Itabaiana – 350 anos. Os Ferreiros da Matapoã.
(por Antonio Samarone)
Matapoã, (mata redonda, mata bonita), é um povoado de Itabaiana, onde nasce gente inteligente e troncha. A maioria dos gênios de Itabaiana é de lá.
Quando eu era menino, em Itabaiana, o povo chamava de Maitapã, onde viveu a tribo “Mathiapoa”, da Nação Tupinambá. Os meus ancestrais maternos, quando chegaram de Portugal, na primeira metade do século XIX, montaram as suas tendas de ferreiros na Matapoã.
O ferreiro João José de Oliveira (português) e Maria do Espírito Santo (Nhanha), uma Tupinambá, se estabeleceram em Matapoã. A prole desse casal, são conhecidos como os ferreiros da Matapoã: Quirino, Tertino, Antonio Francisco, Bernardino Francisco de Oliveira, Francisco Antonio, Vicente, Felismino (Nonô), Zentonho, Benvindo e Maria (Nanã).
A tragédia de Bernardino.
Numa terça-feira nublada, 17 de agosto de 1926, o velho ferreiro Bernardino Francisco de Oliveira, viúvo de dois casamentos (Maria Rosa de Jesus e Maria Wenceslau do Sacramento), 68 anos, pai de imensa prole (Felismina, Antonio Francisco (Totonho, meu avô), Francisco Antônio, Selvina, Ana, Neves, Libânio, Josefa e Maria (Lília), Agnelo, Maria (Neném) e Firmina); largou-se da Sambaíba, em Itabaiana, para comprar ferro em Maruim, matéria-prima da sua milenar profissão.
Já chegando ao destino, por volta das 9:40 da manhã, no povoado Caititu, entre Riachuelo e Maruim, KM 337 da ferrovia, o burro em que Bernardinho ia montado, assustou-se com o trem de passageiros nº 72, da “Companhia Ferro-Viária Éste Brasileiro”, que vinha de Propriá com destino a Aracaju.
O trem era conduzido por um maquinista experiente, Caetano Antônio de Jesus, que ao avistar a aflição, danou-se a apitar e puxar o freio de emergência.
A tragédia se anunciava, o velho Bernardino não conseguiu tirar a sua montaria da linha do trem, o animal agitado não obedecia às rédeas; o maquinista impotente, o local era uma curva em declive, próxima a um pontilhão. Tudo muito rápido.
A verdade é que o velho ferreiro não saltou do burro, talvez o amor ao animal. Um burro castanho de estimação, empurrou os dois para o mesmo destino.
Em frações de minutos o ferreiro e o animal estavam esmagados sob peso da locomotiva. Mamãe contava que não foi possível separar os restos de Bernardino dos restos do animal. Exagero!
Falava-se também, que em pouco tempo, como vingança, o maquinista foi esquartejado pelos ferreiros, irmãos de Bernardino. Não encontrei comprovação.
A massa ensanguentada, irreconhecível, foi recolhida com a pá de carvão, e colocada num saco, depositada num salão de chão batido, do imóvel que servia de parada do trem em Caititu. Ao final da tarde, os corpos foram transportados para o Departamento de Assistência Pública, na rua de Boquim, em Aracaju, para serem periciados.
Os Drs. Carlos Moraes de Menezes e Mário de Macedo Costa, levaram mais tempo para separar as partes do ferreiro, que para a devida necropsia. O estado de mutilação do corpo de Bernardino chocou a província.
A emissão do laudo pericial foi acompanhada pelo Senhor Doutor Chefe de Polícia do Estado, Álvaro Fontes da Silva (é como está no laudo cadavérico).
A bigorna e o fole de Bernardinho, repassados para o meu avô, Totonho, depois para os meus tios Zé e Omero, estão preservados numa tenda, no sítio do primo Arnaldo, nas Flechas.
As bigornas são como os sinos, possuem sonoridade única. Quando essa secular tenda operava, se sabia a distância: Bernardino está trabalhando.
Bernardino Francisco de Oliveira, nasceu em 11 de maio de 1858. Faleceu em 17 de agosto de 1926. Está sepultado no cemitério Santa Isabel, em Aracaju.
Antonio Samarone.
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