O Silêncio das Sereias.
(por Antonio Samarone)
Eu sei, o título é um conto de Franz Kafka.
Quando Ulisses tapou os ouvidos com cera e amarrou-se no mastro do navio, para resistir ao canto das sereias, ele estava fundando a racionalidade ocidental.
Antes, deuses, natureza e homens eram a mesma substância. Os mitos explicavam o mundo.
Primeiro houve a separação. Depois os homens procuraram dominar a natureza, e tornaram-se a imagem e semelhança de Deus. Com o iluminismo, venceu a razão. O passo seguinte, foi a eliminação de Deus.
Hoje, substituímos a cera de Ulisses pelos fones de ouvidos.
A vida foi dessacralizada. O homem virou a medida de todas as coisas. Esse desencantamento virou correria em busca de nada. Como diz Byung-Chul Han, criamos a sociedade do cansaço.
Ne velhice, percebo o descaminho que tomamos. Em meu exercício pelo desapego, noto a urgência do reencantamento. Deus é a natureza e vice-versa. Só salvamos a humanidade da extinção precoce, se enfrentarmos a crise climática.
Os dinossauros duraram 150 milhões de anos, até o choque da terra com o meteorito. O Homo sapiens apareceu a 100 mil anos. Geologicamente, somos recém chegados. E já estamos indo embora.
Quem ainda acha que a terra não está esquentando, não passou por Aracaju esses dias.
Outra coisa, achar que a consciência, a alma, a psique, seja lá o nome que se prefira, é fruto da evolução darwinista é pura tolice. Alma e psique em francês tem a mesma denominação: “l’amê”.
A razão me levou de volta a metafísica. A ciência não esclareceu o que somos, nem pode, a ciência trata dos fenômenos naturais.
Achar que a alma é fruto da evolução do cérebro é uma fé mais improvável que a atribuir a divindade.
No grego antigo, “psykhé” é alma.
Enquanto esperamos a Terceira Guerra, dessa vez nuclear, assinei o manifesto pelo reencantamento da vida. Acho que o Armagedom está a caminho.
Eu quero ouvir o Canto das Sereias!
Antonio Samarone. Médico sanitarista.
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