terça-feira, 9 de janeiro de 2024

É PRECISO QUE TUDO MUDE.


 É preciso que tudo mude...
(por Antonio Samarone)

É difícil contar histórias amenas da política nesse momento, onde o azedume das paixões nos divide. A política tem lados, certo, mas não precisa chegarmos a guerra.

De todo jeito, vamos lá.

O filme italiano “O Leopardo”, inspirado na obra Il gattopardo, do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, analisa o processo de unificação da Itália e o fim da monarquia. O filme trata da ascensão dos burgueses e do ocaso da nobreza.

Os burgueses chegam ao poder, endinheirados, mas sem os modos da Coorte. A burguesia fez revoluções!

A decadente aristocracia italiana esnobava da rudeza dos novos-ricos. O filme, um clássico, trata da política, da revolução italiana, mas o que me veio à cabeça, foi o choque de etiquetas entre as classes sociais.

Guardando as proporções e as épocas, o mesmo ocorreu com a chegada da esquerda ao poder em Sergipe, no início do século XXI.

Os novos eleitos da Coorte, desconheciam os segredos dos vinhos.
Vinho, vinho mesmo, só os garrafões de cinco litros de Sangue de Boi, na Atalaia Nova.

Faltava a esquerda o “bom gosto”, dos que frequentavam os Palácios.

Claro, em Sergipe essa nobreza palaciana não era cortesã, nem de sangue. Era uma nobreza rural, descendentes dos Barões da cana-de-açúcar. Não possuíam os modos europeus. Vinham das Casas Grandes e dos Engenhos da Cotinguiba. Mas, arrotavam privilégios!

Em minha primeira aula na UFS, o professor perguntou-me: você é de que família? Não foi fácil, ele entender. Eu disse de pronto: sou um ferreiro da Matapoã! E o papo encerrou. Éramos gente nova, lutando pela cidadania.

Um dono de um restaurante famoso no Aracaju, percebeu esses novos áulicos em suas mesas, e tomou as providências cabíveis. Ele ofertou para essa gente noviça, em sigilo, um curso básico de vinhos – vinte horas, com direito a certificado.

O curso foi ministrado por Salvatore Francesco, o Sommelier mais famoso da Itália.

O programa do curso, está no verso dos certificados: história, processo de produção e estilos dos vinhos: brancos, tintos e espumantes. Sobremesa – tardio e fortificados. Técnica de degustação, serviço do vinho e conceitos básicos de harmonização.

Conheço vários diplomados, desse primeiro curso. Gente que se afinou aos novos modos, para não passar vergonha, nas ricas salas de pastos do Aracaju. Não estou criticando, apenas registrando que a história se repete.

O curso foi gratuito, ficando com o alunato apenas as despesas dos vinhos consumidos nas aulas práticas.

Depois da capacitação, o bloco no poder em Sergipe, passou a ter duas novas tendências: os iniciados em degustação dos vinhos e os não iniciados. Eu, por ser um abstêmio ortodoxo, fiquei no segundo grupo.

Um dos alunos da primeira turma, o mais interessado, aprofundou-se no tema, e passou a reproduzir localmente o mesmo curso. Centenas de militantes tiveram essa chance de ouro. Soube que o curso chegou ao interior.

É importante ressaltar que esses cursos não tinham fins lucrativos.

A esquerda mantém, onde pode, os seus princípios socialistas.

Preocupado com o pedantismo das citações, encerro com uma máxima da Revolução dos Bichos, de George Orwell. O livro trata da luta para criação de uma sociedade igualitária. No final, o artigo primeiro da nova Constituição, declara: “Todos os bichos são iguais perante a lei, mas alguns bichos são mais iguais que os outros.”

É a vida que segue!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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