Freud e a Poesia.
(por Antonio Samarone)
Ontem, encontrei numa mesa de cafezinho, no Shopping, um poeta em carne e osso. Um filho de Apolo! Além de poeta, o mal-assombrado é jornalista. E dos bons.
Para impressioná-lo, perguntei-lhe se conhecia a interpretação freudiana da poesia. Claro que não, respondeu-me de pronto: “imagina, nem os psicanalistas!”
Fomos numa livraria próxima e ele comprou um livro que esmiúça o assunto. Eu já tinha o livro e, hoje cedo, reli o capítulo sobre poesia. Até onde entendi, segue uma síntese:
De onde os poetas extraem os seus temas, como eles conseguem comover, despertar-nos emoções? Como ocorre a criação poética?
Em cada um de nós existe um poeta escondido? Toda a criança brincando, se comporta como um poeta, cria o seu próprio mundo?
O poeta é uma criança que brinca, criando um mundo de fantasia que leva a sério. Quando crescemos, transferimos o prazer de brincar para a fantasia. Não renunciamos a nada, construímos castelos no ar, sonhos diurnos.
As crianças brincam de ser grande. Já os adultos escondem as suas fantasias, os seus desejos (aqui, Freud simplifica: os desejos ou são de ambição, ou eróticos). Essa primazia do Eros, talvez fosse a expressão do fim do puritanismo da Era Vitoriana – 1837/1901.
A psiquiatria de mercado tenta fragilizar a psicanálise, enfatizando essa obsessão de Freud pela questão sexual, como sendo exagerada. Talvez seja um ponto fraco. Porém, em nada reduz a sua importância, para o entendimento da alma humana.
Os nossos sonhos noturnos nada mais são que essas fantasias. As fantasias, em geral, abrem espaços para as neuroses e as psicoses, são os desejos recalcados enviados para o inconsciente.
Nos poetas, as fantasias alimentam os sonhos.
Todas as criações poéticas são sonhos diurnos ou somente os poemas ingênuos? A preciso separar as fantasias decorrentes dos desejos, das criadas nas obras dos poetas. É preciso relacionar as criações poéticas com a vida dos artistas, com o despertar de vivências infantis. Uma continuação das brincadeiras.
Freud desafia a se buscar a origem dos temas escolhidos pelos poetas em suas fantasias. O Velho Bruxo deixa sem explicações, os fenômenos afetivos que desperta as criações poéticas.
Se um simples mortal nos contar o que ele esconde em seus sonhos diurnos, revelar as suas fantasias, não despertará o menor interesse. Por outro lado, se um poeta cantar as suas fantasias, nos leva ao prazer e ao encantamento.
Em que consiste a Ars poetica?
Eu não sei responder. Peço ao poeta citado que nos esclareça. Não basta dizer que é um raro talento, congênito, que Deus premia a alguns, a quem ele achar que merece.
Antonio Samarone. (médico sanitarista).
Nenhum comentário:
Postar um comentário