sexta-feira, 13 de setembro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. OS PRIMEIROS DOUTORES.


 Itabaiana – 350 anos. Os primeiros doutores.
(por Antonio Samarone)

No final do século XIX, Itabaiana recebeu o primeiro médico a se estabelecer na cidade: o lagartense Manuel Batista Itajay. Formado na Bahia em 1886. Começou clinicando e vendendo remédios em Itabaiana. Espertamente, Itajay casou-se com Dona Carlota, filha do líder político Capitão Manuel Ferreira.

Foi o que Itajay precisava para entrar na política. Mandou e desmandou por 15 anos, até chegar a vice-governador. Entrou numa conspiração, assumiu o governo, mas logo foi deposto e caiu em desgraça. Faleceu logo depois, em 1918. O desmembramento de Campo do Brito, foi uma punição aos atos de Itajay.

Ia falar do médico Itajay, terminei falando do político. Foi ele que implantou as disputas acirradas na política de Itabaiana, fazendo frente ao Coronel Sebrão.

A maior obra do Doutor Batista Itajay em Itabaiana, foi proibir que os tabaréus viessem para as feiras de ceroula. O meu avô, Totonho de Bernardinho, nunca o perdoou por isso.

No início da segunda metade do Século XX, a medicina ainda engatinhava em Itabaiana. Poucos médicos e uma medicina voltada para cuidados genéricos.

O médico oficial de Itabaiana, o único, a partir da década de 1930, foi Gileno Lima Costa. Natural de Riachão dos Dantas, formado em 1931, na Bahia. Um doutro atencioso, dedicado aos seus pacientes, não se negava de ir a cavalo aos povoados, atender a partos complicados. Entretanto, sem maiores recursos.

Gileno Costa viveu em Itabaiana até 1956. O Dr. Gileno Costa ajudou na construção do modestíssimo Hospital Rodrigues Dórea.

Entretanto, a maior obra de Gileno Costa, foi a construção da Associação Atlética de Itabaiana, inaugurada em 1948. Eram os primeiros passos de uma vida urbana.

O humanista Pedro Garcia Moreno, neto do Monsenhor Daltro, do Lagarto, chegou a Itabaiana em 1949. Foi um pai para a pobreza. Atendia a todos, com alegria. Aliás, foi ele que concluiu o meu parto. Demorei a nascer com a parteira. Doutor Pedro merece uma história a parte. Se meteu na política, no futebol. Levou o espiritismo para Itabaiana. Dr. Pedro faleceu em 1990, aos 68 anos.

Na década de 1950, viveu e clinicou em Itabaiana outro médico baiano: Remato Mazze Lucas. O meu patrono na Academia Sergipana de Medicina. Um intelectual inquieto. Casou-se com Dona Helena, uma princesa do Carira. Em Itabaiana, Dr. Mazze Lucas teve os seus filhos, apaixonou-se pelo tremendão da Serra, e fundou instituições Culturais (Glei). Muito amigo de Antonio de Dóci.

O Dr. Ormeil Câmara de Oliveira, baiano, chegou a Itabaiana por volta de 1956, trazido por Euclides Paes Mendonça, para equilibrar os serviços médicos. Trouxe um médico para a UDN.

Em 1967, chegou a Itabaiana outro médico baiano, Airton Millet, para trabalhar no SESP. Se adaptou a cidade, e aqui criou a sua família. Foi "maçone" e rotariano. Faleceu em 2011, aos 82 anos.

Entretanto, a medicina em Itabaiana precisou esperar até 1970, para dar o seu grande salto: em 17 de fevereiro de 1970, chegava outro médico baiano: Raulino Galrão Lima, um apaixonado pela medicina.

Concluído o curso de medicina, casado, com filhos, Raulino recebeu uma visita surpreendente: a Irmã Rafaela Pepel vai a Salvador convidá-lo para vir assumir a Maternidade São José, em Itabaiana, inaugurada em 01 de novembro de 1959.

Desde 1963, a maternidade era administrada pela Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição (a mesma da Irmã Dulce): Evencia Vasconcelos (parteira), Maria Auxiliadora, Maria Acácia e Rafaela. Bateu a dúvida: como oficial da polícia poderia acomodar-se, ficar no corpo médico da corporação; mas a proposta de Itabaiana parecia atraente.

Raulino procurou os sergipanos Reginaldo Silva e José Augusto Lisboa, seus colegas de turma, para aconselhar-se, não deu outra, pediu licença da polícia, e em 17 de fevereiro de 1970, estava chegando a Itabaiana, para começar uma nova vida. Encontrou dois colegas residindo na cidade: Pedro Garcia Moreno e Ormeil Câmera de Oliveira.

Raulino fez uma revolução na assistência médica em Itabaiana. Corajoso, preparado, passou a fazer os partos normais e complicados, reativou o velho Hospital Rodrigues Dória, começou a realizar todos os tipos de cirurgia. Ele fazia a anestesia e operava sozinho.

Iniciou o atendimento a 14 municípios da Região, dando por semana seis plantões de 24 horas. Vivia nos hospitais, com uma média semanal de 30 partos. O mais importante, com baixa mortalidade, Raulino fazia de tudo, atendendo sobretudo a população carente.

Em 1973, passou no concurso da Faculdade de Medicina de Sergipe, para a cadeira de obstetrícia, o que facilitou a formação de sua equipe em Itabaiana. Vieram Luciano Siqueira e Guilhermino Noronha para anestesia; depois para a obstetrícia, Cardoso, Carlos Alberto, Antonia, Bosco, Aldevane, Fontes, Edmundo, montando uma equipe de profissionais qualificados.

Raulino abriu tanta gente, operou tantos, que passou a conhecer os sertanejos de Sergipe pela cor do tecido adiposo. A gordura do sertanejo é amarelo-ouro, intensa, diferente, mais apurada, conta Raulino... Francisco Rollemberg, outro grande da cirurgia em Sergipe, presente na entrevista, confirmou balançando a cabeça.

Dr. Raulino virou ceboleiro, entrou para a política, foi vereador em Itabaiana por dois mandatos, deputado estadual, e presidente do IPES durante o Governo de Albano Franco.

Em 1993, aos 56 anos, Raulino recebeu o diploma de bacharel em direito. Em seguida foi aprovado na prova da OAB, assumindo a condição de advogado, passando a exercer à lide jurídica, em especial na defesa dos colegas médicos quando precisam responder à justiça.

Somente em 2015, após 45 anos de bons serviços prestado ao povo da Região de Itabaiana (14 municípios), de ter sido presidente da Associação Olímpica de Itabaiana, ter participado do Rotary, virado ceboleiro, é que Raulino mudou-se para Aracaju.

Em novembro desse ano, a Academia Sergipana de Medicina vai a Itabaiana, prestar homenagens aos médicos Itabaianenses. Hoje, são muitos e bem formados. Sem esquecer o passado.

Antonio Samarone – médico sanitarista (natural do Beco Novo).

Ps: Dois médicos estão na foto: Pedro Garcia Moreno e Renato Mazze Lucas.

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