quarta-feira, 19 de julho de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Hamilton Maciel



Hamilton Maciel (77 anos) – Natural de Jaciobá, a mais sergipana das cidades alagoanas. Filho de Seu Milton e Dona Albertina, nasceu em 22/10/1940. Até os 15 anos, viveu as delícias de ser um ribeirinho do São Francisco (antes das represas).  Conheceu as vadiagens, os mistérios, as assombrações do rio e espantou-se com as suas enchentes. Estudou no Grupo Escolar (escola de ricos e pobres). Foi coroinha do Padre Jasson, e ajudou missa em latim. Pensou seriamente em ser Frade, inspirado pelo Santo Frei Damião, um tridentino que pregava pelos Sertões. Na política local, sua família era udenista, ou seja, adversária do Coronel Elísio Maia, senhor de baraço e cutelo, e comandante de uma imensa jagunçada.

Na adolescência foi estudar em Maceió. Logo cedo envolveu-se com o movimento estudantil e com os revolucionários da época. Filiou-se ao Partidão, fez parte das células clandestinas, lutou pelas reformas de base, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaciobá. O seu envolvimento chegou a tal ponto, que quando foi casar com Glorinha, já no altar, o padre se negou a realizar a cerimonia, alegando que não casava comunista ateu. As pressas, foram na cidade vizinha buscar um padre mais moderado.

Inteligente, inquieto, o Dr. Hamilton Maciel formou-se primeiro em odontologia (1964); foi empregado dos Correios e Telégrafos; e só depois, resolveu fazer o curso de medicina, concluindo em 1971, aos 31 anos de idade. Durante o curso, houve uma identificação com a psiquiatria. Já casado e com família, em 1972, o Dr. Hamilton Maciel aceitou o convite do Secretário da Saúde de Sergipe, Dr. Jorge Vieira, e vem dirigir o hospital Adauto Botelho, na época, um dos grandes problemas da Saúde Pública no Estado. Um hospital com 120 leitos, abrigando 470 loucos ou enlouquecidos.

Com o seu jeitão amigueiro, vontade de trabalhar, decência, sede de conhecimentos, o Dr. Hamilton foi conquistando os sergipanos. Caiu nas graças do grande morubixaba da psiquiatria sergipana, o Dr. Garcia Moreno. Foi logo convidado para ser auxiliar de ensino de medicina legal e deontologia na UFS. Indicado para o Conselho Penitenciário. Fundou em Sergipe o primeiro grupo de Alcóolicos Anônimos (AA), mesmo sem ser alcoólatra, como custodiante, (hoje existe mais de cem AA em Sergipe). Seu empenho o conduziu a ser o presidente nacional dos AA. Um trabalho anônimo e eficiente de assistência e apoio aos dependentes.

A sua capacidade de liderança e a sua inquietude conduziram-no para múltiplas tarefas. Organizou grupos de estudos de psiquiatria (década de 1970), fundou a Sociedade Sergipana de Psiquiatria, foi Presidente do Conselho Regional de Medicina, Presidente da Sociedade Médica de Sergipe, participou da fundação da Academia Sergipana de Medicina; e no momento, como coroação de uma vida dedicada as lutas dos médicos, é o Presidente da Federação Nacional de Academias de Medicina. Carregou ao longo da jornada a bandeira da criação de uma Ordem Médica, a exemplo dos advogados. Em 1979 fundou a Clínica de Repouso São Marcelo, que continua prestando bons serviços à comunidade.

O Dr. Hamilton Maciel, por sua amizade com Seixas Dória, se meteu na política. Foi Presidente do PMDB, suplente de Senador e Secretário Estadual da Saúde. Entrou e saiu sem uma mancha. Para os mais jovens, o Dr. Hamilton Maciel é o pai de Helvinho, de Zaíra, Herardes e Hamilton Filho; avô de uma dezena de netos e marido da Dra. Maria Glória, também psiquiatra.


O Dr. Hamilton Maciel é sergipano por adoção. Um bom papo, culto, engajado nas boas causas, sempre cordial e ameno. Uma raridade na vida da Província: não ter inimigos nem ser motivos de fofocas e malquerenças. 
Antonio Samarone.

Nenhum comentário:

Postar um comentário