Lei de Murici
(por Antonio Samarone)
“Em tempos de murici, cada um cuida de si”. Salve-se quem puder. Se cada cidadão tratar da sua vida, é quase certo que irá sobreviver. A sobrevivência alheia é assunto alheio.
Esse é o espírito da famosa Lei de Murici.
“Em tempos de murici”, qual a origem dessa assertiva? O que seria o murici? A Byrsonima crassifólia, pequena fruta do litoral nordestino, já descrita por Gabriel Soares de Souza, no século XVI? Creio que não.
Conta-se que após a morte do sanguinário Coronel Moreira César, o “Corta Cabeças”, na terceira expedição de Canudos, o seu sucessor no comando das tropas, o Coronel Pedro Nunes Tamarindo, declinou do comando e desertou, pronunciando a celebre frase: “Em tempos de murici, cada um cuide de si.”
Moreira César chegou a Canudos com a fama de crueldade. Na Ilha do Desterro, atual Florianópolis, ele determinou a enforcamento dos prisioneiros da Revolta Federalista (1893 – 1895), na Fortaleza de Anhatomirim.
A origem da Lei de Murici vem de longe.
Segundo o intelectual sergipano João Ribeiro, murici deriva de morexi ou murixy, nome asiático do Chorela-morbus, e muito usado na Índia. Murixy era o antigo nome do Cólera.
Em tempos de murixy, era em tempos do Cólera.
“O terror dos tempos do murixy se espalhou pelo mundo. A epidemia do murixy explica a origem da expressão “em tempo de murici”, bem melhor que a inofensiva frutinha de murici.”
Em Canudos, onde o apavorado Coronel Tamarindo bradou a citada sentença, o clima era de medo e pavor, semelhante aos momentos de Pestes.
“El amor en los tiempos del cólera” é título de um famoso romance de Gabriel Garcia Marques.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
Nenhum comentário:
Postar um comentário