quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

CAMPO DO BRITO.

Campo do Brito. (por Antonio Samarone)

“A cultura é a consciência de uma civilização.” Noberto Bobbio.

A história de Sergipe, de Felisbelo Freire ao final do século XX, tratou do litoral (Aracaju, Estância e São Cristóvão) e da região açucareira (Laranjeiras, Capela, Japaratuba...). O Agreste e o Sertão foram esquecidos. Na Cultura, essa divisão do Estado é mais acintosa.

Os Intelectuais da cultura ignoram o Agreste sergipano. Essa era uma preocupação de Luiz Antonio Barreto. Amanhã, o 50º Encontro Cultural de Laranjeiras vai homenagear Luiz Antonio. Palmas!

Ontem, cruzei o Riacho das Traíras e fui a Campo do Brito. Apenas a 8 km de Itabaiana. Segundo Almeida Bispo, historiador, o Brito Velho foi um Arraial construído às margens da Estrada Real, Salvador/Olinda, ainda no século XVII.

O nome Campo do Brito, liga-se a Manuel Pestana de Brito, Capitão-Mor, que arrendou terras na região, para criação de gado. Pestana de Brito liderou a revolta dos curraleiros (1646). Eram as terras do Capitão-Mor, o Campo do Brito. O Brito é o Pestana.

Campo do Brito já constava nos mapas dos holandeses (1646).

A Freguesia de Campo do Brito foi criada em 30 de janeiro de 1845. É antiga. A atual igreja, foi construída em 1893. A cidade possui dois padroeiros: São Roque, protetor das epidemias, e Nossa Senhora da Boa Hora.

A autonomia e separação de Campo do Brito de Itabaiana (1912) foi conflituosa. Desde 1888, o padre Francisco Freire de Menezes, culto e competente, foi nomeado para a Freguesia do Brito. O movimento separatista começou a germinar.

O chefe político de Itabaiana, Batista Itajay, foi eleito vice governador de Rodrigues Dória (1908-1911). O governador entrou de licença e deixou uma carta de renúncia assinada, com a seguinte orientação: se eu não quiser mais voltar, eu aviso, e você entrega a minha renúncia e assume. E viajou.

O cão atentou Batista Itajay, e ele entregou a renúncia por conta própria e assumiu. Não deu certo. O golpe não funcionou e ele foi exonerado. Itajay caiu em desgraça política. Itabaiana só voltou a ter força no Estado, com Euclides Paes Mendonça (década de 1950).

Itabaiana perdeu força política e o Padre Francisco Freire, usou o seu prestígio com o governador Siqueira de Menezes. A aventura de Itajay custou caro, Itabaiana começou a perder território. Em 1912, Campo do Brito ficou com uma grande área, que englobava Macambira, Pedra Mole, Pinhão e São Domingos. Até o povoado Ribeira ficou com Campo do Brito. Em 1932, Campo do Brito era o oitavo município mais populoso de Sergipe.

O Agreste foi todo desmembrado do território de Itabaiana Grande. Hoje, os limites são administrativos. Culturalmente, somos uma mesma comunidade e um mesmo povo.

Essa separação do Campo do Brito foi um baque para Itabaiana e deixou sequelas. Antigamente, se dizia em Itabaiana, que o Brito era lugar de lobisomem. Eu não sabia as razões, mas acreditava que a maioria dos lobisomens vinham do Brito.

Entretanto, talvez Campo do Brito seja o município mais identificado com Itabaiana: economicamente, culturalmente e religiosamente. Aliás, a cultura do Agreste é muito parecida: os valores, as crenças, a culinária, as estórias são muito próximas. No período colonial, todos foram devotos de Santo Antonio.

Em minha infância, nunca perdi a festa do padroeiro do Brito. Itabaiana descia em peso, para a procissão de Nossa Senhora da Boa Hora, em 15 de agosto.

Campo do Brito passou de Vila a Cidade, através do Decreto-Lei nº 69, de 28 de março de 1938.

Com o tempo foram reduzindo o território de Campo do Brito: a Ribeira retornou a Itabaiana em 1939; em 1953, o Pinhão e Pedra Mole ganharam autonomia; em 1954, Macambira; e em 1963, São Domingos. Restou ao Campo do Brito um área de 201 km². No Censo de 2022, o IBGE constatou cerca de 18 mil habitantes.

Esse ano, 2025, a Paroquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, completa 350 anos. O Padre, Marcos Rogério, teve a iluminada ideia de nas comemorações dos sétimo jubileu da Freguesia, levar Santo Antonio em peregrinação para os municípios que nasceram juntos com Itabaiana, viveram junto, e que estão de certa forma também comemorando.

Santo Antonio vai a Campo do Brito, no final deste mês. Será uma oportunidade de aproximação cultural Itabaiana/Campo do Brito. Somos o mesmo povo, a mesma gente, as mesmas raízes e os mesmos costumes.

Viva a cultura do Agreste sergipano.

OS: os dados históricos sobre Campo do Brito, bebi na fonte do historiador Almeida Bispo.
 

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