sábado, 2 de novembro de 2024

FINADOS DE 2024.

Finados de 2024!
(por Antonio Samarone)

“Eu só peço a Deus/ Que a dor não me seja indiferente/ Que a morte não me encontre um dia/ Solitário sem ter feito o que eu queria.” - Leon Gieco.

“A velhice foi presente que a vida me deu”.

Nunca imaginei que chegaria aos 70 anos. Faltam apenas 2 meses. Espero que o pessoal da “autoajuda” me dê sossego. Não sou idoso, sou velho. Idoso foi Matusalém. O desapego e o fim das ambições deixam a sabedoria, a clarividência e o discernimento fluírem livremente nos velhos.

A bíblia celebra o 70 como o número da universalidade, do fim de um ciclo.

As livrarias estão abarrotadas de livros de autoajuda: lições para sermos ricos, felizes, eternos, jovens, saudáveis e realizados. Vão todos à merda! Não preciso que me digam que lado nasce o sol.

Agora entendo o conselho, que Nelson Rodrigues deu a juventude: envelheçam...

“Deixemos a outros as armas, os cavalos e as lanças, a clava e os projéteis. A outros a caça e a corrida. A autoridade natural, eis o coroamento da velhice.” – Cícero.

Eu sei, a demência é uma ameaça! Procuro exercitar a memória. Não sei se vai funcionar.

Quanto ao corpo, percebo que ele não me pertence. Não me obedece, tem os seus caprichos. A experiência alheia mostrou-me que o corpo tem um momento que desaba. Em dias, envelhecemos um século. Viramos pós! É uma certeza bíblica.

Algumas limitações naturais da velhice, são bem-vindas. Por exemplo: a surdez nos poupa dos ruídos das bobagens. O esquecimento nos liberta das lembranças das derrotas.

A vida é formada de matéria, energia e informação. As duas primeiras obedecem às leis gerais da física e da química; já a informação, a complexidade, a organização só pode ser entendida pela metafísica. Uma rede de circuitos cerebrais, produzem a consciência. As propriedades da mente pertencem ao conjunto, não existem nas partes isoladas.

As mudanças desvendadas pela física quântica, também ocorreram ao nível das macromoléculas intracelulares. Com menos divulgação. Nem a mecânica cartesiana, nem a energia vital estavam certas. A vida é mais complexa.

A ciência descobriu que as proteínas alostéricas, macromoléculas intracelulares (a hemoglobina é um exemplo) possuem informações paralelas ao código genético. Evoluíram com certa autonomia. Funcionam desobedecendo às leis gerais da química e com reduzido consumo de energia.

A medicina, por conveniência mercantil, parou na fisiologia do século XIX, de Claude Bernard.

O paradigma molecular ainda é uma miragem para a medicina. A fisiologia cerebral passou por mudanças profundas, nos últimos 30 anos. O cérebro é plástico e dinâmico. A psiquiatria limita-se a tentar regular os níveis de serotonina.

Alcancei a pós-modernidade e o fim das verdades. Isso não me afeta. O desafio é enfrentar a velhice (sobreviver). Espero que os mecanismos biológicos de controle da vida, continuem funcionando.

A velhice me deu humildade para reconhecer, que as origens do Cosmo, da Vida e da Consciência não estão ao alcance humano.

A ciência, a filosofia e a religião tentam, sem sucesso, penetrar no domínio dos mistérios. “O cérebro inventou o mundo, com diz Nicolelis, inventou inclusive o desconhecido e o metafísico.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário