CENTENÁRIO DE EUCLIDES
PAES MENDONÇA (parte dois)
Antonio Samarone de Santana
Foi na conjuntura
(apontada na parte um do texto), na transição entre o predomínio da atividade
agrícola para o crescimento do comércio e do transporte, favorecidos pela
chegada da estrade de rodagem, a BR-235, que Itabaiana ganhou um grande impulso
de desenvolvimento. Aqueles homens treinados nos pequenos negócios nas feiras do
Estado, com o corpo no campo numa produção camponesa e espírito voando para o mercantilismo.
Gente simples, sempre poupando, levando vida franciscana, de pequenos gastos,
poucos luxos, muito trabalho e muita avareza. O dinheiro era tudo, ganhar,
investir e ganhar, o esquema clássico do capitalismo.
Euclides Paes Mendonça chegou
a Itabaiana disposto a ganhar dinheiro, descobriu rápido que com o fim do
Estado Novo, a política ia abrir espaços pelo voto, para quem tivesse ambição. O
eleitor passou a valer alguma coisa e precisava ser conquistado, com mimos e afagos,
ou com ameaças e retaliações. O chefe político não era mais o coronel da
República Velha, um latifundiário com os seus vassalos e capangas, o voto
precisava ser conquistado. O eleitor precisava mais que o cabresto para ser
domado, além da proteção, precisava de outras regalias. O cumprimento, o aperto
de mão e até do abraço, em época de eleição.
Euclides percebeu os novos
tempos, bom comerciante, impetuoso, tendo prosperado na padaria, resolveu
ampliar os seus negócios. Em 1944, comprou uma casa velha no Largo da Feira e construiu
um grande armazém de secos e molhados, o precursor dos atuais supermercados. O
estabelecimento prosperou e logo-logo se tornou o maior da cidade, em
competição direta com o Armazém de Manoel Teles, mais antigo, e situado no
mesmo logradouro.
Euclides Paes Mendonça,
diante da necessidade de expansão dos negócios e do enriquecimento constatou
que sem o contrabando, a velocidade de crescimento não seria a mesma. Não era
difícil identificar que possuir força, poder, capacidade de ameaçar e do
exercer a violência, era de grande utilidade, nesta fase de acumulação
primitiva de um mercantilismo nascente. Era preciso controlar a exatoria (o
fisco) e a polícia, e se possível, a justiça e a igreja, mas isso se veria
depois. Estava clara a necessidade de envolvimento com a política.
Dos irmãos Mendonça,
apenas Mamede Paes Mendonça não se envolveu diretamente com a política; Pedro Paes
Mendonça foi Deputado Estadual e Prefeito de Moita Bonita. Gentil Barbosa,
sobrinho de Sinhá Barbosa (esposa de Euclides), assumiu os armazéns de Euclides
após a sua morte precoce (1963) e fundou o G. Barbosa, a maior rede de
supermercado de Sergipe; em sociedade com o seu irmão, Noel Barbosa. Com a
morte trágica de Euclides e inicio da ditadura em 1964, os irmãos Barbosa não
se envolveram diretamente com a política. Albino Silva da Fonseca e Oviedo Teixeira,
outro empresários de Itabaiana esse período, saíram da cidade, cresceram em
Aracaju, estavam envolvidos até os cabelos com a política, cada um ao seu modo.
Em Itabaiana, só ficou
Euclides Paes Mendonça, dos empresários bem sucedidos. Euclides chamou a
atenção pelo o seu caráter expansivo e provocador, ousado, temperamental,
sangue quente, que falava mais do que fazia, sensível às fofocas e os fuxicos
da política. Euclides entrou na política visitando os eleitores de casa em
casa, oferecendo vantagens para quem aderisse ao seu comando, ameaçando os
resistentes, fazendo festas (leilões, micaremes e bailes), comprando votos e
apoios, bagunçando a forma antiga de se fazer política em Itabaiana. Foi um
furacão.
Na política, depois da
atritada era dos pebas e cabaús, o Coronel Sebrão versus Itajay, da República
Velha, Itabaiana passou pela ditadura do Estado Novo, com um recrudescimento da
politicagem local. Sílvio Teixeira governou a cidade de 1935 a 1941 e Manoel
Teles, de 1941 a 1946. Após a redemocratização de 1945, constituíram-se dois
grupos fortes na política, de um lado o PSD, ligado aos proprietários rurais,
liderado por Manoel Teles, Jason Correia e Toinho do Bar; e do outro a UDN,
mais vinculado aos comerciantes, tendo a frente Otoniel Dórea, Esperidião
Noronha e Boanerges Pinheiro.
Euclides entrou no
grupo da UDN, começou quando o velho mundo pebas/cabaús tinha desmoronado, após
o longo período de ditadura do Estado Novo. Quando Walter do Prado Franco,
usineiro da cotinguiba, começou a organizar a UDN na redemocratização de pós
1945, teve dificuldades de encontrar uma liderança forte em Itabaiana. Euclides
ocupou esse espaço. Manoel Teles, o interventor, figura entranhada no poder
durante todo período ditatorial, chegando depois a ligações familiares, ficou
com o PSD de Leite Neto. Manoel Teles era um homem contido, de pouca conversa, ciosos
da sua condição de rico e chefe político. Não fazia gracinha para eleitor.
Os: O texto continua em
outro momento...
Nenhum comentário:
Postar um comentário