quinta-feira, 15 de agosto de 2024
A FLOR DA PELE (PARTE II)
A flor da pele. (parte II)
(por Antonio Samarone)
“É em vão que vagais pelas ciências/ Cada qual aprende somente o que pode aprender.” Mefistófeles.
Precisamos de muito tato para viver, ou seja, sensibilidade, para a convivência (contato) com os outros. O isolamento social da pandemia espantou o outro. Não voltaremos ao que era, que já não era lá essas coisas.
As metáforas sobre o tato são numerosas. Quando nos envolvemos em missões perigosas, arriscamos a nossa pele. Quando maltratamos alguém, estamos tirando-lhe o couro.
O casamento era antecedido ao pedido da mão da noiva. Estender a mão é ser solidário. Estar na mão de outro, é a completa subordinação. Algumas pessoas devem ser tratadas com luvas de pelica. Outros são “cascas grossas”, toscos.
Catar piolhos e cafuné são modos ancestrais de toque, herança dos símios. Infelizmente, não se catam mais piolhos. Os piolhos estão em extinção. O Neocid venceu! A despiolhação já foi uma atividade profissional. As catadoras de piolho encontravam lêndeas, nas raízes profundas dos delicados fios de cabelo.
Tocar com as mãos é uma forma de cura, na medicina popular. Os Reis da França curavam as escrófulas, pela aposição das mãos. O toque terapêutico. Tocar é uma subjetividade. Isso não me tocou, se diz quando não gostamos de uma manifestação cultural.
Todas as situações de sofrimento pode beneficiar-se das massagens: dores físicas e emocional, das doenças autoimunes ao câncer. Elas restauram a soberania, a calma.
A medicina humanizada cuida das pessoas, e o cuidado pressupõe o toque. A medicina de mercado oferta procedimentos. A criança hospitalizada é tocada, mimada e acariciada sem qualquer constrangimento.
Os idosos imploram o toque!
Na Índia, os párias, entre muitas restrições, são intocáveis. Antes do DNA, as pessoas eram identificadas pelas impressões digitais.
A Pandemia impôs o isolamento social, o confinamento, e em casos mais graves o lockdown. Ninguém tocava em ninguém.
“O tato é o menos compreendido dos sentidos, e o mais humano deles. Os gregos, os felinos e os pintores compreenderam a visão; os hebreus, às aves e os músicos compreenderam a audição; os indianos, os elefantes e os cozinheiros compreenderam o gosto; os franceses, os cães e os perfumistas compreenderam o olfato. Somente o tato precisa da ajuda de todos os outros para ser compreendido e, mesmo assim, muito precariamente.” Dr. Átalo.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
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