O nascimento da oftalmologia no Brasil. (Apontamentos).
Nas
primeiras décadas do século XIX, a oftalmologia era apanágio dos cirurgiões
aprovados, que realizavam operações de catarata, de fístula lacrimal e
enucleação do globo ocular. Os
naturalistas Spix e Martius, relatam o tratamento de moléstias dos olhos, por
volta de 1818. Em Recife, o médico Henrique Krause, anunciava realizar qualquer
tipo de operação nos olhos. As patologias oculares mais frequentes eram:
conjuntivite, terçol, sapiranga, blefarite, arcus sinilis, oftalmia purulenta e
tracoma. Entre os medicamentos da flora brasileira usados nas oftalmias
citamos: suco de cansanção, sumo de brotos de umbaúba; contra manchas brancas
nos olhos usava-se esterco de jacaré. Já se lavava os olhos com água boricada. Em 1854, fundou-se no Rio de Janeiro, o Imperial
Instituto dos Meninos Cegos. Pelas bandas de Sergipe, José Lourenço de
Magalhães, José Correia de Melo Bitencourt e Antônio Militão de Bragança são os
primeiros médicos a tratarem das doenças dos olhos. (fonte: Lycurgo Santos)
O primeiro
serviço público destinado ao tratamento das moléstias dos olhos foi criado em
1858, pelo Marquês de Abrantes, provedor da Santa Casa de Misericórdia do Rio
de Janeiro. O serviço foi entregue ao conceituado médico ítalo-francês Carron
Du Villards. Nascia então a chamada 1ª enfermaria da Santa Casa, onde nasceu a
oculística cientifica dando início a oftalmologia no Brasil. Foi também nessa
enfermaria que surgiu a cátedra de oftalmologia da Faculdade Nacional de
Medicina, em 1883. O primeiro professor a ocupar a cadeira foi Hilário Soares
Gouveia. Quem foi o Dr. Charles Joseph Fréderic Carron
Du Villards, fundador da oftalmologia no Brasil?
Quando
chegou ao Brasil em 1857, Carron Du Villards, com 57 anos, já era um oculista
famoso no Velho Mundo. Autor de um Tratado de Oftalmologia (Guide Pratique pour
l’étude et le traitement des maladies des yeux), tinha implantado e dirigido um
dispensário de oftalmologia em Paris, sido assistente dos cursos de
oftalmologia ministrado por Lisfranc.
Carron Du Vilards possui vários trabalhos científicos publicados no
“Annales d’Oculistique”. Doutor em medicina e membro da Academie Royale des
sciences del Turin. Mesmo já estabelecido e conceituado na França, Carron Du
Villards era um apaixonado por viagens. A partir de 1848, partiu percorrendo
vários países, buscando novas experiências, até chegar ao Brasil.
Carron Du
Villards nasceu em 1800, na Savoia, doutorou-se em Turim aos 20 anos, filho do
médico militar sardenho, Carlo Giacono Luigi Carron, foi discípulo de Antonio
Scarpa, maior nome da oftalmologia italiana. Em 1832, transferiu-se para a
França, onde naturalizou-se. Faleceu no Brasil, em 02 de fevereiro de 1860,
sendo sepultado no cemitério São João Batista. Com a morte
de Carron Du Villards, comandaram essa enfermaria oftalmológica da Santa Casa,
pela ordem, os renomados Joaquim Antonio Araújo e Silva (Barão do Catete) –
1860/1863; Manoel da Gama Lobo – 1863/1867; Hilário de Gouveia, Pereira da Cunha,
Fernandes Pires Ferreira e o professor Octávio do Rego Lopes. Foi dessa
enfermaria, que a partir de 1898, o médico sergipano José Antonio de Abreu
Fialho comandou por 40 anos a oftalmologia brasileira. Em seu gabinete de
trabalho, destacava-se um mapa de Sergipe, emoldurado, e posto em destaque na
parede. Abreu Fialho foi assistente do Professor Pires Ferreira. Desse serviço
saíram os melhores professores e profissionais de oftalmologia brasileira.
José
Antonio de Abreu Fialho nasceu em 20 de janeiro de 1874, em Aracaju, filho de
Tito de Abreu Fialho e Maria José de Abreu Fialho. Formou-se no Rio de Janeiro
em 1896. Dois anos depois, com apenas 24 anos, foi aprovado em concurso público
para a cátedra de oftalmologia. Em seguida, marchou para Viena, onde cursou por
2 anos, a especialização em oftalmologia na Clínica de Fuchs, o melhor serviço
do Velho Mundo. Em 1918,
Abreu Fialho convocou e dirigiu o Congresso Brasileiro do Tracoma, sendo o
primeiro a chamar atenção para esse grave problema de Saúde Pública. Em 1922,
fundou e dirigiu até a sua morte, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Em
1928, lançou os “Anais da Oculística” e assumiu a direção da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, convidado pelo Presidente Washington Luís.
Por ocasião
da posse como Diretor da Faculdade de Medicina, Abreu Fialho enfatizou em seu
discurso: “Quero a dignidade do ensino e no ensino. Ser útil, sem exceção, a
quem ensina e a quem aprende. Quero elevar-me ao cimo das paixões humanas; com
o ideal da beleza moral diante dos olhos, para cuidar com afinco dos deveres do
meu cargo; sem ódios nem rivalidades que amesquinham os homens; sem desagravos
a desagravar, sem contas a ajustar; sem dar ouvidos a estas palavras que o
vento traz pela boca dos noveleiros; sem otimismos cândidos, sem confianças
ilimitadas, antes sempre preso às realidades, e vigilante na guarda da coisa
pública que me foi confiada”.
Segundo
Sylvio Fialho, “a atividade de José Antonio de Abreu Fialho – na enfermaria, na
cátedra, nas academias, nas revistas médicas, na imprensa, nos congressos, nas
sociedades sábias, na administração – mas o grande cenário da sua vida sempre
foi o seu consultório, na Rua dos Ourives, onde ele clinicou durante quase
quarenta anos, e em cujos arquivos ficou a história da vida de um grande
médico”. “Cerca de
quatrocentos mil doentes, no consultório e no hospital, desfilaram diante do
professor famoso, gente de todas as raças e de todas as condições sociais,
vindas não raro de longes confins, atraídas pelo renome da sua ciência e da sua
honestidade profissional. Sabiam que da sua boca só ouviriam a verdade, não
ignoravam que o interesse mercantil jamais toldara a consciência daquele profissional,
que sempre teve em estandarte a honradez e a probidade. Para Abreu Fialho, que
cultuava acima de tudo a sua profissão, e a queria cada vez mais dignificada e
respeitável, tanto valia o cliente rico quanto o pobre, o humilde tanto quanto
o poderoso, nivelados todos pelo denominador comum dum sofrimento igual”.
Seu amor a
medicina e o desapego ao poder, fez Abreu Fialho rejeitar o convite do
Presidente Arthur Bernardes para governar Sergipe, e em seguida o mandato de
Senador por oito anos; de forma consensual com todos os Partidos, sem precisar
participar das disputas eleitorais. As frações em disputa em Sergipe queriam um
nome de fora da política e com boa fama.
Abreu Fialho foi presidente do Centro Sergipano, no Rio de Janeiro. Faleceu
em 17 de março de 1940.
Antonio
Samarone.
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