As Sandálias da Humildade.
(por Antonio Samarone)
As matas de Itabaiana foram derrubadas para se plantar algodão, na segunda metade do século XIX. Os povoados Saco do Ribeiro e Chã do Jenipapo tornaram-se Vilas, depois Cidades (Ribeirópolis e Frei Paulo).
No Brasil, as árvores perderam as identidades biológicas, para facilitar o desmatamento. Uma nobre braúna preta vira um anônimo pé-de-pau. Só recentemente, a arborização em Itabaiana se tornou realidade. As pessoas não queriam árvores, para não quebrar as suas calçadas.
Nesse Natal, o Prefeito decidiu embelezar a Praça da Igreja. Um jardinagem bem cuidada e o plantio de novas árvores. Na execução, o trabalho voluntário de um ex Deputado Federal.
Está lá o homem (foto), gadanho na mão, acompanhando os plantios de flores tropicais. Parece um Burle Marx de aldeia, um maestro da natureza.
Quem é esse Deputado?
Sua excelência Wilson Cunha (Jia). Vereador de Itabaiana por dois mandatos, Deputado Estadual (1991/95) e Deputado Federal (1995/99).
Wilson Cunha (Jia), nasceu no Povoado Água Branca, em 10 de agosto de 1951. Filho de Antonio Francisco da Cunha e Dona Joana Perpétua da Cunha. Uma família numerosa: Zé Cunha, Nivaldo, Zé Augusto, Ireno, Arnaldo (Cunha), Rivaldo, Maria, Bernadete, Neném, Carminha e João Namorador.
João Namorador morreu novo, com o amigo Carbureto, num acidente de trânsito, na perigosa ladeira de Frei Paulo.
Seu Antonio de Franco, o pai, foi um rico comerciante, represente da farinha-do-reino (Moinhos, Salvador e Sergipe), para todo o agreste. A família foi criada em rédea curta, sob férrea disciplina.
Wilson Cunha fez o primário na escola da temida Maria de Branquinha, uma professora que não se acanhava em usar a palmatória e os castigos merecidos (ou não).
Wilson começou a gazear, faltar as aulas para acompanhar a malandragem. A infração tornou-se insuportável, para os princípios do educandário.
Dona Maria de Branquinha ameaçou Wilson de expulsão. Quando Seu Antonio de Franco soube, tomou as providências. Nessas gazeadas, Wilson foi com a molecada tomar banho no Açude do Matadouro. O pai e a professora resolveram armar um flagrante, foram em comitiva buscar o peralta no banho.
Com a chegada da volante na beira do açude, os meninos saíram rapidamente e botaram as suas roupas (tomavam banhos nus). Wilson resistiu. Quanto mais a professora gritava, sai Wilson, já lhe vimos. Não precisa se esconder.
Wilson, acuado e com medo da surra, encontrou uma saída: eu sou uma Jia, vocês estão enganados, não sou eu. Um prato cheio: virou Jia até hoje.
Jia ainda foi aluno do Professor Airton Silva (Órion). Concluiu o curso ginasial no Murilo Braga. Jia não continuou os estudos.
O Pai era rico, permitiu que Jia começasse a inventar coisas.
Montou o time de futebol de salão, e batizou-o com o nome de Curitiba. Depois foi para o futebol de campo, chegando a disputar o campeonato de profissionais. O vício de Cartola é forte. Ele ainda possui uma escolinha de futebol, que se mantém com subsídios da Prefeitura.
Jia casou bem, em 16/12/1978, com uma neta de Viera do Couro. A bem nascida Vânia Vieira, e tiveram 4 filhos.
Um cidadão pacato, amigo de todo mundo, Wilson foi estimulado a entrar para a política, pelo grupo de Chico de Miguel. Elegeu-se Vereador por dois mandatos. Tomou gosto, entrou no PDT de Almeida Lima, e chegou a Assembleia Legislativa. O PDT elegeu 2 deputados. De forma inesperada, Jia foi o segundo, tomou a vaga do famoso Bosco Mendonça.
Durante o seu mandato estadual, o Governador João Alves, concedeu ao Curitiba, em comodato, o antigo Módulo Esportivo, em Itabaiana. Para facilitar a administração, Jia construiu uma casa e foi morar no Módulo.
Depois, no local, foi construído o atual Ginásio Poliesportivo Chico do Cantagalo.
Como outsider, sem pertencer aos grupos tradicionais da política, Jia elegeu-se Deputado Federal. Um milagre político. Jia votou pela reeleição de Fernando Henrique, seu principal voto. No mandato Federal, Jia passou a frequentar a intimidade do Rei Pelé (Ministro dos Esportes). Ele quer criar um monumento a Pelé, em Itabaiana.
Em outra aventura, Jia adquiriu, com escritura pública, uma área de 219 hectares no miolo da Serra de Itabaiana. Foi dono dos Poços das Moças. O objetivo era construir uma reserva particular e um Parque. Encomendou o projeto a célebre Kátia Loureiro, uma arquiteta que encantou Sergipe.
Já fora da política, Jia enfrentou reações e protestos ao seu projeto. Areia Branca se mobilizou contra. O seu pedido no IBAMA não andava.
Nesse conflito, o Presidente do IBAMA em Sergipe, conseguiu, em 15 de junho de 2005, a aprovação do decreto, criando o “Parque Nacional Serra de Itabaiana”, com 8 mil hectares, que continua sem as necessárias desapropriações.
Os 219 hectares do Parque de Jia, foram desapropriados por uma ninharia: 300 reais por hectares. Fazendo a conta: R$ 65.700,00, ou seja, só o Poço das Moças valia mais. Nesse episódio, Jia foi acusado de ter invadido a Serra de Itabaiana.
O pacato Jia, 75 anos, vive da aposentadoria de deputado estadual. Não possui patrimônio, em seu nome. Vive modestamente. Não ficou rico. Como forma de retribuir o que recebeu dos itabaianenses, dedica-se a jardinagem pública. Sente-se bem com a beleza das flores.
Jia conseguiu uma velhice feliz, sem apegos as coisas materiais.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

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