sexta-feira, 27 de outubro de 2023

O PAPA-FIGO.

 Papa-Figo.
(por Antonio Samarone)

Depois do coração, o fígado é o órgão humano mais prestigiado pelo povo. Como ensinava Galeno, até hoje, acredita-se que o sangue seja produzido no fígado. Tanto o sangue bom, como o sangue mau. Aos parentes, dizemos ser são sangue do nosso sangue.

O inimigo figadal é o inimigo profundo, o inimigo de sangue.

O fígado é a víscera responsável pelo temperamento das pessoas. Quem pensa pelo fígado é cheio de ódios, ressentimentos, atos impensados. Gente vingativa e cruel.

Vivemos uma epidemia de ódios. Estamos diante de uma enfermidade do fígado?

Na mitologia grega, como castigo dos deuses, uma águia devorava diariamente o fígado de Prometeu. “Libertei os homens da obsessão da morte, instalei neles as cegas esperanças e dei-lhe o fogo.” – Prometeu.

Aqui nasceu a consciência e a revolta do espírito.

Em minha infância, eu temia o Papa-Figo. A lenda do Papa-Figo é antiga.

Atualmente, as crianças possuem outros medos. Papa-Figo, Lobisomem, Bicho Papão, Velho do Saco, Saci Pererê, foram extintos.

Os medos são outros! Parte desses novos medos foram medicalizados, receberam um diagnóstico médico e um tratamento farmacêutico.

Nas origens, acreditava-se que o Papa-Figo eram certos ricaços, que adoravam fígados de crianças. Usavam os fígados das crianças, filhas dos seus escravos.

Na culinária Francesa, "foie gras" é uma iguaria de fígado do pato.

Durante a guerra fria, difundiu-se no Brasil, que comunista comia o fígado das criancinhas.

Na infância, eu pensava que o Papa-Figo era o guarda do DNERU (SUCAM), que realizava biopsia hepática, para descobrir precocemente a febre amarela, uma endemia rural.

Aquela biopsia cruenta era um terror. Era um Papa-Figo de carne e osso, fardado, agente do Estado.

Existe um vinho português chamado “PAPA-FIGOS”.

Que volte o Papa-Figo!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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