segunda-feira, 12 de junho de 2023

AS VERDADES DO MONSENHOR

 As Verdades do Monsenhor.
(por Antonio Samarone)

Na década de 1970, eu ensinava biologia no Colégio Arquidiocesano para manter os estudos de medicina na UFS. Ensinava para sobreviver.

Deparei-me com uma polêmica. Na época, os livros de biologia passaram a trazer um capítulo sobre Charles Darwin e a sua revolucionária “Teoria da Evolução”. Como ensinar, num colégio católico, que a bíblia tinha errado em sua teoria criacionista?

A visão bíblica afirma que Deus criou o homem e deu-lhe plenos poderes sobre a Terra. O homem é a imagem e semelhança de Deus. O homem tem o domínio sobre as coisas vivas e inanimadas.

Darwin, naturalista inglês, havia publicado a Origem das Espécies (1859) e a Descendência do Homem (1871), desmontando as verdades bíblicas. O baque foi grande!

Se a retirada da Terra do centro do Universo, por Copérnico e Galileu, já fora um grande problema, agora, Darwin retira o homem do centro da criação.

A partir da década de 1970, essa polêmica chegou aos currículos escolares, aqui em Sergipe. Virou assunto de sala de aula.

O homem deixava de ser a imagem e semelhança de Deus e tornava-se mais uma espécie, que tivera a mesma origem que os demais viventes. A vida surgiu na Terra há cerca de 4 bilhões de anos, como uma bactéria, na sopa primordial.

E nós, Homo sapiens, surgimos há bem menos tempo, cerca de cem mil anos. Somos do Reino Animal, do Filo dos Cordados, da Classe dos mamíferos, da Ordem dos Hominídeos, da Família dos Primatas, do Gênero Homo e da Espécie sapiens.

Somos a única espécie viva do gênero Homo. As demais espécies de Homo foram eliminadas: habilis, erectus, australopithecus, entre outros.

O Neandertal possuía um cérebro maior que o nosso, usava ferramentas e cuidava dos doentes. A medicina é anterior ao Homo sapiens.

Esse era o meu dilema: “se a Teoria da Evolução for verdadeira, o relato da Criação no Gênesis é falso.” E eu vivia daquele emprego.

Eu precisava negar a bíblia num colégio católico.

O Colégio era da Arquidiocese de Aracaju, comandada pelo conservador Luciano Duarte. Um homem culto, doutor em Sorbonne. Um orador sacro à altura do Padre Antonio Vieira.

Procurei o competente e integro Reitor do Colégio, Monsenhor Carvalho. Expus a minha dificuldade. Ele foi magnânimo: “professor o senhor continua ensinando a Teoria da Evolução em suas aulas de biologia, que do catecismo cuido Eu.”

Hoje, isso deixou de ser problema. A Teoria da Evolução foi comprovada pela arqueologia, pela genética, pela biologia e a religião tornou-se cada vez mais crente em seu Paraíso.

A ciência e a religião convivem, cada uma com as suas verdades, e não se fala mais nisso.

Uma mesma pessoa pode professar as duas crenças, sem que enxergue nisso nenhuma contradição. O Monsenhor Carvalho já sabia disso: São verdades diferentes.

Descendemos dos primatas e somos feitos de barro (pó), depende do enfoque. A bíblia foi uma justificativa para a ambição humana em dominar a Terra.

Parece que está dando errado!

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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