A Fundação de Itabaiana. 350 anos.
(por Antonio Samarone).
Em resposta ao competente Conselho Estadual de Cultura.
A historiadora Thetis Nunes, citando um documento de 1757, descreveu os limites da Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, situada a uma légua da grande Serra:
Ao ocidente, com Villa de Lagarto, separados pelo Rio Vaza Barris; ao Leste, com a Villa de Santo Amaro, separados pelo Rio Sergipe; ao sul, com São Cristóvão, todas com uma distância de dez léguas. Para o Oeste, os limites de Itabaiana chegavam ao Sertão de São João de Jeremoabo, comarca da Bahia.
Itabaiana possuía uma área de 200 léguas quadradas.
A primeira atividade econômica em Itabaiana foi a criação de gado, a prosperidade dos curraleiros. O historiador holandês, Barleus, confirma a riqueza do gado em Itabaiana. O hábito alimentar de carnívoros tem a sua origem distante. Em Itabaiana, a carne está presente em todas as refeições.
Entretanto, foi a agricultura que ajudou a fixar o colono em pequenas propriedades. Os plantadores de mandioca, algodão e legumes. A farinha de Itabaiana virou uma marca de qualidade. O artesanato, com o algodão, passou a produzir tecidos e rede de dormir, citados pelo padre Marco Antonio de Souza.
No início do século XIX, a sede da Villa de Itabaiana possuía menos de mil habitantes. A vida se passava na extensa zona Rural. A Câmara Municipal, em meados do século XIX, delimitou a criação de gado na área de três léguas à dentro das matas, acabando com as "soltas". As fazendas precisavam construir cercas.
O primeiro líder político de expressão em Itabaiana, foi o Capitão Mor das Ordenanças de Itabaiana, José Matheus da Graça Leite Sampaio, senhor de terras destacado na Província. Militante da autonomia de Sergipe e da adesão a independência nacional.
Matheus da Graça foi eleito deputado para a primeira Assembleia Geral do Império (1826). Ele não chegou a exercer, pela idade avançada e doenças. Faleceu em janeiro de 1829.
A partir da década de 1860, a crise mundial do algodão, teve desdobramento em Itabaiana. Plantar algodão virou uma febre, invadindo as matas.
Em 1870, chegou a Itabaiana a primeira máquina de descaroçar algodão, o chamado Vapor. Rapidamente, em 1874, já existiam 50 Vapores. Ocorreu o crescimento do espaço urbano, nasceu um comércio promissor.
Despontou na produção de algodão o povoado Chã de Jenipapo, atual Frei Paulo. Dezenas de municípios sergipanos foram desmembrados de Itabaiana. Frei Paulo foi o primeiro.
A Resolução 1.331, de 28 de agosto de 1888, elevou a Villa a condição de Cidade, iniciativa do deputado Guilhermino Bezerra. Essa data é comemorada como o aniversário da Cidade.
Um equivoco histórico. Itabaiana foi fundada bem antes. Itabaiana vem da ocupação de Sergipe. Em 1675, foi criada a Freguesia de Santo Antonio e Almas (350 anos).
A Igreja chegou antes da Coroa!
Antes Arraial, Itabaiana se tornou Villa em 1697. Como dizia Sebrão sobrinho: uma comunidade de vilões, artesões e bodegueiros. Passam a existir: a Câmara, a Cadeia e o Pelourinho. Juiz ordinário, promotor, delegado, fiscais de renda e eleições. Quase tudo no papel.
Itabaiana vem de longe! O 28 de agosto de 1888 é uma data relevante, mas longe de ter sido a fundação. A filarmônica é de 1785, não pode ter sido anterior a cidade. A confusão é sobre o conceito de cidade. São Cristóvão já foi fundada com Cidade, nunca foi Villa. Itabaiana foi Arraial, Villa e depois Cidade.
A Criação da Freguesia de Santo Antonio e Almas (Paróquia), em 30 de outubro de 1675, é uma prova da existência consolidada da comunidade de Itabaiana, chamada à época de Arraial.
Em reunião recente do Conselho Estadual de Cultura, foi perguntado que data era essa, dos 350 anos de Itabaiana? Gerando um clima de desconfiança. Espero que esse modesto texto, esclareça as dúvidas do douto Conselho.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
Em defesa das causas perdidas
domingo, 6 de abril de 2025
sábado, 5 de abril de 2025
O CANTO DAS CIGARRAS
O Canto das Cigarras.
(Por Antonio Samarone)
Ainda existem vidas, fora das redes sociais!
Resolvi conhecer a cultura dos povoados em Itabaiana. Comecei pela Matapoã (Maitapam), onde viveram os meus ancestrais. Ontem, fui ao Bom jardim. A quem procurar? Pensei, aos mais velhos. Eles são os guardiões da cultura.
Como antigamente, fizemos uma roda de conversas (foto), no quiosque de Dona Terezinha, no meio da Praça. Lá estavam: Zé de Chico (94 anos), Seu Onésimo (81 anos), Maria Clemencia e Inês, todos nascidos e criados no Bom Jardim. Marcelo Pulido, um paulista exilado no Povoado e Erotildes de Jesus, Secretário de Agricultura de Itabaiana.
Uma conversa alegre, inteligente e bem informada. Eles são descendentes dos fundadores do Povoado, tetranetos de Vitório José de Jesus, o desbravador, que chegou por essas bandas em meados do século XIX. Os Ipês do pé da Serra estavam floridos. O nome foi automático: aqui é um Bom jardim.
Aliás, Seu Onésimo tem essa história escrita. Ficou acertado que quando ele encontrar, me dará uma cópia do manuscrito. Será um mimo. Um achado. Quando eu receber a raridade, darei ampla divulgação.
Um povo religioso (católicos) e trabalhador. O padroeiro é o “Sagrado Coração de Maria”, comemorado no terceiro domingo de agosto. Não tem miséria no Bom Jardim. Nem ricos, nem pobres, todos vivendo decentemente. É o povoado mais bonito de Itabaiana. Disparado.
Quando o Monsenhor Carvalho estava construindo a Igreja do Colégio Arquidiocesano, em Aracaju, foi feita uma campanha estadual solicitando que as comunidades doassem os bancos. Um daqueles bancos da Igreja, foi doado pelo povo do Bom Jardim. O Padre Carvalho se afeiçoou pela comunidade e passou a frequentar as festas locais do padroeiro.
Em minha adolescência, participei no Bom Jardim de um retiro para jovens, organizado pelo padre Antonino, um italiano que rondou por aqui. Éramos quinze. Após uma pregação, o padre mandou que a gente saísse para meditar. A missão não foi cumprida: não sabíamos o que era meditar e tivemos vergonha de perguntar.
O Bom Jardim possui uma Capela imponente e bem cuidada. Uma terra de grandes professoras, destaco: Zuleide Floresta, Laura Maria dos Santos e Anita Santos.
A eletrificação do Bom Jardim foi lenta, as coisas não andavam. O Monsenhor Carvalho intercedeu junto ao Governador Augusto Franco. Em 30 dias, as luzes do Bom Jardim foram acesas. Esse fato é lembrado até hoje.
A abertura da estrada até Itabaiana, na década de 1950, foi um reboliço. Um sitiante não deixava que a estrada cortasse o seu sítio. Euclides Paes Mendonça foi pessoalmente comandar o trator, para a derrubada das cercas.
Retornei da roda de conversas ao anoitecer. Desci pelo Beco Novo. Fiz algumas fotos. Ao chegar na Praça da Matriz, fui recebido pelo canto das cigarras. Um som de minha infância, envolvente, ritmado, todas anunciando a quaresma.
Não ouço cigarras em Aracaju. Se existirem, são cigarras da capital, silenciosas!
Ontem, achei que as cigarras da Praça da Igreja (milhares, centenas de milhares), estavam a todo pulmões. Mais de cem decibéis. Sabiam que o Bispo Josafá ia chegar puxando uma via-sacra.
Por quem cantam as cigarras? Na cultura chinesa, a cigarra é um símbolo de imortalidade e renascimento.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(Por Antonio Samarone)
Ainda existem vidas, fora das redes sociais!
Resolvi conhecer a cultura dos povoados em Itabaiana. Comecei pela Matapoã (Maitapam), onde viveram os meus ancestrais. Ontem, fui ao Bom jardim. A quem procurar? Pensei, aos mais velhos. Eles são os guardiões da cultura.
Como antigamente, fizemos uma roda de conversas (foto), no quiosque de Dona Terezinha, no meio da Praça. Lá estavam: Zé de Chico (94 anos), Seu Onésimo (81 anos), Maria Clemencia e Inês, todos nascidos e criados no Bom Jardim. Marcelo Pulido, um paulista exilado no Povoado e Erotildes de Jesus, Secretário de Agricultura de Itabaiana.
Uma conversa alegre, inteligente e bem informada. Eles são descendentes dos fundadores do Povoado, tetranetos de Vitório José de Jesus, o desbravador, que chegou por essas bandas em meados do século XIX. Os Ipês do pé da Serra estavam floridos. O nome foi automático: aqui é um Bom jardim.
Aliás, Seu Onésimo tem essa história escrita. Ficou acertado que quando ele encontrar, me dará uma cópia do manuscrito. Será um mimo. Um achado. Quando eu receber a raridade, darei ampla divulgação.
Um povo religioso (católicos) e trabalhador. O padroeiro é o “Sagrado Coração de Maria”, comemorado no terceiro domingo de agosto. Não tem miséria no Bom Jardim. Nem ricos, nem pobres, todos vivendo decentemente. É o povoado mais bonito de Itabaiana. Disparado.
Quando o Monsenhor Carvalho estava construindo a Igreja do Colégio Arquidiocesano, em Aracaju, foi feita uma campanha estadual solicitando que as comunidades doassem os bancos. Um daqueles bancos da Igreja, foi doado pelo povo do Bom Jardim. O Padre Carvalho se afeiçoou pela comunidade e passou a frequentar as festas locais do padroeiro.
Em minha adolescência, participei no Bom Jardim de um retiro para jovens, organizado pelo padre Antonino, um italiano que rondou por aqui. Éramos quinze. Após uma pregação, o padre mandou que a gente saísse para meditar. A missão não foi cumprida: não sabíamos o que era meditar e tivemos vergonha de perguntar.
O Bom Jardim possui uma Capela imponente e bem cuidada. Uma terra de grandes professoras, destaco: Zuleide Floresta, Laura Maria dos Santos e Anita Santos.
A eletrificação do Bom Jardim foi lenta, as coisas não andavam. O Monsenhor Carvalho intercedeu junto ao Governador Augusto Franco. Em 30 dias, as luzes do Bom Jardim foram acesas. Esse fato é lembrado até hoje.
A abertura da estrada até Itabaiana, na década de 1950, foi um reboliço. Um sitiante não deixava que a estrada cortasse o seu sítio. Euclides Paes Mendonça foi pessoalmente comandar o trator, para a derrubada das cercas.
Retornei da roda de conversas ao anoitecer. Desci pelo Beco Novo. Fiz algumas fotos. Ao chegar na Praça da Matriz, fui recebido pelo canto das cigarras. Um som de minha infância, envolvente, ritmado, todas anunciando a quaresma.
Não ouço cigarras em Aracaju. Se existirem, são cigarras da capital, silenciosas!
Ontem, achei que as cigarras da Praça da Igreja (milhares, centenas de milhares), estavam a todo pulmões. Mais de cem decibéis. Sabiam que o Bispo Josafá ia chegar puxando uma via-sacra.
Por quem cantam as cigarras? Na cultura chinesa, a cigarra é um símbolo de imortalidade e renascimento.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. TINDA E OS PRETOS DO TABULEIRO DOS CABOCLOS.
Itabaiana – 350 anos. Tinda e os Pretos do Tabuleiro dos Caboclos. (por Antonio Samarone).
Em Itabaiana, o "football" nasceu no Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão) e foi praticado majoritariamente pelos Pretos. Até a chegada deles, vindos do Quilombo Barro Preto, no pé da Serra, vizinho ao Bom Jardim, o Tabuleiro era dos Caboclos (índios miscigenados).
Os Pretos eram ceramistas: faziam potes, panelas e purrões. Outros, pataqueiros ou sapateiros. Nas horas vagas, jogavam futebol. Os primeiros, que se destacaram no futebol, foram: Coringa, sobrinho de Divo Preto, que foi jogar na Bahia e Lima de Mané Padeiro, que brilhou no gol do Confiança.
O futebol era jogado pelos Pretos.
Tinda (foto), José Nivaldo dos Santos, era um meia-esquerda rápido e inteligente. Filho de Raimundo Preto, o zelador do antigo Etelvino Mendonça, e Dona Zefinha. O Tabuleiro dos Caboclos era uma comunidade muito pobre.
A única família que possuía um rádio era a de Mané Padeiro, berço de vários jogadores de futebol: além de Lima, citado acima, Lafayete, Beto, Nado e Manoelito. O grande zagueiro Zé de Chico, do Itabaiana, é casado com uma filha de Mané Padeiro.
Quando Tinda nasceu (08/02/1952), o pai trabalhava num órgão de fomento agrícola (Fazenda Grande), e tomou como padrinho para o filho, o Dr. Cansanção, engenheiro-agrônomo e chefe da repartição.
O Dr. Cansanção deu ao novo afilhado, Tinda, uma cabra parida. Garantiu o leite da criança, por um bom tempo. Tinda é de uma família de 13 irmãos, não frequentou a escola. Aprendeu a arte de sapateiro. Ainda fabrica sandálias de couro, para completar a renda da aposentadoria.
No Tabuleiro dos Caboclos, os Pretos eram quase todos parentes. Seu Raimundo, o pai de Tinda, era irmão de Divo, um preto de porte atlético, zagueiro do Itabaiana; irmão de Seu Deca, pai de Zé de Vitinha, ponta esquerda de rara habilidade; de Dona Preta, mãe de Nado Preto e Tica, dois craques; de Tonho de Zeferino e de Seu Rufino, um pataqueiro que limpava mil covas por dia.
Outros Pretos se destacaram no futebol itabaianense: Tonho e Zé de Preta, filho do finado João Babão; Cosme e Damião, gêmeos, filhos de João Barraca, Augusto e Elisio, filhos do bodegueiro Zé Mapinguim; Turinha, sobrinho de Osano, Pai de Santo. Sem contar os Pretos importados de Maruim: Pierrô, Bonito e Seu Jorge (goleiro).
Os pretos também se destacaram na música. O maestro Antonio Silva foi uma grande estrela. Maestro da Filarmônica e compositor. Pai do Professor Airton (Órion), de Nilo Base, alfaiate e jogador de futebol, e de Seu Bebé dos Passarinhos.
Sobre Nilo Base no futebol, Antonio de Dóci deu uma definição inusitada: “Nilo corria bem, chutava forte, cabeceava com força, sabia driblar, mas não era um bom jogador.” Como assim, eu perguntei. Seu Antonio foi sucinto: “Ele fazia tudo isso na hora errada.”
Hoje, o Bairro São Cristóvão não tem mais nem paneleiros, nem jogadores de futebol. A última artesã do barro é Nega, que mora no Povoado Cajueiro, onde mantém um Terreiro de Umbanda.
Acho que essa visão que em Itabaiana não tem Pretos é falsa. Todos citados acima, com quem convivi, são Pretos, ou quase Pretos, como diz Caetano Veloso. Foram eles que praticavam o futebol e faziam panelas em Itabaiana.
Observação: esqueci de muitos Pretos. Eu fiz dupla de ataque no Cantagalo, com Tinda (foto). Ele um craque, eu esforçado.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
Em Itabaiana, o "football" nasceu no Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão) e foi praticado majoritariamente pelos Pretos. Até a chegada deles, vindos do Quilombo Barro Preto, no pé da Serra, vizinho ao Bom Jardim, o Tabuleiro era dos Caboclos (índios miscigenados).
Os Pretos eram ceramistas: faziam potes, panelas e purrões. Outros, pataqueiros ou sapateiros. Nas horas vagas, jogavam futebol. Os primeiros, que se destacaram no futebol, foram: Coringa, sobrinho de Divo Preto, que foi jogar na Bahia e Lima de Mané Padeiro, que brilhou no gol do Confiança.
O futebol era jogado pelos Pretos.
Tinda (foto), José Nivaldo dos Santos, era um meia-esquerda rápido e inteligente. Filho de Raimundo Preto, o zelador do antigo Etelvino Mendonça, e Dona Zefinha. O Tabuleiro dos Caboclos era uma comunidade muito pobre.
A única família que possuía um rádio era a de Mané Padeiro, berço de vários jogadores de futebol: além de Lima, citado acima, Lafayete, Beto, Nado e Manoelito. O grande zagueiro Zé de Chico, do Itabaiana, é casado com uma filha de Mané Padeiro.
Quando Tinda nasceu (08/02/1952), o pai trabalhava num órgão de fomento agrícola (Fazenda Grande), e tomou como padrinho para o filho, o Dr. Cansanção, engenheiro-agrônomo e chefe da repartição.
O Dr. Cansanção deu ao novo afilhado, Tinda, uma cabra parida. Garantiu o leite da criança, por um bom tempo. Tinda é de uma família de 13 irmãos, não frequentou a escola. Aprendeu a arte de sapateiro. Ainda fabrica sandálias de couro, para completar a renda da aposentadoria.
No Tabuleiro dos Caboclos, os Pretos eram quase todos parentes. Seu Raimundo, o pai de Tinda, era irmão de Divo, um preto de porte atlético, zagueiro do Itabaiana; irmão de Seu Deca, pai de Zé de Vitinha, ponta esquerda de rara habilidade; de Dona Preta, mãe de Nado Preto e Tica, dois craques; de Tonho de Zeferino e de Seu Rufino, um pataqueiro que limpava mil covas por dia.
Outros Pretos se destacaram no futebol itabaianense: Tonho e Zé de Preta, filho do finado João Babão; Cosme e Damião, gêmeos, filhos de João Barraca, Augusto e Elisio, filhos do bodegueiro Zé Mapinguim; Turinha, sobrinho de Osano, Pai de Santo. Sem contar os Pretos importados de Maruim: Pierrô, Bonito e Seu Jorge (goleiro).
Os pretos também se destacaram na música. O maestro Antonio Silva foi uma grande estrela. Maestro da Filarmônica e compositor. Pai do Professor Airton (Órion), de Nilo Base, alfaiate e jogador de futebol, e de Seu Bebé dos Passarinhos.
Sobre Nilo Base no futebol, Antonio de Dóci deu uma definição inusitada: “Nilo corria bem, chutava forte, cabeceava com força, sabia driblar, mas não era um bom jogador.” Como assim, eu perguntei. Seu Antonio foi sucinto: “Ele fazia tudo isso na hora errada.”
Hoje, o Bairro São Cristóvão não tem mais nem paneleiros, nem jogadores de futebol. A última artesã do barro é Nega, que mora no Povoado Cajueiro, onde mantém um Terreiro de Umbanda.
Acho que essa visão que em Itabaiana não tem Pretos é falsa. Todos citados acima, com quem convivi, são Pretos, ou quase Pretos, como diz Caetano Veloso. Foram eles que praticavam o futebol e faziam panelas em Itabaiana.
Observação: esqueci de muitos Pretos. Eu fiz dupla de ataque no Cantagalo, com Tinda (foto). Ele um craque, eu esforçado.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. FIOTE DA CASTANHA.
Itabaiana – 350 anos. Fiote da Castanha.
(por Antonio Samarone)
Everton Souza Nascimento (Fiote da Castanha), nasceu 09 de julho de 1977, no Povoado Estreito, vizinho ao Polígono da Castanha (Carrilho, Dendezeiro e Tabocas), ao Mundo Novo e ao Dunga, em Itabaiana.
Antes da castanha, era uma região de feirantes livres e pataqueiros pobres.
Fiote da Castanha é filho de Elionaldo Nascimento, conhecido por Leão, motorista de caminhão. A mãe, é Dona Décia Souza. Uma família de 4 irmãos (Everton, Elisângela, Elionaldo e Josefa).
Fiote, demorou pouco na escola, era preciso ganhar a vida. Aos 12 anos, já vendia verduras nas feiras, com um cesto na cintura. Apreendeu cedo a vender, cativar o cliente, tornar o que está vendendo uma necessidade. Sempre de bom humor.
O comércio de Itabaiana cresceu, pela alma empreendedora do seu povo. Fiote é um bom exemplo: ganha a vida pelo trabalho, pelo dom de ser bom comerciante. Logo cedo, Fiote começou a levar a castanha assada de Itabaiana, para o resto do Brasil. Foi um desbravador da venda da castanha assada em Salvador e no Rio de Janeiro.
Até hoje, Fiote vende castanha. Não viaja mais, como faz uma legião de itabaianenses, que percorrem o Brasil com um saco de castanha nos braços, vendendo e divulgando Itabaiana. São mais de 500.
Fiote da Castanha casou cedo, aos 19 anos, com Dona Giselma, com quem teve três filhos: Davi, Sara e Natã. Isso mesmo, o Natãzinho Lima, sucesso nacional da música brega. Fiote está em num segundo casamento, com a aracajuana Fernanda.
A vida de Fiote foi a de um itabaianense médio, voltada para ganhar dinheiro, e gastar em farras. Festeiro, torcedor do Tremendão da Serra e do Flamengo. Fiote seguia a sua rotina anônima, até aparecer um filho famoso. Ficou conhecido, por conta desse filho famoso e rico.
Fiote tem uma personalidade forte e uma autoestima dos itabaianenses, bairrista até o pescoço. Sabe o que quer, respeita as raízes e as velhas amizades. Nunca será apenas o Pai de Natãzinho.
Como surgiu uma estrela da musica popular, saindo de uma família de trabalhadores, sem raízes musicais. Se foi herança, foi um gene muito recessivo. Quando menino, Natãzinho queria ser caminhoneiro, seguir o destino do Avô, Seu Leão.
Ele nunca perdeu a tradicional carreata de caminhões de brinquedo, que ocorre em Itabaiana, como parte da festa dos caminhoneiros, em junho.
Certa feita, Natãzinho, aos 14 anos, foi com o irmão Davi, fazer um bico de garçom numa festa particular, no Povoado Maitapam. A festa era animada por um conjunto musical, da região. Sem maiores pretensões, Natãzinho desafiou o irmão: “quer apostar que se deixarem, eu vou ao palco e canto uma música?” Apostaram e ele ganhou. Cantou tão bem, que o povo da festa começou a pedir bis.
Natãzinho ganhou animação e passou a cantar em tudo que era lugar, festas, barzinhos. Os amigos, Maicon, do Batata Frita; Adinaldo, do Posto Esquina e Garrafinha, entre outros, patrocinaram a gravação de um CD. Ele mandou o CD, para o produtor Charles e para o empresário Genílton. Eles não gostaram!
Natãzinho inventou um show chamado “de bar, em bar”. O de bar, em bar, número 4, foi na Marianga, um bairro popular de Itabaiana, onde vivia a sua família. A festa estourou, foi um grande sucesso. O sucesso de outro show na Barragem do Campo do Brito, estourou nas redes sociais.
Daí, ele se profissionaliza, cria a sua banda, faz amizades com os cantores famosos no estilo dele, com destaque para a parceria com Safadão. Aos 22 anos, Natâzinho saí da venda de castanha, ajudando ao pai, para sucesso nacional. Hoje, reside em São Paulo.
Não é fácil sair de Itabaiana, de família de trabalhadores, sem padrinhos, chegar a fama. Não é à toa que os vencedores são poucos. Até agora, a fama e a riqueza, não quebraram as raízes de Natâzinho.
Ele incorporou em sua música, o espirito de caminhoneiro do seu avô, Seu Leão; o empreendedorismo e o bom humor do pai (Fiote da Castanha); e a alma do povo de Itabaiana (fio do canso) e o bairrismo do Mestre Orpilio.
Ainda é cedo, mas até agora, a humildade de quem conhece e ama as origens, continua espelhada na testa. Não deixe o sucesso sombrear a sua humildade.
No último “de bar, em bar”, que ele fez em Itabaiana, em praça público, eu fiquei de longe, observando. As pessoas passavam aos lotes, apressadas, era um dia de semana, todas comemorando o seu sucesso, como uma vitória coletiva da cidade, como um título do Tricolor.
Perguntei a seu pai, Fiote da Castanha, quais os motivos do sucesso do filho, além da voz afinada e da sorte. Ele foi certeiro: “o povo de Itabaiana abraçou Natãzinho desde cedo.” Eu comecei a entender...
A minha praia musical é outra, gosto de outros estilos, mas não posso esconder: o seu sucesso, a sua humildade, a sua ligação com as raízes itabaianenses e com os caminhoneiros, me envaidecem.
Fiote da Castanha soube criar os filhos!
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Everton Souza Nascimento (Fiote da Castanha), nasceu 09 de julho de 1977, no Povoado Estreito, vizinho ao Polígono da Castanha (Carrilho, Dendezeiro e Tabocas), ao Mundo Novo e ao Dunga, em Itabaiana.
Antes da castanha, era uma região de feirantes livres e pataqueiros pobres.
Fiote da Castanha é filho de Elionaldo Nascimento, conhecido por Leão, motorista de caminhão. A mãe, é Dona Décia Souza. Uma família de 4 irmãos (Everton, Elisângela, Elionaldo e Josefa).
Fiote, demorou pouco na escola, era preciso ganhar a vida. Aos 12 anos, já vendia verduras nas feiras, com um cesto na cintura. Apreendeu cedo a vender, cativar o cliente, tornar o que está vendendo uma necessidade. Sempre de bom humor.
O comércio de Itabaiana cresceu, pela alma empreendedora do seu povo. Fiote é um bom exemplo: ganha a vida pelo trabalho, pelo dom de ser bom comerciante. Logo cedo, Fiote começou a levar a castanha assada de Itabaiana, para o resto do Brasil. Foi um desbravador da venda da castanha assada em Salvador e no Rio de Janeiro.
Até hoje, Fiote vende castanha. Não viaja mais, como faz uma legião de itabaianenses, que percorrem o Brasil com um saco de castanha nos braços, vendendo e divulgando Itabaiana. São mais de 500.
Fiote da Castanha casou cedo, aos 19 anos, com Dona Giselma, com quem teve três filhos: Davi, Sara e Natã. Isso mesmo, o Natãzinho Lima, sucesso nacional da música brega. Fiote está em num segundo casamento, com a aracajuana Fernanda.
A vida de Fiote foi a de um itabaianense médio, voltada para ganhar dinheiro, e gastar em farras. Festeiro, torcedor do Tremendão da Serra e do Flamengo. Fiote seguia a sua rotina anônima, até aparecer um filho famoso. Ficou conhecido, por conta desse filho famoso e rico.
Fiote tem uma personalidade forte e uma autoestima dos itabaianenses, bairrista até o pescoço. Sabe o que quer, respeita as raízes e as velhas amizades. Nunca será apenas o Pai de Natãzinho.
Como surgiu uma estrela da musica popular, saindo de uma família de trabalhadores, sem raízes musicais. Se foi herança, foi um gene muito recessivo. Quando menino, Natãzinho queria ser caminhoneiro, seguir o destino do Avô, Seu Leão.
Ele nunca perdeu a tradicional carreata de caminhões de brinquedo, que ocorre em Itabaiana, como parte da festa dos caminhoneiros, em junho.
Certa feita, Natãzinho, aos 14 anos, foi com o irmão Davi, fazer um bico de garçom numa festa particular, no Povoado Maitapam. A festa era animada por um conjunto musical, da região. Sem maiores pretensões, Natãzinho desafiou o irmão: “quer apostar que se deixarem, eu vou ao palco e canto uma música?” Apostaram e ele ganhou. Cantou tão bem, que o povo da festa começou a pedir bis.
Natãzinho ganhou animação e passou a cantar em tudo que era lugar, festas, barzinhos. Os amigos, Maicon, do Batata Frita; Adinaldo, do Posto Esquina e Garrafinha, entre outros, patrocinaram a gravação de um CD. Ele mandou o CD, para o produtor Charles e para o empresário Genílton. Eles não gostaram!
Natãzinho inventou um show chamado “de bar, em bar”. O de bar, em bar, número 4, foi na Marianga, um bairro popular de Itabaiana, onde vivia a sua família. A festa estourou, foi um grande sucesso. O sucesso de outro show na Barragem do Campo do Brito, estourou nas redes sociais.
Daí, ele se profissionaliza, cria a sua banda, faz amizades com os cantores famosos no estilo dele, com destaque para a parceria com Safadão. Aos 22 anos, Natâzinho saí da venda de castanha, ajudando ao pai, para sucesso nacional. Hoje, reside em São Paulo.
Não é fácil sair de Itabaiana, de família de trabalhadores, sem padrinhos, chegar a fama. Não é à toa que os vencedores são poucos. Até agora, a fama e a riqueza, não quebraram as raízes de Natâzinho.
Ele incorporou em sua música, o espirito de caminhoneiro do seu avô, Seu Leão; o empreendedorismo e o bom humor do pai (Fiote da Castanha); e a alma do povo de Itabaiana (fio do canso) e o bairrismo do Mestre Orpilio.
Ainda é cedo, mas até agora, a humildade de quem conhece e ama as origens, continua espelhada na testa. Não deixe o sucesso sombrear a sua humildade.
No último “de bar, em bar”, que ele fez em Itabaiana, em praça público, eu fiquei de longe, observando. As pessoas passavam aos lotes, apressadas, era um dia de semana, todas comemorando o seu sucesso, como uma vitória coletiva da cidade, como um título do Tricolor.
Perguntei a seu pai, Fiote da Castanha, quais os motivos do sucesso do filho, além da voz afinada e da sorte. Ele foi certeiro: “o povo de Itabaiana abraçou Natãzinho desde cedo.” Eu comecei a entender...
A minha praia musical é outra, gosto de outros estilos, mas não posso esconder: o seu sucesso, a sua humildade, a sua ligação com as raízes itabaianenses e com os caminhoneiros, me envaidecem.
Fiote da Castanha soube criar os filhos!
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
sábado, 29 de março de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. MEU PÉ DE LARANJA LIMA
Itabaiana – 350 anos. Meu Pé de Laranja Lima.
(por Antonio Samarone)
O mundo está aquecendo. O Prefeito Valmir decidiu: Itabaiana vai plantar árvores!
Reunimos (foto) o secretário do meio ambiente, Vinicius Moura; o da agricultura, Erotildes de Jesus; a agrônoma Susi Alves e o técnico em agronegócios Breno Veríssimo, para tratarmos do assunto.
Primeira constatação: não é fácil arborizar! Desmatamos por 400 anos, para fazer roça e criar gado. Itabaiana veio morar na cidade a duas gerações. Temos as raízes rurais. A cidade a base de cimento, aço, blindex e asfalto é vista como um progresso, encanta muita gente.
Nunca nos afeiçoamos as plantas. Temos animais de estimação, raramente adotamos uma planta. As árvores nunca foram chamadas pelos nomes próprios. São genericamente pés-de-pau. É fácil derrubá-las, sem nenhum peso na consciência. As folhas caídas são consideradas sujeiras.
Na infância, eu me emocionei com o Pé de Laranja Lima, do romance de José Mauro de Vasconcellos. Na prática, recordo-me do Pé de Jaboticaba que levava o nome de mamãe, em um sítio nas Flechas. O meu avô era estranho, batizava as frutíferas com os nomes das filhas.
Sem uma mudança na relação das pessoas com o meio ambiente, não adianta contratar uma empresa para plantar árvores. Plantar ainda planta, mas não viceja. Sem o cuidado e o carinho do poder público e da sociedade, a muda não cresce, não chega ao seu destino.
Basta o exemplo do Aracaju. Os canteiros centrais das avenidas são cemitérios de mudas. O índice de aproveitamento não chega a vinte por cento. Sem os manguezais, Aracaju seria um deserto. Desmataram até o Parque da Sementeira.
Itabaiana não fica atrás, a cobertura vegetal é muito baixa. Em minha infância, cada quintal tinha as suas fruteiras. O meu, tinha um frondoso jenipapeiro. Hoje, o que restou dos quintais foram cimentados.
A segunda constatação: a arborização é um trabalho de parceria da prefeitura com as escolas, as agências ambientais, as universidades, as empresas, a imprensa, as igrejas, sindicatos, ambientalistas e as pessoas de boa vontade. Sem uma união consciente, a realidade ambiental não muda.
Vamos buscar parceria com os alunos de educação ambiental da UFS. E com quem estiver disposto a ajudar. Sem medo das dificuldades, vamos criar uma Itabaiana mais verde. Vamos em busca de aliados, para elevar a qualidade de vida.
A arborização não pode ficar limitada a Zona Urbana. Em Itabaiana, muita gente que cresce economicamente, volta ao campo, construindo chácaras faraônicas, belas casas e piscinas com cascata. Geralmente, cortam as árvores que existiam.
Vamos plantar as árvores que nos tocam. Sem preconceitos. As craibeiras do sertão são bem-vindas. Os ipês-amarelos do pé da Serra. Canafístulas, pau-brasil, juazeiros, quixabeiras, dendezeiros, moringas, mangueiras e jaqueiras.
Eu quero um pé de pitomba, igual ao da minha infância, no Canto Escuro, ao lado da casa de Dona Gemelice.
A arborização segue as raízes culturais de cada comunidade. Por isso, fui convidado para a reunião.
Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
O mundo está aquecendo. O Prefeito Valmir decidiu: Itabaiana vai plantar árvores!
Reunimos (foto) o secretário do meio ambiente, Vinicius Moura; o da agricultura, Erotildes de Jesus; a agrônoma Susi Alves e o técnico em agronegócios Breno Veríssimo, para tratarmos do assunto.
Primeira constatação: não é fácil arborizar! Desmatamos por 400 anos, para fazer roça e criar gado. Itabaiana veio morar na cidade a duas gerações. Temos as raízes rurais. A cidade a base de cimento, aço, blindex e asfalto é vista como um progresso, encanta muita gente.
Nunca nos afeiçoamos as plantas. Temos animais de estimação, raramente adotamos uma planta. As árvores nunca foram chamadas pelos nomes próprios. São genericamente pés-de-pau. É fácil derrubá-las, sem nenhum peso na consciência. As folhas caídas são consideradas sujeiras.
Na infância, eu me emocionei com o Pé de Laranja Lima, do romance de José Mauro de Vasconcellos. Na prática, recordo-me do Pé de Jaboticaba que levava o nome de mamãe, em um sítio nas Flechas. O meu avô era estranho, batizava as frutíferas com os nomes das filhas.
Sem uma mudança na relação das pessoas com o meio ambiente, não adianta contratar uma empresa para plantar árvores. Plantar ainda planta, mas não viceja. Sem o cuidado e o carinho do poder público e da sociedade, a muda não cresce, não chega ao seu destino.
Basta o exemplo do Aracaju. Os canteiros centrais das avenidas são cemitérios de mudas. O índice de aproveitamento não chega a vinte por cento. Sem os manguezais, Aracaju seria um deserto. Desmataram até o Parque da Sementeira.
Itabaiana não fica atrás, a cobertura vegetal é muito baixa. Em minha infância, cada quintal tinha as suas fruteiras. O meu, tinha um frondoso jenipapeiro. Hoje, o que restou dos quintais foram cimentados.
A segunda constatação: a arborização é um trabalho de parceria da prefeitura com as escolas, as agências ambientais, as universidades, as empresas, a imprensa, as igrejas, sindicatos, ambientalistas e as pessoas de boa vontade. Sem uma união consciente, a realidade ambiental não muda.
Vamos buscar parceria com os alunos de educação ambiental da UFS. E com quem estiver disposto a ajudar. Sem medo das dificuldades, vamos criar uma Itabaiana mais verde. Vamos em busca de aliados, para elevar a qualidade de vida.
A arborização não pode ficar limitada a Zona Urbana. Em Itabaiana, muita gente que cresce economicamente, volta ao campo, construindo chácaras faraônicas, belas casas e piscinas com cascata. Geralmente, cortam as árvores que existiam.
Vamos plantar as árvores que nos tocam. Sem preconceitos. As craibeiras do sertão são bem-vindas. Os ipês-amarelos do pé da Serra. Canafístulas, pau-brasil, juazeiros, quixabeiras, dendezeiros, moringas, mangueiras e jaqueiras.
Eu quero um pé de pitomba, igual ao da minha infância, no Canto Escuro, ao lado da casa de Dona Gemelice.
A arborização segue as raízes culturais de cada comunidade. Por isso, fui convidado para a reunião.
Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.
terça-feira, 25 de março de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. O FOTÓGRAFO COBERTURA.
Itabaiana – 350 anos. O fotógrafo Cobertura.
(por Antonio Samarone)
Jurandir Rosa de Jesus (Cobertura), 70 anos, paciente de Lair Ribeiro, natural de Maruim, nasceu em 11 de janeiro de 1956. Veio para Itabaiana em 26 de agosto de 1985, um sábado à tarde, para assistir a uma partida do Maruinense contra o Itabaiana. Ficou na casa de Dona Maria São Pedro.
Cobertura ficou encantado com Itabaiana: tinha o Tik-Tok de Adilson e João Patola; o Le Romantique de Gud-Gud e a Lanchoteca de Zé de Quinquim. Era muita modernidade. A cidade não dormia.
Cobertura, não pensou duas vezes, arrumou as malas e se transferiu para Itabaiana. Trouxe a esposa, Dona Nailza. Hoje, possui três filhos e três netos.
Em Maruim, Jurandir era empregado da Fábrica de Tecido Maísa, de Constâncio Vieira. Em Itabaiana, virou autônomo, tornou-se fotógrafo, fez amizades, melhorou a qualidade de vida. Somou-se a Romeu, Juracy, Dona Helena, e os crentes João e Miguel. Uma profissão estabelecida.
Cobertura fez a escolha certa, Itabaiana foi o berço da fotografia em Sergipe. Nunca lhe faltaram serviços: batizados, casamentos, festas e folguedos. Fotografou até enterros.
Itabaiana deve aos fotógrafos parte da sua memória. Miguel Teixeira, Joãozinho Retratista, Percílio Andrade, Paulinho de Doci, entre outros, deixaram fotos icônicas da cidade serrana. Hoje, já foram até animadas, passaram a se movimentar, sorrir e falar.
A entrada da Era Digital deu um susto nos fotógrafos, mestres na revelação perderam a relevância. E agora, com os iPhones clicando sozinhos, com a praga das selfies, todos se autofotografando, os fotógrafos profissionais perderam o mercado.
Os telefones fazem as fotos sozinhos e a inteligência artificial controla a luz e o enquadramento. O “DeepSeek”, IA chinesa, atende ao comando de voz. Aparece nas fotos até quem já morreu.
Basta ordenar: eu quero uma foto do meu aniversário, com todos felizes e sorridentes. Ao fundo, quero os meus avós, que faleceram há décadas. Basta ligar o iPhone, botá-lo apontando para a cena e sair de perto. As fotos sairão no Instagram, em segundos.
Uma luta perdida, a dos fotógrafos. Em Itabaiana, restam três “studios”, para fotos três por quatro.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Jurandir Rosa de Jesus (Cobertura), 70 anos, paciente de Lair Ribeiro, natural de Maruim, nasceu em 11 de janeiro de 1956. Veio para Itabaiana em 26 de agosto de 1985, um sábado à tarde, para assistir a uma partida do Maruinense contra o Itabaiana. Ficou na casa de Dona Maria São Pedro.
Cobertura ficou encantado com Itabaiana: tinha o Tik-Tok de Adilson e João Patola; o Le Romantique de Gud-Gud e a Lanchoteca de Zé de Quinquim. Era muita modernidade. A cidade não dormia.
Cobertura, não pensou duas vezes, arrumou as malas e se transferiu para Itabaiana. Trouxe a esposa, Dona Nailza. Hoje, possui três filhos e três netos.
Em Maruim, Jurandir era empregado da Fábrica de Tecido Maísa, de Constâncio Vieira. Em Itabaiana, virou autônomo, tornou-se fotógrafo, fez amizades, melhorou a qualidade de vida. Somou-se a Romeu, Juracy, Dona Helena, e os crentes João e Miguel. Uma profissão estabelecida.
Cobertura fez a escolha certa, Itabaiana foi o berço da fotografia em Sergipe. Nunca lhe faltaram serviços: batizados, casamentos, festas e folguedos. Fotografou até enterros.
Itabaiana deve aos fotógrafos parte da sua memória. Miguel Teixeira, Joãozinho Retratista, Percílio Andrade, Paulinho de Doci, entre outros, deixaram fotos icônicas da cidade serrana. Hoje, já foram até animadas, passaram a se movimentar, sorrir e falar.
A entrada da Era Digital deu um susto nos fotógrafos, mestres na revelação perderam a relevância. E agora, com os iPhones clicando sozinhos, com a praga das selfies, todos se autofotografando, os fotógrafos profissionais perderam o mercado.
Os telefones fazem as fotos sozinhos e a inteligência artificial controla a luz e o enquadramento. O “DeepSeek”, IA chinesa, atende ao comando de voz. Aparece nas fotos até quem já morreu.
Basta ordenar: eu quero uma foto do meu aniversário, com todos felizes e sorridentes. Ao fundo, quero os meus avós, que faleceram há décadas. Basta ligar o iPhone, botá-lo apontando para a cena e sair de perto. As fotos sairão no Instagram, em segundos.
Uma luta perdida, a dos fotógrafos. Em Itabaiana, restam três “studios”, para fotos três por quatro.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
domingo, 23 de março de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. DOLORES DURAN.
Itabaiana – 350 anos. Dolores Duran.
(por Antonio Samarone)
Para os mais novos, Dolores Duram foi uma estrela da música brasileira na década de 1950. Antes da bossa nova e da televisão. Adiléia Silva da Rocha, a Dolores, nasceu em 07 de junho de 1930, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Dolores é filha de Dona Josepha da Silva Rocha, costureira, natural de Itabaiana. Aqui reside o meu interesse maior. Josepha nasceu em 1912. Ficou órfã muito cedo, foi morar com um tio, em um sítio, na Zona Rural. Uma vida sofrida, onde os espancamentos domiciliar eram frequentes.
Aos 12 anos, um primo mais velho, marinheiro, a levou para o Rio de Janeiro, numa longa e sofrida viagem. Antes dos paus-de-arara. Semianalfabeta, Dona Josepha foi ser costureira. Contudo, era uma mulher muito inteligente, repentista e cantora de voz suave. Josepha era boa de gogó, afinadíssima. Dolores tem a quem puxar.
Josepha da Silva Rocha, faleceu em 1999, aos 87 anos. Ouvi dizer que Josepha voltou à Itabaiana na década de 1980, visitar a sua terra natal. Estou tentando encontrar os seus parentes.
Dolores Duran, começou cedo na vida artística. Em 1941, aos onze anos, ganhou nota máxima no temido programa de Ary Barroso, interpretando “Vereda Tropical”, um bolero famoso de Gonzalo Curiel.
Dolores, a filha de Dona Josepha de Itabaiana, vida humilde, de formação autodidata, cantava em castelhano, francês e inglês, com uma pronúncia perfeita. Foi do tempo de grandes cantoras: Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Marlene, Linda Batista e Virginia Lane.
Dolores Duran foi amiga de Mário Lago e, através dele, se aproximou do socialismo. Excursionou pela União Soviética, em 1958.
Dolores Duran, mulata, pobre, pelo talento, em pouco tempo frequentava as rodas intelectuais e boemias do Rio de Janeiro. Apreendeu a tocar violão e tornou-se uma compositora de vanguarda. Festeira e namoradeira. Faleceu cedo, em 24 de outubro de 1959, aos 29 anos. Infartou, em decorrência de uma cardiopatia ocasionada pela sequela de uma febre reumática, mal curada.
O funeral da cantora, foi num domingo, as 15 horas, no Cemitério do Caju. Foi enterrada na quadra 55, sepultura 21.555. Como disse um cronista: uma legião de fãs e admiradores acompanharam o sepultamento.
Dona Josepha, a mãe, teve mais três filhos: Hilton, funcionário Público; Hilda, operária; e Irley, a mais nova, que chegou a cantar, com o pseudônimo de Denise Duran.
Dolores Duran foi registrada no cartório, apenas com o nome da mãe. O pai era um policial chamado Antonio Dias, que nunca assumiu. Dolores foi criada por Seu Armindo, pernambucano, e padrasto.
Essa é a história do povo brasileiro. De tantos anônimos, como diz João Bosco: são pais de santo, paus de arara, são passistas, são flagelados, são pingentes, balconistas, palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados...
São tantas Josephas, Marias, Adiléias em busca de mostrarem os seus talentos. A tarefa da cultura é recuperar as memórias perdidas.
Dolores Duran, a filha de Dona Josepha de Itabaiana, encantou o mundo com o seu talento. Agora, vou esmiuçar as raízes de sua mãe, para fazer um registro mais completo.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Para os mais novos, Dolores Duram foi uma estrela da música brasileira na década de 1950. Antes da bossa nova e da televisão. Adiléia Silva da Rocha, a Dolores, nasceu em 07 de junho de 1930, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Dolores é filha de Dona Josepha da Silva Rocha, costureira, natural de Itabaiana. Aqui reside o meu interesse maior. Josepha nasceu em 1912. Ficou órfã muito cedo, foi morar com um tio, em um sítio, na Zona Rural. Uma vida sofrida, onde os espancamentos domiciliar eram frequentes.
Aos 12 anos, um primo mais velho, marinheiro, a levou para o Rio de Janeiro, numa longa e sofrida viagem. Antes dos paus-de-arara. Semianalfabeta, Dona Josepha foi ser costureira. Contudo, era uma mulher muito inteligente, repentista e cantora de voz suave. Josepha era boa de gogó, afinadíssima. Dolores tem a quem puxar.
Josepha da Silva Rocha, faleceu em 1999, aos 87 anos. Ouvi dizer que Josepha voltou à Itabaiana na década de 1980, visitar a sua terra natal. Estou tentando encontrar os seus parentes.
Dolores Duran, começou cedo na vida artística. Em 1941, aos onze anos, ganhou nota máxima no temido programa de Ary Barroso, interpretando “Vereda Tropical”, um bolero famoso de Gonzalo Curiel.
Dolores, a filha de Dona Josepha de Itabaiana, vida humilde, de formação autodidata, cantava em castelhano, francês e inglês, com uma pronúncia perfeita. Foi do tempo de grandes cantoras: Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Marlene, Linda Batista e Virginia Lane.
Dolores Duran foi amiga de Mário Lago e, através dele, se aproximou do socialismo. Excursionou pela União Soviética, em 1958.
Dolores Duran, mulata, pobre, pelo talento, em pouco tempo frequentava as rodas intelectuais e boemias do Rio de Janeiro. Apreendeu a tocar violão e tornou-se uma compositora de vanguarda. Festeira e namoradeira. Faleceu cedo, em 24 de outubro de 1959, aos 29 anos. Infartou, em decorrência de uma cardiopatia ocasionada pela sequela de uma febre reumática, mal curada.
O funeral da cantora, foi num domingo, as 15 horas, no Cemitério do Caju. Foi enterrada na quadra 55, sepultura 21.555. Como disse um cronista: uma legião de fãs e admiradores acompanharam o sepultamento.
Dona Josepha, a mãe, teve mais três filhos: Hilton, funcionário Público; Hilda, operária; e Irley, a mais nova, que chegou a cantar, com o pseudônimo de Denise Duran.
Dolores Duran foi registrada no cartório, apenas com o nome da mãe. O pai era um policial chamado Antonio Dias, que nunca assumiu. Dolores foi criada por Seu Armindo, pernambucano, e padrasto.
Essa é a história do povo brasileiro. De tantos anônimos, como diz João Bosco: são pais de santo, paus de arara, são passistas, são flagelados, são pingentes, balconistas, palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados...
São tantas Josephas, Marias, Adiléias em busca de mostrarem os seus talentos. A tarefa da cultura é recuperar as memórias perdidas.
Dolores Duran, a filha de Dona Josepha de Itabaiana, encantou o mundo com o seu talento. Agora, vou esmiuçar as raízes de sua mãe, para fazer um registro mais completo.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
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