O Reencantamento do Mundo.
(por Antonio Samarone)
Os ateus convictos, puro-sangue, materialistas, perderam terreno, cederam espaços para os agnósticos, céticos e indiferentes.
O homem, em sua solidão e angústia, desiludido com o humanismo, perdeu a certeza da morte de Deus, tantas vezes proclamada.
Existe uma crise da descrença?
O homem primitivo era ateu ou religioso? Existe incompatibilidade ente a religião e a ciência na explicação do mundo? Essas polêmicas não estão resolvidas.
Para protegermo-nos dos dilúvios e alcançarmos o céu, construímos a Torre. Essa independência foi condenada por Deus, fomos castigados e Babel foi derrotada. Deixamos de falar a mesma língua e houve uma grande desunião entre os homens, que perdura.
O ateísmo é antigo. Quando o Cristianismo chegou, ele já existia. O ateísmo foi uma tentativa do homem em criar sentido para si mesmo.
Em nome da razão, o Iluminismo dessacralizou o mundo, pois fim ao transcendente, ao sobrenatural, trocou a metafísica pela física.
O século XIX tentou substituir o Deus da fé pelo Deus da razão. O homem se tornou um livre pensador. O Existencialismo negou Deus em nome da liberdade.
Nietzsche pregava que a morte de Deus, nos levaria a dois caminhos: um, onde os valores morais e metafísicos ligados às divindades permaneceriam, prevalecendo a moral do escravo, criando-se outras religiões; outro, onde nasceria um super-homem, nada seria verdadeiro e tudo seria possível. O "super-homem" deu no Nazismo.
Voltando a Nietzsche:
“Onde está Deus – gritava ele – eu vos direi! Nós o matamos – vós e eu. Somos todos os assassinos de Deus... O que o mundo possuía de mais sagrado, de mais poderoso, sangrou sob nossos punhais – quem lavará de nós a mancha de sangue? Que festas expiatórias, que jogos sagrados teremos de inventar?”
Entretanto, entramos no século XXI, com o ateísmo em crise. A fé se dispersou numa espiritualidade difusa. Houve um tempo do Pai, um tempo do Filho e agora, estamos no tempo do Espírito Santo. O Cristianismo se fragmentou em centenas de congregações.
No entanto, Deus está vivo!
Nessa ausência de critérios, as igrejas passaram a representar a todos, crentes e descrentes, justos e pecadores, viramos um só rebanho desunido. Finalmente, a Torre de Babel se realizou.
A necessidade do sagrado retornou pela falência do profano, por sua incapacidade em resolver as angústias humanas. A inteligência artificial se afasta do homem.
Acordei essa madrugada com um sonho besta: o profeta Isaias apareceu, esclarecendo a tal mensagem secreta do SARS-CoV-2, o recado da Peste:
“A vida deve ser ressacralizada, mesmo entre os ateus. O lobo e o cordeiro (crentes, descrentes e indiferentes) apascentando juntos (isto eu já sabia). O retorno à vida simples, minimalista, natural, respeitando o meio ambiente.”
O sagrado, o sobrenatural e o divino passarão a ser fontes de uma atitude trans-religiosa.
Essa confusão toda, com milhares de mortos e sequelados, confinamentos, economia paralisada, só para dizer que o desencantamento do mundo foi um erro.
Isso eu também já sabia!
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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