Hospital de Santa Isabel.
Antonio Samarone de Santana.
Após a grande epidemia de cólera em Sergipe (1855), com mais de
trinta mil óbitos em três meses, o Presidente da Província, Salvador Correia de
Sá, manda edificar um Hospital de Caridade em Aracaju, que acabava de assumir a
condição de capital do Estado. A resolução número 467, de 13 de março de 1857,
determina a edificação de um hospital de caridade, em local apropriado.
Entretanto, essa idéia não saiu do papel. Outra resolução, a de número 498, de
24 de maio de 1858, autorizava o Governo a estabelecer na capital, um hospital
de caridade, de nome “Hospital Nossa Senhora da Conceição” (o atual “Santa
Isabel”). Em 26 de maio de 1858, finalmente, foram encomendados ao Major
Engenheiro Sebastião José Bazilio Pyrrilio, a confecção da planta e o orçamento
da obra.
Desde 20 de julho de 1858, ao Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio,
já nomeado médico do futuro hospital, é dado à incumbência de emitir parecer
sobre a referida planta[1].
O hospital só funcionará a partir de 1862.
O Presidente da Província nesse período, Dr. João Dabney D’Avellar
Brotero, preocupado para que os custos do futuro hospital não viessem recair
exclusivamente sobre os cofres públicos, tentou, sem sucesso, criar uma Santa
Casa de Misericórdia para administrar o futuro hospital. Foi criada uma
comissão composta pelo chefe de polícia, Ângelo Francisco Ramos, pelo cônego
vigário geral, Ignácio Antonio da Costa Lobo, pelos tenentes-coronéis Félix
Barreto de Vasconcelos e Antonio Carneiro de Menezes e pelo Dr. Francisco
Sabino Coelho Sampaio visando a arrecadar fundos para a futura instituição.
“Parece-me que um estabelecimento tão piedoso e filantrópico
jamais devia ficar exposto à condição de uma duração efêmera; que essas
comissões obsequiosas nomeadas pelo Governo raras vezes prestam-se ao cabal
desempenho de seus misteres; que um hospital assim constituído teria de
exclusivamente pesar sobre os Cofres da Província, quando por ventura não fosse
suprimido por qualquer eventualidade, ocorreu-me que lhes dada uma existência
mais vital e duradoura revestindo sua administração de um caráter e prestígio
religioso, e que por isso a criação nesta Capital de uma Santa Casa de
Misericórdia, a cargo de cuja mesa administrativa viesse a ficar o dito
hospital, preencheria mais normalmente os fins a que se o destina; ao mesmo
tempo em que esta com maior solicitude e rigoroso dever promoveria os meios de
mantê-lo, e torná-lo estável, além da incontestável vantagem de conservar-se
uma instituição de tal categoria, e cuja base é a prática dos salutares
princípios de caridade, em uma Capital recente, onde sequer não exige uma só
Corporação Religiosa.” [2]
A empreitada para organizar uma Santa Casa em Aracaju foi um
fracasso. A filantropia social já estava em declínio na Província de Sergipe em
meados do século XIX. Mesmo assim, para a construção do hospital, o Governo
pede ajuda aos proprietários e capitalistas da província, conforme atesta o
ofício circular, datado de 04 de julho de 1861. Não encontramos referências
quanto ao possível valor arrecadado. Na realidade, o hospital foi construído
praticamente com recursos públicos. Sobre os gastos do Tesouro com a construção
do hospital “Nossa Senhora da Conceição”, assim se pronuncia o Presidente da
Província, Dr. Thomaz Alves Júnior:
“Esta obra contratada com Joaquim José Alves Guimarães está
concluída. Além dos 7:000$000, valor do contrato, despendeu-se mais com a
pintura —316:500 — com o aterro de um grande buraco — 390:000 — e com o cercado
do quintal se deve despender 200:000.”[3]
O Hospital “Nossa Senhora da Conceição” (atual Santa Isabel),
começou a funcionar na Rua Aurora (atual Rua da Frente), no trecho em entre as
ruas de Estância e Maroim, em 16 de fevereiro de 1862, no governo do Presidente
Joaquim Jacinto Mendonça.
Após muita discussão, o hospital foi entregue para ser
administrado a uma comissão nomeada pelo Governo da Província, de acordo com o
“Regulamento” aprovado em 10 de fevereiro de 1862. Para sua manutenção, o
Presidente entregou as rendas do recém-construído cemitério de “Nossa Senhora
da Conceição” (atual cemitério Santa Isabel), que começou a funcionar em
27/02/1862. A Comissão Administrativa, sua composição e competência foram
definidas pelo Regulamento[4]
do Hospital.
“Esta comissão, da qual será tesoureiro nato o tesoureiro
provincial, será composta deste e de mais seis cidadãos probos e conceituados
dentre os quais designará o Governo um para Diretor e outro para Secretário.”[5]
Houve muita polêmica quanto a quem deveria ser entregue a
administração do novo hospital, pois havia setores que defendiam que a saída
não seria a criação de uma Santa Casa de Misericórdia, houve uma tentativa
frustrada; más entregar o hospital a uma instituição religiosa já existente,
como a “Irmandade do Santíssimo Sacramento”, o que também não deu certo. Como vimos,
o hospital findou sendo entregue a uma comissão nomeada pelo Governo e
funcionando quase como uma “Repartição Pública”. O hospital era visto como uma
instituição que revelava o espírito de caridade dos homens e o seu estado
civilizatório.
A construção do cemitério “Nossa Senhora da Conceição” (atual
Santa Isabel), que será uma das fontes de renda para o hospital, só foi
possível graças a recursos enviados pelo Imperador Pedro II e pela colaboração
da “Sociedade de São José dos Artistas”, que ofereceu vinte oficiais pedreiros
com os respectivos serventes, para que trabalhassem gratuitamente até o final
das obras.
Também para a manutenção do Hospital, o Barão de Maruim (João
Gomes de Melo) doou um terreno na rua da feira, para que a administração do hospital
construísse uma “casa de mercado”, que passaria a ser mais uma alternativa de
renda para o Hospital. O primeiro mercado de Aracaju pertenceu ao Hospital
Santa Isabel.
O Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça (1862) nomeia para
dirigir o hospital “uma comissão composta de sete cidadãos prestantes e
zelosos, cuja dedicação e caridade são proverbiais”[6],
assim constituída: Presidente, Dr. Joaquim José de Oliveira; Secretário,
Tenente Coronel Manoel Diniz Vilas-Boas; Tesoureiro, Major João Manoel de Souza
Pinto, e mais, o Tenente Coronel Antonio Carneiro de Menezes, o Capitão Antonio
Rodrigues das Cotias, o Capitão José Pinto da Cruz e o Alferes Antonio José
Pereira Guimarães. Foi essa a primeira diretoria do atual Hospital “Santa
Isabel”.
No seu primeiro ano de funcionamento, o Hospital de Caridade de
Aracaju atendeu 442 pacientes, sendo as enfermidades sifilíticas, as afecções
do peito e as sezões traumáticas as moléstias mais freqüentes. O Hospital
contava com três enfermarias: São Roque, Santa Isabel e São Sebastião
(militar), e possuía em torno de 60 leitos. O médico do Hospital, Dr. Francisco
Sabino Coelho Sampaio, que também exercia as funções de cirurgião, cedeu cinco
meses dos seus vencimentos para ajudar o funcionamento do hospital.
[1] Relatório com que foi entregue à administração da
Província de Sergipe, no dia 07 de março de 1858, ao Dr. Manoel da Cunha Galvão
pelo Dr. João Dabney D’Avellar Brotero.
[2] Relatório do Presidente da Província, Dr. João
Dabney D’Avelar Brotero, em 07 de março de 1859, ao passar o Governo ao Dr.
Manoel da Cunha Galvão.
[3]
Relatório apresentado à Assembléia Provincial, em 04 de março de 1861, pelo
Presidente da Província, Dr. Thomaz Alves Júnior.
[4]
Regulamento aprovado pelo Presidente da Província, Joaquim Jacinto Mendonça, em
10 de fevereiro de 1862, de acordo com o previsto no artigo 4o, da
Resolução Provincial n.º 498, de 24 de maio de 1858.
[5]
Artigo 2o do Regulamento do Hospital Nossa Senhora da Conceição.
[6]
Relatório do Presidente, Joaquim Jacinto de Mendonça, em março de 1863.
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