terça-feira, 9 de dezembro de 2025

AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE

As Sandálias da Humildade.
(por Antonio Samarone)

As matas de Itabaiana foram derrubadas para se plantar algodão, na segunda metade do século XIX. Os povoados Saco do Ribeiro e Chã do Jenipapo tornaram-se Vilas, depois Cidades (Ribeirópolis e Frei Paulo).

No Brasil, as árvores perderam as identidades biológicas, para facilitar o desmatamento. Uma nobre braúna preta vira um anônimo pé-de-pau. Só recentemente, a arborização em Itabaiana se tornou realidade. As pessoas não queriam árvores, para não quebrar as suas calçadas.

Nesse Natal, o Prefeito decidiu embelezar a Praça da Igreja. Um jardinagem bem cuidada e o plantio de novas árvores. Na execução, o trabalho voluntário de um ex Deputado Federal.

Está lá o homem (foto), gadanho na mão, acompanhando os plantios de flores tropicais. Parece um Burle Marx de aldeia, um maestro da natureza.

Quem é esse Deputado?

Sua excelência Wilson Cunha (Jia). Vereador de Itabaiana por dois mandatos, Deputado Estadual (1991/95) e Deputado Federal (1995/99).

Wilson Cunha (Jia), nasceu no Povoado Água Branca, em 10 de agosto de 1951. Filho de Antonio Francisco da Cunha e Dona Joana Perpétua da Cunha. Uma família numerosa: Zé Cunha, Nivaldo, Zé Augusto, Ireno, Arnaldo (Cunha), Rivaldo, Maria, Bernadete, Neném, Carminha e João Namorador.

João Namorador morreu novo, com o amigo Carbureto, num acidente de trânsito, na perigosa ladeira de Frei Paulo.

Seu Antonio de Franco, o pai, foi um rico comerciante, represente da farinha-do-reino (Moinhos, Salvador e Sergipe), para todo o agreste. A família foi criada em rédea curta, sob férrea disciplina.

Wilson Cunha fez o primário na escola da temida Maria de Branquinha, uma professora que não se acanhava em usar a palmatória e os castigos merecidos (ou não).

Wilson começou a gazear, faltar as aulas para acompanhar a malandragem. A infração tornou-se insuportável, para os princípios do educandário.

Dona Maria de Branquinha ameaçou Wilson de expulsão. Quando Seu Antonio de Franco soube, tomou as providências. Nessas gazeadas, Wilson foi com a molecada tomar banho no Açude do Matadouro. O pai e a professora resolveram armar um flagrante, foram em comitiva buscar o peralta no banho.

Com a chegada da volante na beira do açude, os meninos saíram rapidamente e botaram as suas roupas (tomavam banhos nus). Wilson resistiu. Quanto mais a professora gritava, sai Wilson, já lhe vimos. Não precisa se esconder.

Wilson, acuado e com medo da surra, encontrou uma saída: eu sou uma Jia, vocês estão enganados, não sou eu. Um prato cheio: virou Jia até hoje.

Jia ainda foi aluno do Professor Airton Silva (Órion). Concluiu o curso ginasial no Murilo Braga. Jia não continuou os estudos.
O Pai era rico, permitiu que Jia começasse a inventar coisas.

Montou o time de futebol de salão, e batizou-o com o nome de Curitiba. Depois foi para o futebol de campo, chegando a disputar o campeonato de profissionais. O vício de Cartola é forte. Ele ainda possui uma escolinha de futebol, que se mantém com subsídios da Prefeitura.

Jia casou bem, em 16/12/1978, com uma neta de Viera do Couro. A bem nascida Vânia Vieira, e tiveram 4 filhos.

Um cidadão pacato, amigo de todo mundo, Wilson foi estimulado a entrar para a política, pelo grupo de Chico de Miguel. Elegeu-se Vereador por dois mandatos. Tomou gosto, entrou no PDT de Almeida Lima, e chegou a Assembleia Legislativa. O PDT elegeu 2 deputados. De forma inesperada, Jia foi o segundo, tomou a vaga do famoso Bosco Mendonça.

Durante o seu mandato estadual, o Governador João Alves, concedeu ao Curitiba, em comodato, o antigo Módulo Esportivo, em Itabaiana. Para facilitar a administração, Jia construiu uma casa e foi morar no Módulo.

Depois, no local, foi construído o atual Ginásio Poliesportivo Chico do Cantagalo.

Como outsider, sem pertencer aos grupos tradicionais da política, Jia elegeu-se Deputado Federal. Um milagre político. Jia votou pela reeleição de Fernando Henrique, seu principal voto. No mandato Federal, Jia passou a frequentar a intimidade do Rei Pelé (Ministro dos Esportes). Ele quer criar um monumento a Pelé, em Itabaiana.

Em outra aventura, Jia adquiriu, com escritura pública, uma área de 219 hectares no miolo da Serra de Itabaiana. Foi dono dos Poços das Moças. O objetivo era construir uma reserva particular e um Parque. Encomendou o projeto a célebre Kátia Loureiro, uma arquiteta que encantou Sergipe.

Já fora da política, Jia enfrentou reações e protestos ao seu projeto. Areia Branca se mobilizou contra. O seu pedido no IBAMA não andava.

Nesse conflito, o Presidente do IBAMA em Sergipe, conseguiu, em 15 de junho de 2005, a aprovação do decreto, criando o “Parque Nacional Serra de Itabaiana”, com 8 mil hectares, que continua sem as necessárias desapropriações.

Os 219 hectares do Parque de Jia, foram desapropriados por uma ninharia: 300 reais por hectares. Fazendo a conta: R$ 65.700,00, ou seja, só o Poço das Moças valia mais. Nesse episódio, Jia foi acusado de ter invadido a Serra de Itabaiana.

O pacato Jia, 75 anos, vive da aposentadoria de deputado estadual. Não possui patrimônio, em seu nome. Vive modestamente. Não ficou rico. Como forma de retribuir o que recebeu dos itabaianenses, dedica-se a jardinagem pública. Sente-se bem com a beleza das flores.

Jia conseguiu uma velhice feliz, sem apegos as coisas materiais.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

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