Santo Antonio do Aracaju
(por Antonio Samarone)
Inácio Joaquim Barbosa Filho nasceu em 10 de outubro de 1823, na cidade do Rio de Janeiro.
Em 07 de outubro de 1853, foi nomeado Presidente da Província de Sergipe, tomando posse em 17 de novembro. Inácio Barbosa foi recebido com restrições pela elite açucareira, por ser mulato. A boca miúda, a aristocracia rural sergipana tratava o Presidente de “Catinga”, em clara manifestação de racismo.]
Inácio Barbosa foi nomeado para pacificar as elites políticas da Província de Sergipe.
Sergipe precisava de um porto marítimo. Barbosa criou a Associação Sergipense, para dotar a Barra do Rio Sergipe de reboque a vapor.
O Presidente queria transferir a Capital para Laranjeiras. Inácio Barbosa, chegou a Sergipe, viúvo e pai de duas filhas, Maria Guilhermina e Maria Joana. O Presidente se engraçou de uma donzela do Engenho do Brejo. Pensou em casamento.
Em jantar oferecido pela aristocracia laranjeirense, para acertar os detalhes da transferência da Capital, um senhor de engenho mais afoito, discursou em elogio ao Presidente: “Vossa excelência é um mulato pobre, mas honrado, cuja família eu muito conheço.” Estava acabado o casamento. Como um mulato iria pertencer a uma família aristocrática sergipana?
Inácio Barbosa deixou Laranjeiras furioso e amargurado.
Em 25 de fevereiro de 1855, convocou a famosa reunião para transferir a Capital de São Cristóvão. Uma reunião entre os grandes da Terra, no Solar do Engenho Unha de Gato, do Barão de Maruim. Estavam presentes os deputados provinciais, os proprietários de relevo e as pessoas graúdas. Os Senhores de baraço e cutelo, os donos das sesmarias.
A Assembleia Legislativa Provincial reuniu-se formalmente em 14 de março, para referendar a decisão tomada no Engenho Unha do Gato.
Resolveram por unanimidade trazer a Capital para a Barra do Rio Sergipe. A resolução 413, de 17 de março de 1855, elevou o povoado de Santo Antonio do Aracaju, na Barra do Rio Sergipe, a categoria de cidade, para onde transferiram a Capital.
Os dois Partidos da época, Rapinas (Luzias), liderados por Sebastião Gaspar de Almeida Boto e os Camundongos (Saquaremas), liderados por João Gomes de Melo estavam de acordo.
Os “Rapinas” continuam no Poder em Sergipe.
A luta política em Sergipe nunca se deu em defesa de princípios, programas, interesses classistas, divergências regionalistas ou de projetos administrativos. As disputas eram para governar a Província, segundo as suas ambições e interesses pessoais. Parece que continua...
Inácio Barbosa, buscando um Porto, fundou uma Capital lacustre.
A descrição do Aracaju feita por Sebrão Sobrinho é Prefeita:
“Aos pés dos cômoros, apertada entre os altos de areia (dunas) e o Rio do Aracaju (Sergipe), estendia-se a praia cheia de sítios, pontilhada de cajueiros e, enquanto os sacos ou aribés e os apicuns eram aproveitados para os mandiocais, o resto era água, era brejo.”
Inácio Barbosa contraiu impaludismo (malária). A nova Capital não possuía nem médico nem botica. Em 03 de agosto de 1855, ele partiu para Estância em busca de socorro médico. Recebeu os cuidados dos doutores Antonio Ribeiro Lima e Francisco Alberto Bragança.
O primeiro médico do Aracaju foi o Dr. Guilherme Pereira Rebelo.
Em 06 de outubro de 1855, Inácio Barbosa (32 anos), não resistiu a sezão. Foi sepultado no dia seguinte na Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em Estância.
Em 19 de fevereiro de 1858, o seu corpo foi transladado para um túmulo perpetuo, em cemitério especial, anexo a Igreja de São Salvador, em Aracaju.
No novo túmulo, estava escrito como epitáfio: “Viveu e terminou com glória a carreira que Deus lhe assinalou na terra”. Um boa dose de hipocrisia. Inácio Barbosa foi recebido com restrições pela elite açucareira sergipana, por ser mulato.
Depois de rodar por outros túmulos (um total de sete), os restos mortais de Inácio Barbosa descansam onde encontra-se o obelisco, defronte a Praça do Mini Golfe.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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