Por que o Aedes aegypti continua
ganhando a guerra?
ANTONIO SAMARONE DE SANTANA.
ACADEMIA SERGIPANA DE MEDICINA.
A estratégia do Ministério da
Saúde no combate ao mosquito não vem dando certo há 30 anos, desde a primeira
epidemia de dengue em 1986. O governo insiste. Trata-se do esforço em matar o
mosquito, seja com inseticida e larvicida, ou com a eliminação dos pequenos
criadouros domésticos. Para isso, resolveu usar o exército, numa visível jogada
de marketing; e realizar “mutirões” de convencimento, visando sensibilizar a
sociedade, para que todos se engajem nessa missão. O slogan da estratégia é “um
mosquito não é mais forte que um país inteiro”.
A novidade do “mata mosquito” são
os recursos tecnológicos: esterilizar os mosquitos com radiações, lançar
mosquitos transgênicos no meio ambiente ou mosquitos contaminados com a
bactéria wolbachia, tudo dentro da lógica de eliminação por concorrência do
mosquito selvagem. Tudo feito às pressas, sem uma consistente avaliação das consequências.
Contudo, nem mesmo dentro dessa estratégia limitada, as ações da saúde pública têm
sido permanentes e efetivas. O “mata mosquito” com a tímida participação dos
agentes de saúde é um faz-de-conta.
No caso de Aracaju, nem a estratégia
limitada está funcionando, o descaso é exagerado. O munícipio dispõe de 900
agentes de saúde, que se devidamente mobilizados, dariam uma grande contribuição;
possui recursos para a eliminação dos grandes criadouros; e tem se limitado a
rotina dos agentes de endemias. A ação do Estado tem sido mais intensa em vários
municípios, inclusive na capital.
O que os pesquisadores da Saúde
Pública, congregados na ABRASCO, têm insistido é na eliminação dos grandes
criadouros, nas ações de saneamento ambiental, coleta do lixo, fornecimento
permanente de água potável; somado a ações permanentes de saúde pública. O
atual ecossistema urbano é favorável ao mosquito, onde ele se encontra no topo
da cadeia alimentar. Mesmo com a provável descoberta de vacinas, como foi o
caso da febre amarela e dengue, o risco de novas epidemias por outros vírus selvagens
continua.
O mais perverso, é que nos
próximos meses a tríplice epidemia vai arrefecer, devido ao inverno, como vem
ocorrendo há décadas; e os méritos serão atribuídos às ações de marketing do
Ministério da Saúde.
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