quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Núcleos de saber local e a II Bienal de Itabaiana.




Antonio Samarone
Academia Itabaianense de Letras

Enquanto os agrupamentos humanos cuidarem apenas da sobrevivência, da produção e consumo e das atividades de defesa, estes grupos constitui-se como feitoria, forte, acampamento, mercado, capitania, possessão, ou qualquer outra coisa, menos uma civilização, um povo, uma nação, pois esse passo implica na existência de uma memória coletiva, uma história e um significado. Um povo para afirmar-se precisa de raízes, projetos, memória e auto-estima; e quem fornece esses significados é a cultura.
Luiz Antonio Barreto percebeu que no interior de Sergipe surgiam pessoas e grupos, independentes, pensantes, produzindo literatura, história, música, fotografia, artes plásticas, teatro, criando significados, ele reuniu amigos, e propôs: existe uma inquietação cultural no interior de Sergipe, são os “núcleos de saber local”, que precisam ser estimulados, vamos ajudá-los.
Comecemos por Itabaiana. A primeira pergunta era como reunir e institucionalizar essa energia? A primeira idéia foi o de propor a interiorização do Instituto Histórico, e para que não se perdesse tempo, construir um grupo no Facebook, para que as iniciativas começassem a desabrochar. O grupo é o conhecido Itabaiana Grande. Em seguida, o núcleo de saber local e empreendedores organizaram a I Bienal de Itabaiana, com um sucesso surpreendente.
Ressalte-se, que Itabaiana possui uma tradição secular na música, com a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (a mais antiga do Brasil), que tanto tem contribuído para engrandecimento do nosso povo; e uma experiência exitosa no esporte, com o Tremendão da Serra, que por muito tempo serviu de identidade para os itabaianenses. Outra constatação, é a existência de uma mídia local robusta, como demonstra a circulação regular da revista Perfil e o profissionalismo do Portal Itnet. Várias emissoras de rádio funcionam com programações qualificadas.
Voltemos aos núcleos de saber local. As coisas seguiram seu caminho, e quem teve a sensibilidade para perceber o que estava acontecendo foi a Academia Sergipana de Letras, que começou a incentivar a organização das academias locais de letras, e Itabaiana saiu na frente. Hoje funcionam com sucesso academias, além de Itabaiana, em Lagarto, Glória, Tobias Barreto, Laranjeiras, e em crescimento. As novas academias agregam uma parte pequena dos núcleos de saber local, mas já é um bom começo.
O movimento cultural tomou rumos imprevisíveis e demonstra uma força inesperada. Estamos às vésperas de um grande encontro cultural, a II Bienal do livro, que apresenta características inusitadas. Não é organizado nem pelo poder público nem pela Igreja, como era a regra em Sergipe.
Nossas grandes manifestações, Festival de Arte de São Cristóvão, Encontro Cultural de Laranjeiras, etc., foram ou são atividades oficiais. No caso da Bienal de Itabaiana, a organização é da sociedade civil: empresários esclarecidos, intelectuais e núcleos de saber local. Ressalta-se que uma empresa local realiza, por conta própria, manifestações culturais regulares, e abertas ao grande público. Ao contrário, a Secretária Estadual de Cultura ignora solenemente o evento, aqui prá nós, é até bom.
Uma segunda inovação é que o encontro é cultural: literatura, cinema, cordel, artes plástica, etc. O público que comparecer não será atraído por grandes shows de axé, ou de bandas de forró eletrônico, o que infelizmente tem sido a prioridade da política oficial de cultura. Não haverá trios elétricos.  
A Bienal terá boas mesas de debates, com gente do primeiro time da cultura sergipana, lançamentos de livros (mais de 70), venda de livros, visita de escolas, oficinas, tablados, cinema, música, dança, intercambio; posse na academia, poesia, exposição de fotos, enfim, afirmo, será o maior evento cultural de 2013 em Sergipe. Confiram...
      

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