Campo do Brito. (por Antonio Samarone)
“A cultura é a consciência de uma civilização.” Noberto Bobbio.
A história de Sergipe, de Felisbelo Freire ao final do século XX, tratou do litoral (Aracaju, Estância e São Cristóvão) e da região açucareira (Laranjeiras, Capela, Japaratuba...). O Agreste e o Sertão foram esquecidos. Na Cultura, essa divisão do Estado é mais acintosa.
Os Intelectuais da cultura ignoram o Agreste sergipano. Essa era uma preocupação de Luiz Antonio Barreto. Amanhã, o 50º Encontro Cultural de Laranjeiras vai homenagear Luiz Antonio. Palmas!
Ontem, cruzei o Riacho das Traíras e fui a Campo do Brito. Apenas a 8 km de Itabaiana. Segundo Almeida Bispo, historiador, o Brito Velho foi um Arraial construído às margens da Estrada Real, Salvador/Olinda, ainda no século XVII.
O nome Campo do Brito, liga-se a Manuel Pestana de Brito, Capitão-Mor, que arrendou terras na região, para criação de gado. Pestana de Brito liderou a revolta dos curraleiros (1646). Eram as terras do Capitão-Mor, o Campo do Brito. O Brito é o Pestana.
Campo do Brito já constava nos mapas dos holandeses (1646).
A Freguesia de Campo do Brito foi criada em 30 de janeiro de 1845. É antiga. A atual igreja, foi construída em 1893. A cidade possui dois padroeiros: São Roque, protetor das epidemias, e Nossa Senhora da Boa Hora.
A autonomia e separação de Campo do Brito de Itabaiana (1912) foi conflituosa. Desde 1888, o padre Francisco Freire de Menezes, culto e competente, foi nomeado para a Freguesia do Brito. O movimento separatista começou a germinar.
O chefe político de Itabaiana, Batista Itajay, foi eleito vice governador de Rodrigues Dória (1908-1911). O governador entrou de licença e deixou uma carta de renúncia assinada, com a seguinte orientação: se eu não quiser mais voltar, eu aviso, e você entrega a minha renúncia e assume. E viajou.
O cão atentou Batista Itajay, e ele entregou a renúncia por conta própria e assumiu. Não deu certo. O golpe não funcionou e ele foi exonerado. Itajay caiu em desgraça política. Itabaiana só voltou a ter força no Estado, com Euclides Paes Mendonça (década de 1950).
Itabaiana perdeu força política e o Padre Francisco Freire, usou o seu prestígio com o governador Siqueira de Menezes. A aventura de Itajay custou caro, Itabaiana começou a perder território. Em 1912, Campo do Brito ficou com uma grande área, que englobava Macambira, Pedra Mole, Pinhão e São Domingos. Até o povoado Ribeira ficou com Campo do Brito. Em 1932, Campo do Brito era o oitavo município mais populoso de Sergipe.
O Agreste foi todo desmembrado do território de Itabaiana Grande. Hoje, os limites são administrativos. Culturalmente, somos uma mesma comunidade e um mesmo povo.
Essa separação do Campo do Brito foi um baque para Itabaiana e deixou sequelas. Antigamente, se dizia em Itabaiana, que o Brito era lugar de lobisomem. Eu não sabia as razões, mas acreditava que a maioria dos lobisomens vinham do Brito.
Entretanto, talvez Campo do Brito seja o município mais identificado com Itabaiana: economicamente, culturalmente e religiosamente. Aliás, a cultura do Agreste é muito parecida: os valores, as crenças, a culinária, as estórias são muito próximas. No período colonial, todos foram devotos de Santo Antonio.
Em minha infância, nunca perdi a festa do padroeiro do Brito. Itabaiana descia em peso, para a procissão de Nossa Senhora da Boa Hora, em 15 de agosto.
Campo do Brito passou de Vila a Cidade, através do Decreto-Lei nº 69, de 28 de março de 1938.
Com o tempo foram reduzindo o território de Campo do Brito: a Ribeira retornou a Itabaiana em 1939; em 1953, o Pinhão e Pedra Mole ganharam autonomia; em 1954, Macambira; e em 1963, São Domingos. Restou ao Campo do Brito um área de 201 km². No Censo de 2022, o IBGE constatou cerca de 18 mil habitantes.
Esse ano, 2025, a Paroquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, completa 350 anos. O Padre, Marcos Rogério, teve a iluminada ideia de nas comemorações dos sétimo jubileu da Freguesia, levar Santo Antonio em peregrinação para os municípios que nasceram juntos com Itabaiana, viveram junto, e que estão de certa forma também comemorando.
Santo Antonio vai a Campo do Brito, no final deste mês. Será uma oportunidade de aproximação cultural Itabaiana/Campo do Brito. Somos o mesmo povo, a mesma gente, as mesmas raízes e os mesmos costumes.
Viva a cultura do Agreste sergipano.
OS: os dados históricos sobre Campo do Brito, bebi na fonte do historiador Almeida Bispo.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
domingo, 5 de janeiro de 2025
AS BODEGAS DO BECO NOVO
As bodegas do Beco Novo. (por Antonio Samarone).
Cresci ouvindo histórias, na bodega de Senhor Zabumba. Era lá, que se vendia o melhor caramelo do Agreste. Cocada puxa era na bodega de Dona Rosita, na outra esquina.
Na Bodega de Senhor Zabumba, ouvi muitas histórias contadas por Seu Sancho, Armelindo, Nilo Base, Dequinha sapateiro, Zé de Hermógenes, João Giba, Zé Mosquito e do Pai de Zé Pindoba.
A bodega de Manoel Francisco de Oliveira (Senhor Zabumba), ficava na esquina do Beco Novo, com o Beco do Ouvidor, onde nasci. Seu Zabumba era baixo, de poucas conversas, troncudo e com um barriga enorme. A barriga era o motivo do apelido, parecia uma zabumba.
O escritor Vladimir Carvalho tem razão, Itabaiana é a capital brasileira dos apelidos. Lá, ninguém escapa. E todos os apelidos são bem botados.
Zabumba era um velho rico, dono de seis casas de aluguéis no Beco Novo e duas vilas de quartos na Rua da Pá, sessenta vacas paridas e treze porcas. Era tio de Tonho de Chagas, fazendeiro e comerciante do ramo de posto de gasolina e caminhão, em Itabaiana.
Seu Zabumba, na velhice, foi morar com Dona Maria Dorotéia (foto), uma dama empobrecida do Zanguê, filha de Dona Augusta, irmã de Dona Santinha, esposa de Antonio de Anjinho. Dorotéia era o lado pobre, de uma família importante do Zanguê.
Dorotéia (foto) foi enganada pelo primeiro namorado, que foi embora. Ela precisou vir para cidade e ir lavar roupa de ganho, no açude velho. Uma mulher de fibra e determinação. Foi morar com seu Zabumba e tiveram um filho.
Com a morte de Senhor Zabumba, Dorotéia arrumou um novo casamento, com João Fagundes, e tiveram quatro filhas moças e um rapaz. Todas as moças estudaram e se tornaram cidadãs.
Depois da morte de Senhor Zabumba, a bodega foi vendida a Seu Antonio (vulgo, Jânio Quadros). Seu Antonio, magro, alto, óculos com armação preta, de casco de tartaruga. Um sósia do presidente Jânio. Antonio era o irmão de Zezé de Jonas, que morava em São Paulo.
Foi na bodega de Jânio Quadros que conheci o sabor dos refrigerantes. Cabecinha, filho de Delina, enteado de Jânio Quadros, quando estava sozinho, tomando conta da bodega, abria escondido uma cajuína, refrigerante fabricado no Piauí, e dava um copo aos amigos presentes na bodega.
Não me lembro da Coca-Cola. Pelos menos, nas bodegas do Beco Novo.
No final da vida, João Quadros casou com Marizete de Seu Marinho, irmã de Tororoco.
As bodegas das esquinas próximas, eram a de Dona Rosita, com a sua cocada puxa e um balcão comprido e a bodega de Zé Meu Mano, onde mamãe comprava o óleo de rícino, meia libra de açúcar (250 gr.), botes de fósforos de sete pancadas e óleo de cozinha no retalho.
A memória já começou a esquecer de muita coisa.
Antonio Samarone – Septuagenário.
Cresci ouvindo histórias, na bodega de Senhor Zabumba. Era lá, que se vendia o melhor caramelo do Agreste. Cocada puxa era na bodega de Dona Rosita, na outra esquina.
Na Bodega de Senhor Zabumba, ouvi muitas histórias contadas por Seu Sancho, Armelindo, Nilo Base, Dequinha sapateiro, Zé de Hermógenes, João Giba, Zé Mosquito e do Pai de Zé Pindoba.
A bodega de Manoel Francisco de Oliveira (Senhor Zabumba), ficava na esquina do Beco Novo, com o Beco do Ouvidor, onde nasci. Seu Zabumba era baixo, de poucas conversas, troncudo e com um barriga enorme. A barriga era o motivo do apelido, parecia uma zabumba.
O escritor Vladimir Carvalho tem razão, Itabaiana é a capital brasileira dos apelidos. Lá, ninguém escapa. E todos os apelidos são bem botados.
Zabumba era um velho rico, dono de seis casas de aluguéis no Beco Novo e duas vilas de quartos na Rua da Pá, sessenta vacas paridas e treze porcas. Era tio de Tonho de Chagas, fazendeiro e comerciante do ramo de posto de gasolina e caminhão, em Itabaiana.
Seu Zabumba, na velhice, foi morar com Dona Maria Dorotéia (foto), uma dama empobrecida do Zanguê, filha de Dona Augusta, irmã de Dona Santinha, esposa de Antonio de Anjinho. Dorotéia era o lado pobre, de uma família importante do Zanguê.
Dorotéia (foto) foi enganada pelo primeiro namorado, que foi embora. Ela precisou vir para cidade e ir lavar roupa de ganho, no açude velho. Uma mulher de fibra e determinação. Foi morar com seu Zabumba e tiveram um filho.
Com a morte de Senhor Zabumba, Dorotéia arrumou um novo casamento, com João Fagundes, e tiveram quatro filhas moças e um rapaz. Todas as moças estudaram e se tornaram cidadãs.
Depois da morte de Senhor Zabumba, a bodega foi vendida a Seu Antonio (vulgo, Jânio Quadros). Seu Antonio, magro, alto, óculos com armação preta, de casco de tartaruga. Um sósia do presidente Jânio. Antonio era o irmão de Zezé de Jonas, que morava em São Paulo.
Foi na bodega de Jânio Quadros que conheci o sabor dos refrigerantes. Cabecinha, filho de Delina, enteado de Jânio Quadros, quando estava sozinho, tomando conta da bodega, abria escondido uma cajuína, refrigerante fabricado no Piauí, e dava um copo aos amigos presentes na bodega.
Não me lembro da Coca-Cola. Pelos menos, nas bodegas do Beco Novo.
No final da vida, João Quadros casou com Marizete de Seu Marinho, irmã de Tororoco.
As bodegas das esquinas próximas, eram a de Dona Rosita, com a sua cocada puxa e um balcão comprido e a bodega de Zé Meu Mano, onde mamãe comprava o óleo de rícino, meia libra de açúcar (250 gr.), botes de fósforos de sete pancadas e óleo de cozinha no retalho.
A memória já começou a esquecer de muita coisa.
Antonio Samarone – Septuagenário.
sábado, 4 de janeiro de 2025
UM NOVO HOSPITAL PÚBLICO
Um novo hospital público.
(por Antonio Samarone)
Existe um consenso, Sergipe carece de boas administrações. O último governador que deixou a sua marca foi João Alves Filho. O que existe de relevante de infraestrutura e de programas de desenvolvimento no estado, tem a mão dele.
Infelizmente, em Sergipe, a nova safra de políticos não possui afinidades com a gestão pública. Um deles, espalhou outdoor no final de ano, desejando ao povo “vibrações positivos”, como se essas vibrações dependessem dele. Na verdade, não tem nada a apresentar. A política tornou-se um meio de vida.
O último grande hospital público construído em Sergipe, foi obra de João Alves.
Nos municípios, funcionam a rede hospitalar estadual ou pequenos hospitais “filantrópicos” (quase UPA). O povo precisa do socorro do HUSE, para quase tudo.
Nas eleições de 2022, apareceu um político do interior, pouco conhecido, que ia ganhar no primeiro turno. Foi um corre-corre das elites, precisaram apelar para o tapetão. Passadas as eleições, o líder inesperado foi absolvido em menos de 15 dias. O problema não era jurídico.
O leitor mais atento sabe que estou tratando de Valmir de Francisquinho.
E de onde vem esse desejo de mudanças do eleitorado?
No segundo dia de gestão de Prefeito, Valmir anunciou a construção de um Hospital Público em Itabaiana. É uma iniciativa de quem percebe as necessidades do povo. O mais importante, um hospital em parceria com o Hospital de Amor, com a moderna filantropia. Um hospital com a marca de serviços de qualidade.
O HUSE tem 40 anos. O que mais foi feito? Uma pequena maternidade aqui e outra ali, o Nestor Piva, o Fernando Franco, uma UPA, tudo, de baixo impacto na assistência. Hospital mesmo, o último, foi construído por João Alves, em 1986. Agora, Valmir de Francisquinho anunciou um novo hospital público em Itabaiana.
O “fenômeno Valmir” é a boa gestão. Não tem mistérios. Itabaiana chegou a 103 mil habitantes no último censo, por conta de uma economia próspera e de uma gestão qualificada. É o que Sergipe precisa.
Não se pode negar: a primeira gestão de Prefeito do Aracaju (1975/79) e os dois primeiros mandatos de Governador (1983/86 e 1991/95) de João Alves, foram excepcionais para Sergipe. O segundo mandato dele de Prefeito e o terceiro de governador não seguiram o mesmo padrão.
Tenho a impressão que Sergipe declina, em comparação com os demais estados nordestinos. No setor de turismo, chega a ser vexatório.
Urge o retorno de boas administrações. Se depender do voto libre, estamos próximos.
Antonio Samarone. Médico Sanitarista.
(por Antonio Samarone)
Existe um consenso, Sergipe carece de boas administrações. O último governador que deixou a sua marca foi João Alves Filho. O que existe de relevante de infraestrutura e de programas de desenvolvimento no estado, tem a mão dele.
Infelizmente, em Sergipe, a nova safra de políticos não possui afinidades com a gestão pública. Um deles, espalhou outdoor no final de ano, desejando ao povo “vibrações positivos”, como se essas vibrações dependessem dele. Na verdade, não tem nada a apresentar. A política tornou-se um meio de vida.
O último grande hospital público construído em Sergipe, foi obra de João Alves.
Nos municípios, funcionam a rede hospitalar estadual ou pequenos hospitais “filantrópicos” (quase UPA). O povo precisa do socorro do HUSE, para quase tudo.
Nas eleições de 2022, apareceu um político do interior, pouco conhecido, que ia ganhar no primeiro turno. Foi um corre-corre das elites, precisaram apelar para o tapetão. Passadas as eleições, o líder inesperado foi absolvido em menos de 15 dias. O problema não era jurídico.
O leitor mais atento sabe que estou tratando de Valmir de Francisquinho.
E de onde vem esse desejo de mudanças do eleitorado?
No segundo dia de gestão de Prefeito, Valmir anunciou a construção de um Hospital Público em Itabaiana. É uma iniciativa de quem percebe as necessidades do povo. O mais importante, um hospital em parceria com o Hospital de Amor, com a moderna filantropia. Um hospital com a marca de serviços de qualidade.
O HUSE tem 40 anos. O que mais foi feito? Uma pequena maternidade aqui e outra ali, o Nestor Piva, o Fernando Franco, uma UPA, tudo, de baixo impacto na assistência. Hospital mesmo, o último, foi construído por João Alves, em 1986. Agora, Valmir de Francisquinho anunciou um novo hospital público em Itabaiana.
O “fenômeno Valmir” é a boa gestão. Não tem mistérios. Itabaiana chegou a 103 mil habitantes no último censo, por conta de uma economia próspera e de uma gestão qualificada. É o que Sergipe precisa.
Não se pode negar: a primeira gestão de Prefeito do Aracaju (1975/79) e os dois primeiros mandatos de Governador (1983/86 e 1991/95) de João Alves, foram excepcionais para Sergipe. O segundo mandato dele de Prefeito e o terceiro de governador não seguiram o mesmo padrão.
Tenho a impressão que Sergipe declina, em comparação com os demais estados nordestinos. No setor de turismo, chega a ser vexatório.
Urge o retorno de boas administrações. Se depender do voto libre, estamos próximos.
Antonio Samarone. Médico Sanitarista.
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