconsciente poderia ser reconhecido pela linguagem, nos atos falhos.

A psicologia de mercado chega ao inconsciente através do preenchimento de questionários. Tudo rápido e prático. Um capítulo da autoajuda.

E assim anda a ciência!

A Dra. Camille Sophie de Oliveira e Silva, a terceira geração de uma família das Flechas, pós-graduada na Sorbonne Université, vai montar uma clínica de psicanálise em Itabaiana. Uma revolução!

A Dra. Sophie trouxe o mais recente método de acesso ao inconsciente. A eficácia é comprovada. Na primeira consulta o (a) paciente deixa o seu celular, com todas as senhas com a doutora. A Clínica vai contratar uma equipe local de curiosos, e um primeiro diagnóstico será traçado.

Normalmente, a análise é suspensa ali mesmo. Os pacientes se dão por satisfeitos. Em 73% dos casos chega-se a cura. Claro, existem os efeitos colaterais. Se desconhece óbitos.

Quando restam dúvidas, os dados podem ser enviados para um laboratório de algoritmos, no Vale do Silício, solicitando-se um pente fino na personalidade de cada um. Os resultados surpreendem os próprios pacientes, nem eles sabiam que possuíam aquela alma.

Essa segunda etapa, pelos custos e por descobrir coisas que os próprios pacientes passariam muito bem sem conhecê-las, pode ser abandonada pela Dra. Sophia. Essa análise laboratorial da alma, leva muitas vezes a uma baixa estima, resultado contrário ao que se espera nos tratamentos.

A Dra. Sophie não quer perder tempo com longas horas no divã, basta deixar o celular com as senhas livres, por oito dias. A Dra. Disse-me que alguns pacientes podem entregar celulares falsos, de outras pessoas, só pela curiosidade de saber a vida alheia.

Dra. Sophia, por precaução, só aceitará celulares com documento de propriedade passado em cartório.

O celular é uma extensão da alma. Em breve, a nossa personalidade poderá ser armazenada num programa e instalada numa máquina. É a imortalidade dos Nerds. A imortalidade prescinde do corpo.

A tese é que o celular já é parte do nosso Eu. Independe da nossa vontade. Em pouco tempo, o celular será adaptado como uma prótese definitiva.

Ninguém segura a parceria da ciência médica com a inteligência artificial. A nova psicanálise digital desnuda a alma.

Sucesso à nova Clínica e vida longa a Dra. Camille Sophia de Oliveira e Silva, sangue dos ferreiros da Matapoã. Itabaiana sairá na frente, dessa feita, no Brasil.

Antonio Samarone. (médico sanitarista, dos antigos, ainda analógico)

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