Aqui há inteligência!
(por Antonio Samarone)
Nunca ouvi uma explicação consistente para a explosão intelectual em Sergipe, no final do século XIX. O que ocorreu?
Uma Província economicamente irrelevante, geograficamente reduzida e historicamente inexpressiva, produzir tantos nomes de expressão nacional.
Só como exemplo, a Academia Brasileira de Letras já acolheu vários sergipanos. Parece gabolice, mas é verdade.
Do mesmo modo, não se sabe explicar o deserto intelectual sergipano na atualidade. O último nome com reconhecimento nacional foi Joel Silveira. A inteligência nasceu e morreu em Sergipe sem dar explicações.
O grande Gilberto Freire disse uma verdade, sobre o Sergipe antigo:
“De Sergipe, o brasileiro de outro Estado, por mais ignorante que seja da geografia, da paisagem, da produção agrícola, da atividade econômica deste pequeno, mas ilustre pedaço do Brasil, saberá sempre dizer, para caracterizar no mapa brasileiro a província sergipana: aqui há inteligência!”
E havia!
João Ribeiro, nascido em Laranjeiras em 1860, não pode ser esquecido. Fez curso de humanidades no Atheneu Sergipense e formou-se em direito no Rio de Janeiro. Ocupou a cadeira 31, na Academia Brasileira de Letras.
Em sua posse na Academia, João Ribeiro foi saudado por José Verissimo, historiador e pensador paraense:
“A “Corte” não vos deslumbrou suficientemente, a vós, pobre matuto de uma província ignorada, para absorver-vos e acomodar-vos a seu jeito. Do agreste rebelde dos vossos sertões ficou-vos alguma coisa com que defendestes até hoje a vossa originalidade. E essa, crede-o bem, a Academia não quisera contribuir para tirar-vos ou sequer diminuí-la.”
Em suas memórias, João Ribeiro, se expressou:
“Fiz alguns versos e desanimei da poesia. Minhas ideias são volúveis e fugazes com os pássaros de Aristófanes. Ao cabo de tamanha canseira, não fiz coisa alguma, a não ser essa estúpida vanglória de ser conhecido sem saber como e por quê.”
“Os meus pecados são poucos nessa fase inábil da velhice. É possível que a impiedade seja o único defeito irreparável de minha vida. Assim pois, meus senhores, amigos e inimigos, frades e confrades, sabei que eu sou um pecador velho, como “vos omnes”...”
“Não tenho medo da morte nem me preparo para ela. Nem temo o Inferno, nem aspiro o Paraíso. Confio que a minha pulverização será silenciosa e magnífica.”
João Ribeiro deixou o seu epitáfio escrito: “Mais um de menos.”
Certe feita procurei uma autoridade aracajuana da cultura para falar sobre João Ribeiro, fui recebido com enfado. O comissário estava atarefado, organizando o próximo “Verão Aracaju”, na Orla de Atalaia.
Voltando a Gilberto Freire, que professava uma certa inveja por Tobias Barreto, por ele ter sido bem sucedido intelectualmente em Pernambuco, Freire sempre que encontrava um Sergipano, dizia enfaticamente: “Em sua terra, grande foi João Ribeiro.”
João Ribeiro escreveu, entre tantas coisas, um clássica Gramática Portuguesa, cheia de erudição e curiosidades sobre a língua, desconhecida em Sergipe.
João Ribeiro foi uma águia do antigo ninho sergipano de intelectuais.
Faleceu no Rio de Janeiro, em abril de 1934.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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