terça-feira, 3 de outubro de 2023
QUEM COMEU O BISPO SARDINHA?
Quem comeu o Bispo Sardinha?
“Só a antropofagia nos une. Tupi, or not tupi that is the question” – Oswald de Andrade.
Em 1551, o Papa Júlio III criou a Diocese do Brasil, nomeando Dom Pero Fernandes Sardinha, um letrado de Sorbonne, o primeiro Bispo.
O Jesuíta Manoel da Nóbrega não gostou, e o desentendimento com o Bispo foi imediato.
A principal divergência: o Bispo não reconhecia os índios como filhos de Deus. Os jesuítas queriam catequizá-los e escravizá-los.
Dom João III, Rei de Portugal, chamou o Bispo de volta. Dom Sardinha zarpou de Salvador em 15 de junho de 1556, na Nau Nossa Senhora d’ Ajuda. Uma comitiva repleta de fidalgos. Dois Cônegos, duas mulheres casadas e mais de cem brancos. Entre esses, o Provedor Mor Antonio de Barros, pai do conquistador de Sergipe, Cristóvão de Barros.
No dia seguinte, 16 de junho de 1556, ocorreu o naufrágio.
Quem primeiro descreveu a tragédia foi o senhor de engenho, Gabriel Soares de Souza, em 1587, trinta anos depois do fato.
Segundo Soares, o naufrágio ocorreu no pontal do Cururipe, em Alagoas, onde os Caetés teriam jantado o Bispo. Essa visão virou verdade histórica. É o que se ensina nas escolas.
A versão de Gabriel Soares foi transcrita pelo Frei Vicente do Salvador, em sua história do Brasil, de 1627, e assim por diante. Essa mesma versão continua sendo repetida nos cursos de história.
Na verdade, essa história mal contada visava pôr a culpa nos Caetés. Uma acusação interessada. Os donatários da Capitania de Pernambuco queriam exterminar os valentes Caetés e precisavam de um motivo.
Um agravante: Sardinha foi comido enquanto ocorria o Concilio de Trento. A poderosa igreja exigiu providencias.
Em 1557, a Rainha de Portugal promulgou a escravidão perpetua de todos os Caetés e seus descendentes, considerados culpados pela morte do Bispo. A sentença eterna foi cumprida e a brava Nação Caetés foi exterminada.
Na versão oficial, a Nau com o bispo teria naufragada 16 dias após a partida. Se sabe hoje, que o naufrágio ocorreu no dia seguinte.
Em 1557, a Rainha de Portugal promulgou a escravidão perpetua de todos os Caetés e seus descendentes, considerados culpados pela morte do Bispo. A sentença eterna foi cumprida e a brava nação Caetés exterminada.
Entretanto, a morte do Bispo tem outra história. O historiador alagoano, Moacyr Soares Pereira, centrado em três cartas e um livro de Jesuítas, que viviam no Brasil na época do naufrágio, reinterpreta os fatos.
Uma carta do padre Antonio Blasquez a Inácio de Loyola, de 1557, informa: a Nau onde viajava o Bispo Sardinha, naufragou a sessenta léguas de Salvador.
Uma segunda carta, do padre Ruy Pereira, de 1561, descreve que o naufrágio ocorreu na enseada do Vaza Barris, nas proximidades da foz do São Francisco.
Observação: essa enseada é a descrita por Américo Vespúcio, onde existe atualmente a reserva de Santa Isabel, entre Pirambu e a Ponta dos Mangues, em Sergipe. Comeram o Bispo na Praia de Santa Isabel, em Sergipe.
A terceira carta (1586), do Jesuíta Cristóvão de Gouvea, confirma a enseada do Vaza Barris como o local do naufrágio do Bispo Sardinha. Não confundir com a atual bacia do Vaza Barris, no Mosqueiro.
Portanto, a sessão de antropofagia foi ato dos Tupinambás.
Uma das justificativas da ocupação de Sergipe (1591), foi essa vingança. Em sua história do Brasil, o frei Vicente do Salvador não deixa dúvidas:
“Cristóvão de Barros decidiu ocupar Sergipe para vingar-se dos gentios, que teriam comido o seu pai, Antonio Cardoso de Barros. Claro que outras motivações existiram.
Para deixar mais claro, cito a conclusão da revisão, feita pelo historiador Moacyr Soares, com quem concordo:
Em suma, a Nau em que ia o primeiro Bispo do Brasil, naufragou na Costa de Sergipe, na Enseada Vaza Barris, próxima a foz do São Francisco, e não em Cururipe, litoral de Alagoas. O Bispo e os seus companheiros foram devorados pelos Tupinambás, que viviam na margem direita do São Francisco, e não pelos Caetés, que viviam na margem esquerda.
Aguardo a contestação da história oficial.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
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