Sergipe d’El Rey (2020), bicentenário
de que? (por Antônio Samarone)
Os Tupinambás já ocupavam o atual
território de Sergipe por volta de 1400.
O atual território de Sergipe foi
a Capitania doada a Francisco Pereira Coutinho, em 1534. A Capitania
estendia-se por 50 léguas a partir do Rio São Francisco, em direção a Baia de
Todos os Santos.
Com a morte de Francisco Pereira
Coutinho, num ritual antropofágico na Ilha de Itaparica, a Capitania ficou
abandonada, até a decisão do Rei de Portugal em comprar a Capitania a Família
de Coutinho, em 1574.
Com a expulsão dos Tupinambás em
1590, a antiga Capitania de Coutinho virou a Capitania de Sergipe d’El Rey,
ligada diretamente à Coroa Espanhola, como qualquer outra, segundo Ivo do
Prado.
Quando da ocupação de Sergipe,
Portugal e Espanha formavam a União Ibérica, no reinado de Felipe II. O
primeiro Capitão Mor de Sergipe foi Tomé da Rocha, nomeado em 1591. A Capitania
de Sergipe d’El Rei é antiga.
A Capitania de Sergipe d’El Rey foi
governada por Capitães Mores, indicados pela Coroa até 1637, quando São
Cristóvão foi invadida pelos holandeses e Sergipe ficou sem governo. Somente em
1648, já com a restauração e Portugal ficando independente da Espanha, foi
nomeado outro Capitão Mor para Sergipe, Balthazar de Queiroz de Serqueira.
Em 1696, por decisão da Coroa
portuguesa, a Capitania de Sergipe alçou a condição de Comarca. Continuou tendo
Capitão Mor, Provedor de Fazenda, Guarnição de Infantaria e Ouvidor. O
Soberano, para dividir as duas Comarcas (Bahia e Sergipe), estabeleceu as
fronteiras de Sergipe até a Praia de Itapuã.
Contudo, na prática, a Bahia foi
invadindo, tomando território, restringindo competências da Comarca de Sergipe,
e em pouco tempo tornando Sergipe uma sub Capitania subordinada à Bahia. Foi
disso que nos libertamos em 1820.
No Brasil, as Capitanias foram
transformadas em Províncias em 1821, pelas Cortes Gerais e Extraordinárias da
Nação Portuguesa, no âmbito do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Como gratidão, por Sergipe ter
enviado combatentes para lutar ao lado das tropas reais e derrotar a Revolução
Pernambucana de 1817, El Rei D. João VI, em 08 de julho de 1820, restabeleceu a
autonomia da Capitania de Sergipe d’El Rei, eliminando os vínculos com a Bahia.
Para concretizar o ato, El Rei
nomeou Carlos Burlamarque o primeiro Governador da Província de Sergipe, em outubro
de 1820. A Bahia reagiu e não deixou Burlamarque assumir. Somente em janeiro de
1824, com a nomeação do sergipano Manoel Fernandes da Silveira é que a
Província de Sergipe começou a pensar em autonomia política.
Mesmo assim não foi lá essa autonomia
toda. O Senado Federal funciona desde 1826. Os dois primeiros representantes da
Província de Sergipe no Senado, José Teixeira da Mata Bacelar (1826 a 1838) e José
da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre (1838 a 1860), não eram
sergipanos.
O primeiro sergipano a
representar a Província de Sergipe no Senado foi Antônio Dinis de Siqueira e
Melo, eleito somente em 1859. Depois tivemos o Barão de Maruim, eleito em 1861,
e o Barão de Estância, eleito em 1885. E só!
A elite sergipana cuidava dos seus
interesses, Sergipe era um detalhe.
É esse fato histórico: o decreto
de D. João VI de 1820, que completa 200 anos, em 2020. Não houve luta de Sergipanos
para conquistar essa separação da Bahia, pelo contrário, parte de sua elite não
queria. O Decreto real foi uma recompensa, um prêmio da Coroa, por Sergipe ter
lutado ao lado das tropas reais para derrotar os irmãos pernambucanos, na Revolução
de 1817.
O Hino de Sergipe é um canto de
agradecimento a separação administrativa de Sergipe da Bahia.
Acho que o professor Manoel
Joaquim de Oliveira Campos exagerou em louvações, no hino de Sergipe, que quase
ninguém sabe cantar:
“Alegrai-vos, sergipanos
Eis que surge a mais bela aurora
Do áureo jucundo dia
Que a Sergipe honra e decora”
Menos, bem menos, professor
Manoel Joaquim... A autoestima dos sergipanos por Sergipe é recente,
historicamente muito recente, como dizia Luiz Antônio Barreto. Essa ideia da Sergipanidade
pode ajudar.
Os únicos sergipanos inscritos no
livro dos heróis da Pátria são o Cacique Tupinambá Serigy, e mais recentemente
Tobias Barreto. Creio que esqueceram até de Francisco Camerino...
Não sei o que as agências
oficiais vão inventar esse ano para a comemorar o bicentenário desse “jucundo
dia”, como diz o nosso hino. Na verdade, A história de Sergipe precisa ser recontada...
Vamos aguardar!
Antônio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário