Memória Apagada – Adeus Guilhermino Bezerra.
(Por Antonio Samarone)
No final da Praça de Santa Cruz, em 04 de abril de 1937, Governo Eronides de Carvalho, foi inaugurado o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (foto). O primeiro de Itabaiana. Uma gracinha arquitetônica. O berço intelectual de muitos meninos pobres. Foi lá que aprendi a ler e a escrever.
Para espanto geral, a Secretaria Estadual de Educação resolveu reformá-lo, ou melhor, deformá-lo, para abrigar uma parte da sua burocracia. O belo prédio está sendo estuprado arquitetonicamente. Adeus memória!
É mais um prédio histórico indo abaixo em Itabaiana. Recentemente demoliram umas das primeiras igrejas presbiterianas de Sergipe, de 1938. Agora foi o Guilhermino Bezerra, de 1937.
Não foi sem resistência.
Em 2015, a Academia Itabaianense de Letras, sob liderança do Desembargador Vladimir Carvalho, solicitou ao Governador Jackson Barreto a doação do prédio do Guilhermino Bezerra, para fins culturais, incluindo a construção da sede da Academia. Pelo sim, pelo não, a coisa ia bem, depois desandou.
O Ex Prefeito Adaílton Souza fez nova investida. Solicitou a municipalização do imóvel, para instalação do memorial de Itabaiana. Memorial é um museu moderno, tipo o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O arquiteto Ezío Déda chegou a visitar o prédio, concordando com a adequação do imóvel.
Em minha infância, Itabaiana possuía um museu, na Rua Padre Felismino, fundado em 1966. Sei que pouca gente se lembra do Museu de José Conrado dos Santos (Zé de Ana). Falava-se, a boca miúda, que ele tinha recebido ajuda de Lourival Batista. Ele negava!
Voltando ao Guilhermino Bezerra. Não houve jeito, faltou sensibilidade ao Estado.
A memória educacional de Itabaiana está sendo soterrada. Várias gerações de ceboleiros passaram por seus bancos. O Guilhermino Bezerra marcou a arrancada da educação em Itabaiana. O passo inicial para o Murilo Braga.
Ontem, o assunto foi abordado em um grupo de amigos. Um professor, tomado pelo realismo, disparou: “agora não tem mais jeito, a desgraça já está feito.” Outro, me jogou a culpa: “a Cultura Municipal” não poderia ter tombado antes? Tocar viola de boca é fácil.
A Prefeitura de Itabaiana tentou impedir, insistiu, solicitou oficialmente o prédio para implantar um memorial, preservando a beleza e o padrão original. A resposta foi a deformação impiedosa do Guilhermino Bezerra.
Fiquei pensando, por que tanto desrespeito a memória de Itabaiana?
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(a foto é da lavra de Paulinho de Dóci, do acervo de Robério)
Nenhum comentário:
Postar um comentário