A Peste Branca em Sergipe.
(por Antonio Samarone)
O principal problema da Saúde Pública na década de 1950, em Sergipe, era à Tuberculose.
A gravidade era de tal ordem de grandeza, que o Deputado Estadual Nunes Mendonça, do PTB, apresentou à Assembleia Legislativa o projeto de Lei de nº 125, de 12 de janeiro de 1953, onde se previa a concessão de ajuda financeira aos pacientes tuberculosos, que não possuíssem a cobertura previdenciária, como forma de facilitar o tratamento.
O Deputado petebista também insistia na cobrança para a conclusão das obras do hospital de Sanatório, que se arrastava vagarosamente em Sergipe.
A construção do Sanatório em Sergipe demorou cerca de 18 anos.
Em 27 de março de 1954, Sergipe inaugurará o seu Hospital de Sanatório, com 60 leitos, importante instituição Federal, ligado ao Serviço Nacional da Tuberculose. Assumiu a direção dessa casa de saúde o tisiologista Dr. Aloíso Lopes Gaspar.
O Dispensário de Tuberculose em 1955, funcionava no Centro de Saúde da Capital, no Palácio Serigy – sede da Diretoria de Saúde Pública (DSP) - e possuía três médicos.
Dos 691 pacientes cadastrados naquele ano para receberem tratamento de tuberculose, apenas 33 tiveram alta como clinicamente curados.
Em 15 de outubro de 1959, iniciou-se uma nova era no combate à tuberculose no Estado, com a realização um amplo seminário.
Participaram do evento: os Drs. Levy Queiroga Lafetá, Diretor do Serviço Nacional de Tuberculose e Henrique Maia Penido, Superintendente Nacional do SESP, com os seus assistentes técnicos Drs. Nelson Moreira e Alípio Sanches.
Segundo o Diretor do DSP, Dr. João Batista de Lima, também do SESP; o seminário visava ampliar e reestruturar as ações na luta contra a tuberculose (Peste Branca). A política e a filosofia sanitária do SESP dominavam em Sergipe, naquele momento.
Autoridades sanitárias locais também participaram do Seminário: Dr. Fernando Sampaio, Diretor do Hospital de Cirurgia; Dr. Gileno Lima, Diretor do Hospital Santa Isabel; Dr. Wilson Rocha, Diretor do Hospital de Sanatório; Dr. José Nóbrega Dias, Diretor do Centro de Saúde Serigy.
Entre as deliberações importantes desse seminário, decidiu-se pela implantação de um dispensário na cidade de Estância, o primeiro do Interior, e pela ampliação do dispensário de Aracaju.
Durante o ano de 1959, o Dispensário do Serigy realizou 10.782 Abreugrafias, 1.967 exames de laboratório (incluído a baciloscopia), atendeu 572 tuberculosos, dos quais, 132 desapareceram sem continuar o tratamento, e continuaram, sem dúvidas, propagando livremente a doença.
Desse total de casos, 45 foram hospitalizados, 10 faleceram, 32 foram curados e 160 continuaram na categoria de suspeitos.
Em 1960, o Hospital Sanatório estava sob direção do Dr. Wilson Franco Rocha. O Sanatório vivia com escassez permanente de recursos, sempre ameaçado de fechar suas portas.
Em 1960, Sergipe não possuía uma estrutura sanitária capaz de enfrentar o grave problema da Tuberculose. Além do Hospital de Sanatório, a rede pública possuía apenas um Dispensário funcionando no Serigy, e um outro na Unidade de Saúde do SESP, na cidade de Estância. Era muito pouco.
A coordenação técnica dos trabalhos de combate à tuberculose estava sob responsabilidade do Dr. José Maria Rodrigues. Trabalhavam no Dispensário do Serigy, além do Dr. Wilson Franco Rocha, os Drs. Lourival Bomfim e Airton Teles.
O Dispensário de Tuberculose do Serigy possuía um equipamento de Abreugrafia, quadro de pessoal deficitário e instalações inadequadas.
O movimento do Dispensário era assustador: somente nos meses de abril e maio de 1960, foram atendidas naquela unidade 3.348 pessoas (aí incluídos os sadios que passavam pela Abreugrafia), e distribuídos 292.600 gramas de hidrazida e 4.650 gramas de estreptomicina.
Esses dados são esclarecedores da gravidade do problema da Tuberculose em Sergipe.
No ano de 1960, até maio, passaram pelo Dispensário 691 doentes e 192 suspeitos. Como se percebe a situação se agravava.
“Atualmente estamos em situação tão precária na luta contra a tuberculose, que não dispomos serviços em condições mínimas em dar assistência aos doentes matriculados. Dado o alto preço da manutenção da assistência dificilmente teremos condições de encarar seriamente o problema da tuberculose”. Entrevista do Dr. Wilson Franco Rocha ao jornal “A Cruzada”, edição de 18/06/1960.
Havia ainda outro grave problema: naquele momento ainda existiam certos pacientes considerados “incuráveis”, e a estes o Hospital Sanatório não internava. O que fazer com essas pessoas desenganadas pela medicina? Ficavam abandonados, socialmente excluídos, esperando apenas as graças de Deus e o alívio da morte.
Em dezembro de 1960, diante da gravidade do problema da tuberculose em Sergipe, o Dispensário do Serigy foi amplamente reformado.
Para realizar as mudanças o diretor da “Campanha Nacional Contra a Tuberculose”, Dr. Armando Santos, enviou para Sergipe uma supervisora, a Dra. Adelaide Pacheco, visando prestar assessoria técnica.
As novas instalações contavam agora com um setor de vacinação, raios X e laboratório; o quadro de pessoal foi ampliado para quatro médicos, uma enfermeira formada pela Escola Ana Nery, uma assistente social e dez atendentes, com curso de especialização.
Antonio Samarone (médico sanitarista).
Nenhum comentário:
Postar um comentário