terça-feira, 18 de outubro de 2022

BATISTA ITAJAY

 Gente Sergipana.
(por Antonio Samarone)

Manoel Batista Itajay (1859 – 1918), médico lagartense, formou-se na Bahia, em 1886. Chegou à Itabaiana em 1888, montou consultório e farmácia, na Praça da Feira.

Assumiu a delegacia de polícia em 1889, implantando uma rigorosa política de costumes. Proibiu que os tabaréus andassem de ceroulas na cidade. Foi um Deus nos acuda: os homens, mal-acostumados com os celourões folgados, tiveram que vestir calças.

Os meninos, até um dia desses, vestiam um “chambre”, um vestidinho de algodão, fechado, branco, unissex. Eu vesti calça comprida aos sete anos.

Batista Itajay casou-se com Carlota Alves Teixeira, uma fidalga da terra, facilitando a sua entrada na política, tornando-se o chefe local dos Cabaús, liderado por Olímpio Campos.

Batista Itajay foi delegado de Higiene em 1899 e depois eleito Intendente de Itabaiana (1900 – 1901), vice-governador (1908 – 1911). Foi deputado estadual por várias legislatura.

No cargo de vice-governador, Batista Itajay se meteu em uma grande confusão.

A chapa Rodrigues Dória/ Batista Itajay tomou posse no governo em 24 de outubro de 1908. Rodrigues Dória era propriaense, um borboletão de hábitos sofisticados, intelectual, professor da faculdade de medicina na Bahia, não se adaptou à vida provinciana.

Para completar, o senador eleito por Sergipe, Desembargador Guilherme de Campos, estava enfrentando dificuldades para o reconhecimento da sua eleição. Isso assanhou Rodrigues Doria, louco pelo Senado, para ir morar no Rio de Janeiro.

Em 10 de julho de 1909, para facilitar a sua ambição pela cadeira de Guilherme de Campos, o Dr. Dória arrumou uma doença e partiu para a Bahia. Rodrigues Dória deixou uma carta renuncia assinada com o Secretário Geral do Governo, Nobre de Lacerda. Caso resolvesse renunciar, mandaria a autorização para publicá-la.

Na prática, ele estava contando tempo de desincompatibilização. Caso a vaga no Senado continuasse vaga, ele estaria apto para disputá-la. Foi uma “renúncia” interesseira. Não foi por ingenuidade.

Rodrigues Dória estava enfastiado com a vida sergipana, queria o Senado. Rodrigues Dória era um solteirão erudito, viciado em teatro, música clássica e viagens a Paris. Aracaju no começo do século XX, tinha poucos atrativos culturais.

O diabo atentou, e Batista Itajay publicou a carta de renúncia, sem autorização do renunciante, e assumiu o governo em definitivo. Foi um corre-corre. Foram buscar Rodrigues Dória no laço, para ele reassumir à força. Ainda tacharam Itajay de traidor. O desgaste de Itajay foi enorme.

Rodrigues Dória era um homem mufino, medroso, não enfrentava o estado maior dos cabaús, gente bruta e decidida. Se diz em Itabaiana, em defesa do seu líder, que Dória autorizou a Nobre de Lacerda, seu amigo, que publicasse a renúncia. Quando a bomba explodiu, ele negou a autorização e reassumiu o governo, com a ajuda de forças federais.

Em 13 de novembro de 1909, as forças federais reempossaram Rodrigues Dória no Governo e começou o declínio de Itajay.

Rodrigues Dória, mesmo sem suportar a vida em Sergipe, concluiu o mandato com impaciência. Renomeou o mesmo Nobre de Lacerda, para cargo de Secretário Geral. Dória desconhecia Sergipe e a administração pública. Ele só conhecia três cidades: Propriá, Laranjeiras e Aracaju.

No final, o Professor Rodrigues Dória passou faixa de governador para o General Siqueira de Menezes, que nem era peba, nem cabaú.

"O Dr. Itajay era um homem pessoalmente bom, talvez um tanto ingênuo, que depois de conquistar o título na Faculdade de Medicina não procurou progredir, vivendo em Almas de Itabaiana. Não tinha cultura e desembaraço para mover-se sozinho, e quando lhe faltou o assessor, o espírito santo de orelha, encolheu-se sobre si mesmo, ficando politicamente inutilizado. Após grandes abalos porque passou, apresentou sinais de doença gástrica irreversível, e veio a falecer com grandes padecimentos, em 31 de janeiro de 1918." - Edilberto Campos,

Apagou-se o facho de Itajay. Desgastado, idoso para a época, sem a proteção dos Cabaús, avançou para o declínio e a morte. Faleceu em 1918, em Aracaju, aos 59 novos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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