sábado, 25 de novembro de 2023

CUBA LIBRE


 Cuba libre...
(por Antonio Samarone)

Aos 15 anos, a vida era simples. Eu desconhecia os livros. No Beco Novo, somente Beijo de Seu Bebé dos Passarinhos, poderia se considerar um leitor. As leituras de Benjamim pareciam pedantismo, para a nossa barbarie.

Quem me apresentou aos papiros, foram os amigos da Praça da Igreja. Meninos de classe média, que estudavam em Aracaju, ouviam a Radio Central de Moscou e a BBC de Londres.

Foi com eles que ouvi falar do comunismo e conheci uma delicia dos alimentos industrializados: o biscoito cream-cracker.

O pai de Tuca, comprava as latas de cream-cracker Aymoré, que eu conheci aos 15 anos, na casa dele. Escondi uns dois no bolso, para não passar por mentiroso no Beco Novo. Gente! Além dos bolachões de Zé Gordinho, existiam os brioches, cheguei me gabando.

Foi com os amigos ricos da Praça, que eu também conheci os livros. Como eu não queria ficar por baixo, passeie a frequentar a Biblioteca da Paróquia, que emprestava livros.

O meu primeiro choque, foi a leitura de Sidarta, de Hermann Hesse. Pura filosofia oriental. O personagem Sidarta, era amigo de Buda, o Sidarta Gautama. Sidarta era amigo de Jung, e fazia reveleçãoes desconcertantes. A felicidade estava na vida simples, em contato com a natureza.

Era preciso ouvir os rios. Nunca entendi, mas achava inteligente. Hoje entendo, que essas enchentes dos rios, invadindo cidades, desalojando gente, são os rios aborrecidos, por não serem escutados.

Antes de conhecer Marx, conheci Buda e a filosofia oriental.
Agora eu poderia entrar nas conversas com os amigos da Praça.

Dizia de boca cheia: eu estou lendo Sidarta. Como se sabe, Hermann Hesse teve grande influencia no movimento Hippie.

Eu nunca soube de Hippies em Itabaiana, mas tinha muitos simpatizantes cabeludos. Eu achava que quem usava calça Lee, as verdadeiras, compradas em São Paulo, eram hippies chick.

Duas coisas que os meninos da praça faziam, que nunca chegou para o meu bico: dançar e beber Cuba-libre.

Eu nasci com o complexo de desengonçado, nunca aprendi a dançar. E Cuba libre, uma mistura de Rum Montilla e Coca-Cola, estava fora do meu alcance.

Das coisas da Praça, ficaram os livros. Foram eles que me abriram às portas das Universidades.

Lembro-me vagamente que ainda li “O Lobo da Estepe”, uma denúncia da sociedade burguesa, mas não lembro-me de quase nada.

Li Hemann Hesse, escritor alemão, que recebeu o Nobel de Literatura em 1946, ainda na adolescência. Hoje, parece gabolice.

Antonio Samarone – Médico sanitarista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário