quarta-feira, 9 de abril de 2025
BOCA DE FORNO
Boca de Forno.
(por Antonio Samarone).
A principal contribuição dos Tupinambás para alimentação, foi a farinha de mandioca. O pau de guerra, como era chamada, deu vantagens militares aos Tupinambás, pois a farinha é resistente a decomposição.
Foi a farinha que sustentou a colonização. A farinha possui três virtudes alimentares: “aumenta o que é pouco, engrossa o que é mole e esfria o que é quente”.
Durante séculos, a produção da farinha foi aperfeiçoada em Itabaiana. A farinha de Itabaiana virou marca de qualidade. A farofa tornou-se uma guloseima. Era uma produção artesanal coletiva. As farinhadas eram festas. Rituais de confraternização.
Atualmente a produção é feita em fabriquetas, por norma, com retirada da tapioca (amido). Entre as mudanças do processo, o forno de barro foi substituído pelo de ferro, visando o aumento da produtividade. A pressa reduziu a qualidade da farinha. Por exemplo: a antiga farinha pó do Rio das Pedras, só é produzida em forno de barro.
O forno de barro permite uma temperatura adequada para assar sem queimar. Os bolos, beijus, doces, petiscos, pitéus, rebuçados, acepipes, iguarias e manjares derivados da tapioca e da puba, precisam do forno de barro.
Ontem, fui ao Povoado Cajueiro, onde funciona a última oficina de produção fornos de barros, em Sergipe. Uma forma de resistência.
A produção de fornos de barros (foto) fica por conta de José Wilson, conhecido por Cajueiro, e de sua família. Uma tradição familiar de mais de cem anos. Tudo começou com Dona Maura de Zeca de Franco, no Povoado Congo. O senhor Durval do Forno, recentemente falecido, deu continuidade.
Hoje, os irmãos Cajueiro e Edmilson, segue a prática da família, e continuam produzindo fornos de barro. Mesmo com a demanda reduzida. A cultura popular resiste, não sei até quando.
As doceiras que conhecem as virtudes dos fornos de barro e não sabiam onde encontrá-los, podem me procurar.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
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