Pé de Serra...
(por Antonio Samarone)
Acabei de ler uma tese sobre o forró, do doutor Thiago Paulino. A academia debruçada sobre a arte popular. A arte dos excluídos. O pesquisador divide forró em eletrônico, universitário e pé de serra.
O meu interesse restringe-se ao último.
Acho que o “eletrônico” e o “universitário” aproveitam-se do título forró, como marketing. Forró é o pé de serra. Pronto! Eu sei, é um achismo questionável. Fiquem à vontade.
O forró pé de serra é exemplo raro de resistência bem-sucedida a indústria cultural. Enfrentando boicotes sistemáticos. O exemplo recente de Flávio José, sendo discriminado em Campina Grande, é ilustrativo. Estou falando de um ícone do forró.
Aprendi com a tese de Paulino, que virou livro, que a composição do trio do forró pé de serra (sanfona, zabumba e triangulo) não foi criação de Gonzaga. Já existia em Portugal antigo, um grupo chamado “chula” (rebeca, bombo e ferrinho). Os estudos acadêmicos trazem essas novidades.
O doutor Paulino inspira-se em Nobert Elias, um médico alemão, para explicar o Barracão de Clemilda. Tirando essas bobagens, o livro é bom.
Não é culpa dele, a Academia exige uma referencia teórica, mesmo que se force a barra.
Outro exagero, foi considerar o Arraial do Povo, esse da Orla da Atalaia, um evento diferente do Forró Caju, o do mercado central do Aracaju. Considerando o primeiro de raiz e o segundo de massas.
Acho tudo farinha do mesmo saco. Os dois eventos transformam o povo em plateia. Antes brincava-se o São João, hoje se assiste.
O São João atual é uma festa de largo, onde o Estado, o Poder Político se transforma no organizador, financiador e protagonista. Um uso da cultura como instrumento de legitimação política dos governantes. A visão romana do espetáculo.
Uma dúvida: essa lógica atual de financiamento do Ministério da Cultura (Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2) aponta em outra direção? Seria um caminho de descentralização democrática? Estou apenas perguntando.
O livro de Paulino é bem fundamentado. Ajuda no entendimento sobre o forró, sobretudo em Aracaju. Sobre o interior, limita-se a família de Aurelino e a Cobra Verde, em São Domingos.
Que o Doutor Paulino se prepare para estudar os desdobramentos para o forró pé de serra, com a criação de uma escola de sanfona, zabumba, triangulo e teoria musical, que está quase pronta, na capital sergipana de cultura.
Doutor Paulino, gostei do seu livro. Escreva mais.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
sábado, 15 de julho de 2023
PÉ DE SERRA
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