A arte de curar.
(por Antonio Samarone)
O velho médico tisiologista, Alfredo Barreto, músico e poeta, amante das artes e da filosofia, está querendo saber sobre a Inteligência artificial. “Que diabo é isso”?
O doutor Alfredo é filho do iluminismo e um crente apaixonado pela ciência. Sempre acreditou nas promessas do modernismo. Em sua longa e bem sucedida carreira de médico, viu a ciência substituir os cirurgiões por robôs, o genoma ser decifrado, os bebês de proveta, crianças clonadas, os laboratórios passarem a produzir mosquitos, vírus, vacinas de RNA, e outras presepadas.
Alfredo viu a ciência descobrir a cura da tuberculose, e extinguir a sua especialidade. Dois anos perdidos, estudando a peste branca, em Manguinhos.
O Dr. Alfredo Barreto (quase 90 anos), está em dúvidas sobre a tendência da inteligência artificial substituir a clínica. Não entra na cabeça dele.
O doutor Alfredo fundamentou:
“O pensamento é analógica e afetivo (a comoção é anterior aos conceitos). O pensamento escuta as contradições, compara, erra e conserta, tem dúvidas.”
“A inteligência artificial calcula. Ela é surda, apática e sem paixão. Impossível! Como a inteligência vai acolher os pacientes ou aliviar os sofrimentos.”
“O Big Data estabelece correlações. Tudo se torna calculável. Uma forma primitiva de saber. O pensamento humano vai além de resolver problemas, ele clareia e ilumina o mundo.”
“O risco não é da inteligência artificial suplantar o pensamento humano, são coisas distintas. O risco é inverso, a inteligência humana ser rebaixada ao nível da IA.”
Resolvi polemizar.
Professor, a inteligência artificial avança ruidosamente sobre o trabalho médico. A relação dos médicos deixou de ser com os doentes (médico/paciente). A relação atual é com as doenças.
A chamada desumanização é essa mudança: da relação médico/
paciente, para a relação médico/doenças.
Não tenha dúvidas, Dr. Alfredo, na medicina de mercado, a inteligência artificial saberá calcular a melhor conduta, e indicará com rapidez e precisão, o procedimento de menor custo.
Os doutores da medicina mercantil precisam de “evidências”, e a inteligência artificial não tem dúvidas. A IA é inteligente demais para perder tempo.
O mestre Alfredo Barreto, retrucou com a voz firme: “As doenças são cheias de malícias e caprichos. Não tome como pretensão, mas lembrei-me de Hipócrates. “A vida é breve, a arte é longa e a ocasião fugidia.”
Que se dane a inteligência artificial!
Antonio Samarone – médico sanitarista.
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