segunda-feira, 12 de junho de 2023

O CEMITERINHO DA RUA DAS FLORES

 O Cemiterinho da Rua das Flores.
(por Antonio Samarone)

“Eu amo tudo o que foi/ Tudo o que já não é/ A dor que já não me dói/ A antiga e errônea fé.” Fernando Pessoa.

Existia um cemitério no fundo da igreja matriz de Itabaiana. Quem saía do Beco Novo, confrontava o murro desse cemitério. Os vivos e os mortos coabitavam.

Os padres, freiras, membros de confrarias religiosas, autoridades e um ou outro rico, que não queriam enterrar-se no interior da igreja, podiam descansar nesse campo santo, ao ar livre.

O povo de Itabaiana aceitou a destruição desse cemitério, onde descansavam os seus antepassados, com indiferença.

O Cemiterinho foi sepultado durante a prelazia do Monsenhor José Curvelo Soares (1967 – 1975).

No mesmo período, a centenária igreja matriz foi deformada com uma reforma e as valiosas imagens dos Santos de Itabaiana, foram doadas ao Museu Sacro de São Cristóvão.

O Monsenhor Soares ignorou as tradições e a história da Paróquia de Santo Antonio (1675), a segunda mais antiga de Sergipe.

Com o fim do Cemiterinho e a troca do piso da Matriz, entre as memórias apagadas, ressalta-se a sepultura do Monsenhor Domingos Mello Resende, que conduziu a Paroquia por 50 anos, entre 1852 e 1902.

A Arquidiocese de Aracaju, bem que poderia devolver essas imagens sagradas e preciosas da Paróquia de Itabaiana. Deixar no museu sacro de São Cristóvão, as imagens dos Santos da antiga Capital.

“Não havia uma separação radical, como temos hoje, entre a vida e a morte, entre o sagrado e o profano, entre a cidade dos vivos e a dos mortos.” – João Reis.

O Cemiterinho era um ponto de encontro entre os vivos e entre os vivos e os mortos.

Temia-se a morte súbita, a morte de repente, inesperada, onde não houvesse tempo para os arrependimentos.

O muro de Cemiterinho era ponto de desocupados, seresteiros, fofoqueiros, aposentados e saltimbancos noturnos. O fundo do Cemiterinho era um palco para os boêmios e para os apaixonados.

“O objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.” – Freud.

Antonio Samarone – (médico sanitarista)

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