sábado, 16 de setembro de 2023

A VOLTA DO PADRE IBIAPINA.


 A volta do Padre Ibiapina.
(por Antonio Samarone)

José Antonio de Maria Ibiapina (1803 – 1883). Ibiapina formou-se Bacharel em Direito, em 1832, aos 26 anos. Assumiu o cargo de Juiz de Direito em Quixeramobim, terra natal de Antonio Conselheiro.

Ibiapina, abandonou a carreira jurídica e ordenou-se padre em 1853, aos 47 anos. Trocou a toga pela batina. Fundou a ordem dos beatos e beatas e percorreu o Sertão nordestino. O padre andarilho. Ouvi dizer que Ibiapina passou por Itabaiana.

O pai do Padre Ibiapina foi fuzilado em 1825, por seu envolvimento com os rebeldes da Confederação do Equador.

Ibiapina passou a percorrer o Sertão nordestino, mobilizando as populações dos lugares por onde passava, para a construção de igrejas, capelas, hospitais, açudes, cacimbas, cisternas, barragens, cemitérios, cruzeiros e Casas de Caridade.

O Padim Ciço e Antonio Conselheiro são discípulos de Ibiapina, cada um ao seu modo. O fenômeno é o mesmo.

As Santas Missões, as romarias, as penitencias, as promessas são inspiradas no catolicismo popular do Padre Ibiapina. Sobretudo os milagres. Sem o temor de Deus, a fé acaba, pregava o Frei Damião.

Os atuais devotos de Santa Dulce em Itabaiana, rezam o mesmo terço. Buscam saídas para as aflições e os sofrimentos na fé, nas orações e na caridade. As Casas de Caridade de Santa Dulce, são heranças do Padre Ibiapina.

O Vaticano II modernizou a igreja, combateu o catolicismo popular, chamou a fé popular de superstição. Deus é amor, diz Roma. Reconheço, é uma formulação profunda, mas o povo busca misericórdia, proteção e esperança. O povo espera milagres.

O Vaticano II revogou o Concílio de Trento.

A missa tridentina era rezada em latim, com o padre voltado para o sacrário, de costa para os fiéis. A bíblia era a traduzida por São Jerônimo, no século VI. A excomunhão e o fogo do inferno mantinham o medo.

Dizem os mais instruídos, a fé não pode ser tributária do medo. Tudo bem. Só que o medo aumentou e as aflições foram generalizadas. Mudaram de nome. A psiquiatria assumiu. O sofrimento humano não precisa mais da redenção. Os remédios estão nas farmácias.

O povo continua esperando milagres. Eu também!

Aqui reside uma contradição: a fé do povo na salvação cresceu, e as igrejas católicas se esvaziaram.

A Expedição Serigy, tida com morta, ressuscitará no início de outubro. Vamos pagar as nossas promessas no Juazeiro do Norte, do Padim Ciço.

Vamos também a Exu e Nova Olinda. Aos esquecidos: Exu de Luiz Gonzaga e Nova Olinda de Expedito Celeiro. Se houver tempo, iremos ao Assaré, de Patativa.

A Expedição Serigy observa a fé popular pelo olhar da Cultura, mas não descuida do sagrado.

A nova trilha da Expedição Serigy não é penitência. Confesso, é muita prazerosa. Vamos em busca de curas milagrosas, sobretudo de rejuvenescimento. As águas medicinais do Caldas, em Barbalha, onde ficaremos, foram abençoadas pelo padre Ibiapina.

A Expedição Serigy retornará ao Nordeste Profundo.

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

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