terça-feira, 7 de junho de 2016

RIO VAZA BARRIS


A toponímia sergipana (como surgiu o nome do Rio Vaza Barris?).

Antonio Samarone

Ao tomar conhecimento da descoberta de Cabral (1500), O Rei de Portugal D. Manuel, organizou uma expedição oficial com três caravelas, comandada por Afonso Gonçalves, para fazer o reconhecimento do “Mundus Novus”. A expedição zarpou do Tejo em maio de 1501, e trouxe a bordo o florentino Américo Vespúcio, como cronista da viagem. Através de suas cartas tomou-se conhecimento da viagem. Depois de percorrer outros trechos do litoral brasileiro, a expedição chegou a Sergipe no inicio de outubro.
A expedição manuelina avistou o Rio Parapitinga dos tupinambás em 04 de outubro de 1501, e usando do critério hagiológico, ele foi imediatamente rebatizado como Rio São Francisco. Em seguida, a expedição é arrastada pelas correntes marítimas para uma perigosa enseada. Relata Vespúcio: chegados à costa, enfrentam os navios uma inopinada corrente que arrasta as águas para a praia, pondo em risco as embarcações. Naqueles dias longínquos de 1501, as caravelas tiveram que lutar com as forças da água e certamente tonéis de bordo se entrechocaram afrouxando juntas e barris vazaram os líquidos que haviam... A costa turbulenta, cuja curvatura dava lugar a uma espécie de enseada, foi apelidada pelos marujos de armada de Vazabarris, passando assim a cartografia (vaz a barril).
A expedição de 1501 batizou incialmente o rio Irapiranga dos tupinambás como rio Canafístula (mapas portugueses) ou Cassía (mapas italianos), Vaza Barris era apenas a denominação da enseada. Por razões obvias o rio Canafístula por ser o mais volumoso da enseada passa a receber depois o nome de Vaza Barris. Um dos produtos levados pela expedição de volta está a canafístula (uma fava medicinal usada na Europa), reforçando-se a versão que eles ficaram ancorados na enseda do Vaza Barris por cinco dias. A outra evidência é o longo tempo de percurso da expedição (26 dias) entre o Rio São Francisco e a Baia de Todos Santos. A Baia só foi batizada em 01 de novembro de 1501.
Nas instruções náuticas de 1907 para a marinha francesa, sobre as costas do Brasil, existe um alerta: Ao sul do São Francisco a costa inflete-se e forma uma vasta baia de Vazabarris, onde desaguam os Rios Cotinguíba, Vazabarris, etc. Esta baia é, no inverno, bastante perigosa: o vento e a corrente levam a Noroeste para o fundo da baia, onde se encontra senão uma praia deserta, sem nenhum porto nem abrigo, os navios impelidos para a praia dificilmente podem se safar.
A denominação seguinte dada pela expedição de 1501 é ao Rio Perera (Rio do Pereira), nome do capitão da caravela que o viu e nele penetrou. É o nosso Rio Cirigi (dos tupinambás), que se junta ao Rio Cotindiba (Cotinguíba) em sua foz. O Rio Cirigi é que vem dar nome ao Estado de Sergipe.
A expedição também batizou uma serra, avistada a uma distância de 8 a 10 léguas, de Serra de Sta. Maria de Gracia (Serra de Santa Maria da Graça), que posteriormente foi denominada Serra de Itabaiana.
Por último a expedição batizou o Rio Real, com duas versões para o nome. Uma como homenagem a data de nascimento de D. Manuel (25 de outubro), e a outra pela impressão que a largura da foz deixava, levando-se a impressão de tratar-se de um rio volumoso e de longo curso.
A principal fonte dessas notas é o livro de Moacyr Soares Pereira, “A Navegação de 1501 ao Brasil e Américo Vespúcio”, publicado no Rio de Janeiro em 1984.

PS: incomodado com uma bobagem postada num portal de turismo de Aracaju, sobre a denominação do Rio Vaza Barris, resolvi ir procurar o que a história tinha para nos contar.

3 comentários:

  1. Essa história fala que o rio recebeu esse nome em torno de 1501 na descoberta de novos territórios brasileiros "vaza barris", por embarcações que teriam derramando barris em sua águas por causa de grandes ondas que atacavam os navios; na história moderna fala que por volta de 1940 a 1945 da segunda guerra mundial navios brasileiros teriam afundado nesse rio e que barrís teriam vistos boiando e vazando por conta desses naufragios ocasionados pela guerra ,qual a história que poderiamos dizer que e verdadeira e afirmar para o povo a verdadeira história ?

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  2. No Livro os sertões de Euclides da Cunha existe a menção ao rio Vaza Barris. Portanto a estória do nome do rio não pode ser em função do naufrágrio na segunda guerra já que o livro é anterior.

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  3. Excelente! Navegador recreativo na foz, enriquece meu conhecimento e aumenta o meu entusiasmo. Obrigado pela aula.

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