quarta-feira, 3 de novembro de 2021

VIVOS E MORTOS

 Vivos e Mortos...

(por Antonio Samarone)

Após secular quarentena, aproveitei o Dia de Finados para retornar, com calma, à Itabaiana.

Passei logo no Cemitério. Uma festa! Vivos e mortos em plena confraternização. Mamãe foi a mais feliz com visita, relembramos muita coisa. Achei papai triste, reclamou da foto dele que botamos na sepultura. Papai não gostava da barba malfeita.

Visitei os meus avós, tios, amigos e conhecidos. Muita gente de minha geração no descanso eterno. Captei a mensagem.

A cidade está limpa e bem cuidada.

Fui à Praça da Igreja, para confirmar se a Prefeitura tinha mesmo arrancado o Pé Quixabeira. Arrancaram! Santo Antonio Fujão está no relento, debaixo sol e chuva. Encontrei com Fefi, num banco próximo. Disse a ele o que eu pensava sobre essa brutalidade.

Visitei a minha última Tia viva, um doce de pessoa. Está com 82 anos, mora só e faz de tudo. Ainda vai a feira. A minha Tia Caçulinha me deu uma esperança, ela continua com a memória cem por cento.

Fui à casa de um amigo que está convalescendo. O iconoclasta professor Taurino. Uma pessoa muito respeitada em Itabaiana. Sempre crítico e equilibrado. Um grande papo. Lembramos do Bar de Lessa, da Rua do Tanquinho e do velório da esposa de Seu Filomeno.

Taurino estava no famoso velório da esposa de Filomeno e me contou a verdade. No outro dia perguntaram a Filomeno: “o senhor não achou ruim passar a noite em claro, sem dormir?” Ele respondeu com graça: - “que nada, outros dormiram por mim!”.

Esta é verve Itabaianense, tão cultuada por Alberto Carvalho.

Entrei na conversa política. Taurino, o que você acha do Governo Bolsonaro? Ele me respondeu de forma enigmática: - “não conheço nenhum bolsonarista melhor do que Bolsonaro”. Estou matutando até agora. Eu também não conheço.

Em outras palavras, o Bolsonarismo revelou um mundo incubado, desconhecido. A tal maioria silenciosa era isso?

Ninguém volta de Itabaiana, sem novidades.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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