O Nobel de Medicina e a Pandemia.
(por Antonio Samarone)
O Nobel de medicina em 2020, anunciado ontem, foi para os cientistas Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice pela descoberta do vírus da hepatite C.
O prêmio de medicina teve um significado especial neste ano, devido à pandemia de coronavírus, que pôs em evidência a importância da pesquisa médica para a sociedade.
A Organização Mundial da Saúde estima que, por ano, existam cerca de 70 milhões de infecções por hepatite C em todo o mundo.
Embora o alcoolismo e outros fatores também provoquem hepatite, as principais causas de inflamação do fígado são os vírus.
O vírus da hepatite C (HCV) pertence ao gênero Hepacivirus, família Flaviviridae. Sua estrutura genômica é composta por uma fita simples de ácido ribonucleico (RNA). Existem, pelo menos, sete genótipos e 67 subtipos do vírus.
A transmissão do HCV ocorre por meio do contato com sangue contaminado. Compartilhamento de agulhas, seringas, falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos, de equipamentos de manicure e de material para realização de tatuagem. Além do uso de sangue contaminado.
A transmissão sexual da hepatite C é esporádica.
A hepatite C aguda apresenta uma evolução subclínica. A maioria dos casos é assintomático, o que dificulta o diagnóstico. Habitualmente, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica e, como os sintomas são muitas vezes escassos e inespecíficos, a doença pode evoluir durante décadas sem suspeição clínica.
Aqui mora o perigo!
Na ausência de tratamento, em 20% dos casos, a hepatite C crônica evolui para cirrose ao longo do tempo. Uma vez estabelecido o diagnóstico de cirrose hepática, o risco anual para o surgimento de carcinoma hepatocelular (CHC) é de 1% a 5%.
Estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas estejam infectadas pelo vírus da hepatite C em todo o mundo e que cerca de 400 mil por ano vão a óbito devido a complicações dessa doença, principalmente por cirrose e carcinoma hepatocelular.
A evolução silenciosa da hepatite C, sem sintomas, levando a morte por cirrose e câncer de fígado, a longo prazo, é um exemplo que assusta os cientistas que estão estudando o SARS-CoV-2 da atual Pandemia.
A hepatite C possui tratamento eficaz, as dificuldades residem na dificuldade do diagnóstico e nos elevados preços dos medicamentos mais modernos. O SUS oferece esse tratamento.
O novo coronavírus, que parou o mundo em sua forma epidêmica aguda, pode cronificar? A Covid-19 crônica se manifestará de que forma? A imensa maioria das pessoas, que não apresentou sintomas na fase aguda, pode apresentar numa possível forma crônica?
Nada disso se sabe, a Covid-19 é uma doença recém nascida.
Oficialmente notificadas, 35 milhões de pessoas já contraíram a Covid-19 no mundo. Entretanto, a OMS estima que 10% da população, ou seja 700 milhões de pessoas já pegaram a doença. Ou seja, a possibilidade de cronificação põe muita gente em risco.
Outra realidade, mesmo que a doença produza imunidade duradoura, 90% da população continua susceptível. O risco de contrair a Covid-19 permanece elevado.
Os cientistas não podem esconder esses fatos.
O ambiente artificialmente otimista de que a Peste passou, foi uma nuvem passageira, e que a vacina será a bala de prata que vai eliminar o vírus, é mais uma cartada dos negacionistas.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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