A cegueira em
Sergipe.
O Dr. José
Rodrigues Bastos Coelho, médico sergipano, organizador do nosso Departamento de
Saúde Pública, no primeiro Governo de Augusto Maynard (1930 – 1935), nos
informa em seu ensaio “Coisas e Vultos de Aracaju” que, de acordo com o censo
de 1940, Sergipe possuía 1.347 cegos, numa população de 542.320 habitantes. Isso
dava uma incidência de 248,4 cegos por cem mil habitantes, taxa das mais altas
do Mundo.
A oftalmologia
engatinhava em Sergipe. Mesmo sendo uma das primeiras especialidades da
medicina, as cátedras de oftalmologia foram instaladas nas duas faculdades brasileiras
desde 1883. Entretanto, na prática, o trabalho do “oculista”, foi um dos
espaços mais desejado dos charlatões.
Entre as
doenças oculares mais frequentes em Sergipe até a primeira metade do século XX,
preponderavam o “terçol” (pequenos furúnculos nas pálpebras); “Sapiranga” ou
“Sapigoga” (blefaroconjuntivite com perda das pestanas); as “Conjuntivites”;
“Oftalmia Purulenta (Tracoma); “Névoas Brancas” (catarata); “Arcus Senilis”
(endurecimento da córnea pelo excesso de claridade); “Cegueira Noturna”
(hemeralopia, decorrente da avitaminose “A”); “Gota-Serena” (amaurose, perda da
visão sem lesão aparente, tratada com a guabiraba). É importante distinguir a
Gota-Serena da Gota-Coral (nome dado a epilepsia) e da gota (podogra – artrite
gotosa, uma forma grave de reumatismo).
Entre as
devoções populares uma das santas mais adoradas era Santa Luzia, a protetora
das vistas. Era comum em Sergipe que no dia da Santa (13 de dezembro, mas se
comemora todo o dia 13), aproveitadores andarem de porta em porta, com a imagem
ou gravura da Santa na mão, pedindo esmola para a mesma. Pouca gente tinha
coragem de negar essa tão pequena dádiva em troca de tão grande proteção.
Entre os
tratamentos para doenças oculares encontramos “suco de cansanção”, “sumo de
umbaúba”.
Pintura de
Pieter Brueguel, o Velho (1525-1569).
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