A Nova Normalidade...
(por Antonio Samarone)
Depois da Pandemia, um chavão caiu na boca do povo: “depois da Peste, teremos uma nova normalidade”. Das socialites aos economistas, dos jornalistas aos filósofos, dos juristas ao baixo clero, sem exceção, todos enxergam essa “nova normalidade”.
Cada um a seu modo...
O Dr. Paphonso Azevedo é o sergipano mais entusiasmado com a “nova normalidade”. O mais criativo. Economista do antigo CONDESE, discípulo de Aloiso Campos, intelectual com formação na CEPAL, na mesma linha de Celso Furtado. O Dr. Paphonso chegou a trabalhar na SUDENE.
Na Juventude, o nosso economista flertava com o pensamento de esquerda, dizem que chegou a ler Marx, superficialmente. Hoje, beirando aos 70 anos, ele é um seguidor do neoliberalismo extremado, esse do Paulo Guedes.
O Dr. Paphonso vê comunismo em tudo que não concorda. Ele fala sobre o marxismo cultural sem pejo, mesmo sem nunca ter lido nada sobre o tema. O marxismo cultural é um biombo cognitivo, usado para condenar de músicas e poemas que ele não gosta, a virtualidade do aquecimento global.
Na Província de Sergipe del’ Rey, o Dr. Paphonso Azevedo é uma sumidade. Escreve crônicas, filosofa e verseja. Prega na Hora Católica. Nunca entrou para a Academia de Letras por cisma, disse uma vez que não queria e agora é obrigado a manter a palavra.
A Peste mexeu com a cabeça do Dr. Paphonso. Não a Peste em si, ele não pegou. Mas, a superdose de hidroxicloroquina que ele ingeriu por devoção ideológica. Dizem os boatos que ele já tomou mais de cem compridos.
Na semana passada, o Dr. Paphonso surpreendeu o mundo intelectual sergipano. Numa palestra despretensiosa no Rotary, sobre a “nova normalidade”, dessas palestras para ocupar o tempo dos comensais, o cerebrino doutor esboçou uma grande novidade.
Começou assim, as suas abstratas especulações:
“O capitalismo não acabará, pelo contrário, sairá mais forte depois da Peste. É mais fácil o mundo acabar. Não podemos voltar à normalidade. O normal é o que nos levou ao caos, à crise financeira e à crise climática. O Presidente Bolsonaro precisa criar o Ministério da Nova Normalidade.”
“O Estado deve oferecer serviços públicos de qualidade e investir na economia informal. A força do novo capitalismo está na informalidade. Apoiar os empresários de si mesmo. Os serviços públicos devem fazer parte de um sistema renovador: cidades inteligentes com inovações sociais e tecnológicas.”
A tese do Dr. Paphonso é original: “a nova normalidade será fundada na economia informal. Cada um explora a si mesmo. A liberdade será absoluta. Cada um será o responsável pelo próprio sucesso ou fracasso. O mundo é dos mais sabidos!”
Ao final da conferência, o Dr. Paphonso Azevedo foi aplaudido de pé pelos rotarianos. Quase ninguém entendeu a mensagem. E nem precisava. A genialidade do doutor é previa, não carece de confirmação.
No entanto, a tese central do doutor sobre a “nova normalidade” foi assimilada pelos presentes. Todos saíram repetindo em uníssono a boa nova: “o mundo é dos mais sabidos!”
Gilberto Freire tinha razão, “quem olhar para Sergipe não espere riqueza, luxo e valentia. Sergipe é uma terra de pensadores”. Tobias Barreto, Sílvio Romero, João Ribeiro, Gilberto Amado e Joel Silveira.
Atualmente, o Dr. Paphonso Azevedo é o nosso luminar.
Antonio Samarone (médico sanitarista).
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