Hamilton Maciel (77 anos) –
Natural de Jaciobá, a mais sergipana das cidades alagoanas. Filho de Seu Milton
e Dona Albertina, nasceu em 22/10/1940. Até os 15 anos, viveu as delícias de
ser um ribeirinho do São Francisco (antes das represas). Conheceu as vadiagens, os mistérios, as
assombrações do rio e espantou-se com as suas enchentes. Estudou no Grupo
Escolar (escola de ricos e pobres). Foi coroinha do Padre Jasson, e ajudou
missa em latim. Pensou seriamente em ser Frade, inspirado pelo Santo Frei
Damião, um tridentino que pregava pelos Sertões. Na política local, sua família
era udenista, ou seja, adversária do Coronel Elísio Maia, senhor de baraço e cutelo,
e comandante de uma imensa jagunçada.
Na adolescência foi estudar em
Maceió. Logo cedo envolveu-se com o movimento estudantil e com os
revolucionários da época. Filiou-se ao Partidão, fez parte das células
clandestinas, lutou pelas reformas de base, participou da fundação do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Jaciobá. O seu envolvimento chegou a tal ponto, que
quando foi casar com Glorinha, já no altar, o padre se negou a realizar a cerimonia,
alegando que não casava comunista ateu. As pressas, foram na cidade vizinha
buscar um padre mais moderado.
Inteligente, inquieto, o Dr.
Hamilton Maciel formou-se primeiro em odontologia (1964); foi empregado dos
Correios e Telégrafos; e só depois, resolveu fazer o curso de medicina,
concluindo em 1971, aos 31 anos de idade. Durante o curso, houve uma
identificação com a psiquiatria. Já casado e com família, em 1972, o Dr.
Hamilton Maciel aceitou o convite do Secretário da Saúde de Sergipe, Dr. Jorge
Vieira, e vem dirigir o hospital Adauto Botelho, na época, um dos grandes
problemas da Saúde Pública no Estado. Um hospital com 120 leitos, abrigando 470
loucos ou enlouquecidos.
Com o seu jeitão amigueiro, vontade
de trabalhar, decência, sede de conhecimentos, o Dr. Hamilton foi conquistando
os sergipanos. Caiu nas graças do grande morubixaba da psiquiatria sergipana, o
Dr. Garcia Moreno. Foi logo convidado para ser auxiliar de ensino de medicina
legal e deontologia na UFS. Indicado para o Conselho Penitenciário. Fundou em
Sergipe o primeiro grupo de Alcóolicos Anônimos (AA), mesmo sem ser alcoólatra,
como custodiante, (hoje existe mais de cem AA em Sergipe). Seu empenho o conduziu
a ser o presidente nacional dos AA. Um trabalho anônimo e eficiente de assistência
e apoio aos dependentes.
A sua capacidade de liderança e a
sua inquietude conduziram-no para múltiplas tarefas. Organizou grupos de
estudos de psiquiatria (década de 1970), fundou a Sociedade Sergipana de Psiquiatria,
foi Presidente do Conselho Regional de Medicina, Presidente da Sociedade Médica
de Sergipe, participou da fundação da Academia Sergipana de Medicina; e no
momento, como coroação de uma vida dedicada as lutas dos médicos, é o
Presidente da Federação Nacional de Academias de Medicina. Carregou ao longo da
jornada a bandeira da criação de uma Ordem Médica, a exemplo dos advogados. Em
1979 fundou a Clínica de Repouso São Marcelo, que continua prestando bons
serviços à comunidade.
O Dr. Hamilton Maciel, por sua
amizade com Seixas Dória, se meteu na política. Foi Presidente do PMDB,
suplente de Senador e Secretário Estadual da Saúde. Entrou e saiu sem uma
mancha. Para os mais jovens, o Dr. Hamilton Maciel é o pai de Helvinho, de Zaíra,
Herardes e Hamilton Filho; avô de uma dezena de netos e marido da Dra. Maria
Glória, também psiquiatra.
O Dr. Hamilton Maciel é sergipano
por adoção. Um bom papo, culto, engajado nas boas causas, sempre cordial e ameno. Uma raridade na vida da Província: não ter inimigos nem ser motivos de
fofocas e malquerenças.
Antonio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário