A Pandemia em Aracaju
(por Antonio Samarone)
Onde a Pandemia matou mais, no Estado do Amazonas ou em Aracaju? A resposta parece óbvia. As valas comuns, a falta de oxigênio, a inauguração de novos cemitérios e a repercussão nacional e internacional apontam para o Amazonas.
Entretanto, observando as estatísticas, até ontem (15/01/20210, a taxa de mortalidade da Covid-19 no Amazonas era de 143,6 óbitos por cem mil habitantes e em Aracaju, de 143,5 óbitos por cem mil. Ou seja, literalmente as mesmas.
E por que a Pandemia em Aracaju passa desapercebida?
Pelo contrário, vende-se até a versão que em Aracaju o Poder Público foi bem sucedido e a Peste foi domada.
Qual o mistério?
Claro, não se pode atribuir a uma causa, o fenômeno é complexo. Entretanto, a competente campanha de marketing da Prefeitura de Aracaju tem um grande peso.
As mortes são cuidadosamente divulgadas em Aracaju.
As informações sobre os mortos são acompanhadas de supostas comorbidades: Homem hipertenso, diabético, pós enfartado, obeso, renal crônico e cirrótico. Quem lê fica conformado, também, não tinha como escapar, a sua hora tinha chegado.
Nessa narrativa, a Covid-19 foi apenas um gatilho. Ninguém pensa na Pandemia. Morreu quem tinha de morrer, diz a sociedade assustada. A Pandemia mata muito no Amazonas, ainda bem que Aracaju é tranquila, disse-me uma senhora do Mosqueiro.
Outros recursos do marketing é acentuar a idade avançada das vítimas ou informar que os mortos daquele dia, foram apenas a confirmação de óbitos antigos. O leitor recebe o infausto acontecimento como uma coisa do passado.
O pacote de manipulação é reforçado pela classificação de “curados ou recuperados” todos os que testaram positivo e não morreram.
Como, pela natureza da doença, os que escapam são ampla maioria, o sucesso é atribuído ao esforço do Poder Público, que usou o "tratamento precoce".
Uma inteligente forma de divulgação, associada a uma Imprensa dócil e bem comportada (salvo exceções), transformam o fel em mel, e a opinião pública tem uma sensação subjetiva de segurança e tranquilidade.
Na questão da Pandemia, com as mesmas Taxas de Mortalidade, o Estado do Amazonas parece o inferno e Aracaju o Paraíso, por obra e graça do competente marketing.
As aparências sempre dominaram o mundo.
Mesmo sem nenhuma ação efetiva de controle da Pandemia, o Poder Público em Aracaju passa uma imagem de competência e responsabilidade.
Não duvidem, a campanha de vacinação em Aracaju será o ápice desse espetáculo, com banda de música e foguetório.
Concluo, fazendo um reconhecimento sincero: Carlos Cauê é um gênio da publicidade.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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