Antonio Samarone
Academia Itabaianense de Letras
Enquanto os agrupamentos humanos
cuidarem apenas da sobrevivência, da produção e consumo e das atividades de
defesa, estes grupos constitui-se como feitoria, forte, acampamento, mercado,
capitania, possessão, ou qualquer outra coisa, menos uma civilização, um povo,
uma nação, pois esse passo implica na existência de uma memória coletiva, uma
história e um significado. Um povo para afirmar-se precisa de raízes, projetos,
memória e auto-estima; e quem fornece esses significados é a cultura.
Luiz Antonio Barreto percebeu que no
interior de Sergipe surgiam pessoas e grupos, independentes, pensantes,
produzindo literatura, história, música, fotografia, artes plásticas, teatro, criando
significados, ele reuniu amigos, e propôs: existe uma inquietação cultural no
interior de Sergipe, são os “núcleos de saber local”, que precisam ser
estimulados, vamos ajudá-los.
Comecemos por Itabaiana. A primeira
pergunta era como reunir e institucionalizar essa energia? A primeira idéia foi
o de propor a interiorização do Instituto Histórico, e para que não se perdesse
tempo, construir um grupo no Facebook, para que as iniciativas começassem a
desabrochar. O grupo é o conhecido Itabaiana Grande. Em seguida, o núcleo de
saber local e empreendedores organizaram a I Bienal de Itabaiana, com um
sucesso surpreendente.
Ressalte-se, que Itabaiana possui uma
tradição secular na música, com a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (a
mais antiga do Brasil), que tanto tem contribuído para engrandecimento do nosso
povo; e uma experiência exitosa no esporte, com o Tremendão da Serra, que por
muito tempo serviu de identidade para os itabaianenses. Outra constatação, é a existência
de uma mídia local robusta, como demonstra a circulação regular da revista Perfil
e o profissionalismo do Portal Itnet. Várias emissoras de rádio funcionam com
programações qualificadas.
Voltemos aos núcleos de saber local. As
coisas seguiram seu caminho, e quem teve a sensibilidade para perceber o que
estava acontecendo foi a Academia Sergipana de Letras, que começou a incentivar
a organização das academias locais de letras, e Itabaiana saiu na frente. Hoje
funcionam com sucesso academias, além de Itabaiana, em Lagarto, Glória, Tobias
Barreto, Laranjeiras, e em crescimento. As novas academias agregam uma parte pequena
dos núcleos de saber local, mas já é um bom começo.
O movimento cultural tomou rumos
imprevisíveis e demonstra uma força inesperada. Estamos às vésperas de um
grande encontro cultural, a II Bienal do livro, que apresenta características inusitadas.
Não é organizado nem pelo poder público nem pela Igreja, como era a regra em
Sergipe.
Nossas grandes manifestações, Festival
de Arte de São Cristóvão, Encontro Cultural de Laranjeiras, etc., foram ou são
atividades oficiais. No caso da Bienal de Itabaiana, a organização é da
sociedade civil: empresários esclarecidos, intelectuais e núcleos de saber
local. Ressalta-se que uma empresa local realiza, por conta própria,
manifestações culturais regulares, e abertas ao grande público. Ao contrário, a
Secretária Estadual de Cultura ignora solenemente o evento, aqui prá nós, é até
bom.
Uma segunda inovação é que o encontro é
cultural: literatura, cinema, cordel, artes plástica, etc. O público que
comparecer não será atraído por grandes shows de axé, ou de bandas de forró
eletrônico, o que infelizmente tem sido a prioridade da política oficial de
cultura. Não haverá trios elétricos.
A Bienal terá boas mesas de debates, com
gente do primeiro time da cultura sergipana, lançamentos de livros (mais de
70), venda de livros, visita de escolas, oficinas, tablados, cinema, música,
dança, intercambio; posse na academia, poesia, exposição de fotos, enfim,
afirmo, será o maior evento cultural de 2013 em Sergipe. Confiram...
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