sábado, 26 de outubro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. ANTONIO SANTANA DE MENEZES

Itabaiana – 350 anos. Dr. Antonio Santana de Menezes.
(por Antônio Samarone)

Antonio Santana foi o primeiro aluno do Murilo Braga a ingressar no curso de medicina da UFS. Formou-se na terceira turma, em 1968. Foram colegas de turma de Santana: Fedro Portugal, Eduardo Garcia, Ildete Caldas e Margarida Diniz. Depois, o Colégio Murilo Braga tornou-se um celeiro de médicos.

Antônio Santana Meneses, nasceu em Itabaiana, em 05 de agosto de 1944. Filho de Florival de Oliveira Menezes (Florival de Dario) e Dona Valdelina de Santana.

O pai era comerciário, empregado do armazém de Manoel Teles (chefe político em Itabaiana). Seu Florival morreu cedo, deixando Antônio Santana com nove anos. Santana tem 4 irmãos: Zé Torneiro, João, Maria e Nivalda.

Com a morte do pai, a vida ficou difícil para Antônio Santana. Como todo menino pobre daquele tempo, pegou carrego na feira, vendeu água em moringa, e aos dez anos, a mãe resolveu que estava na hora dele aprender um ofício. Empregou o menino na Alfaiataria de Zé Crispim (cortar ponta de linha, pregar botão, ascender o ferro em brasa). Sempre tinha o que fazer. Zé Crispim comprou uma loja de tecido, e o balconista foi Santana, aos 11 anos.

O trabalho educou e disciplinou o menino. Não o impediu de jogar bola na Praça da Feira, nem de frequentar e se sair bem na escola. Os tempos eram outros.

Antônio Santana nunca descuidou da escola. O primário começou na escola de Maria Branquinha e depois no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. O ginásio ele fez no grande Murilo Braga, com excelentes professores e muita organização.

As escolas públicas funcionavam muito bem. Só iam para as escolas particulares os alunos que não queriam nada. Eram escolas “papai pagou, filhinho passou”.

A dificuldade apareceu para estudar o científico, em Itabaiana não tinha. E agora, como vir para Aracaju sem ter onde ficar, sem tem como se manter. Zé Crispim, vendo aquilo, resolveu ajudá-lo. Fez contato com Valtênio Meneses, dono das lojas de tecido Maracanã, e conseguiu um emprego para Santana. Em 1960, Antônio Santana se mudou para Aracaju.

Trabalhando, pode estudar o científico, à noite, no Colégio Atheneu Sergipense, onde estudava o rico e o pobre. Foi morar numa vila de quartos, na rua Japaratuba. Santana se destacou nos estudos.

No 3º ano científico, Seu Valtênio Menezes, vendo o esforço do menino, fez uma concessão: - “você só precisa vir trabalhar depois do almoço, pela manhã fique em casa para estudar”.

Foi o suficiente! Em 1963, Antônio Santana passou no concorrido vestibular de medicina da UFS, o único pobre da turma. Só passaram 11 alunos naquele ano.

Naquele tempo eram poucos os filhos de Itabaiana que se formavam. Em medicina tivemos o filho de Manoel Teles, Dr. Airton Mendonça Teles; e agora teríamos o filho de um balconista do armazém de Manoel Teles; Antônio Santana, o primeiro Itabaianense a forma-se em medicina pela UFS.

Durante o curso, logo cedo, Antônio Santana se interessou pela psiquiatria. Aproximou-se do Dr. Hercílio Cruz, professor e dono da única clínica particular em Sergipe, o Hospital Psiquiátrico Santa Maria.

Além de Hercílio, exerciam a psiquiatria em Sergipe: Garcia Moreno, Hercílio Cruz, Renato Mazze Lucas, Jorge Cabral Vieira e Eduardo Vital Santos Melo. Um grupo pequeno, todos influentes na sociedade.

Antônio Santana Meneses concluiu o curso de medicina em 20 de dezembro de 1968. Em primeiro de janeiro, já estava empregado na Clínica Santa Maria. Em dezembro de 1970, casou-se com uma amiga de infância, uma ceboleira, Dona Carmen Santos Meneses.

Pouco tempo depois, deixou a Clínica do Dr. Hercílio para assumir a direção do Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, um velho depósito de pacientes. Mesmo recém-formado, o Secretário da Saúde não tinha alternativas, os psiquiatras famosos não aceitavam.

Antônio Santana encontrou o Adauto Botelho superlotado. Uma ala feminina, assistida pelo Dr. Renato Mazze Lucas; e uma ala masculina, sem assistência médica. Aos fundos, ainda existia um puxadinho, com os pacientes remanescentes da Colônia Eronides de Carvalho. O Adauto Botelho possui ainda uma ala dos “Sem Leitos” (eu alcancei), isso mesmo, os que dormiam no chão.

Entre os tratamentos dominantes no Adauto Botelho: a insulinoterapia (o paciente era induzido ao choque hipoglicêmico); o cardiozol (método químico de provocar convulsões); e o “sulfo”, (mistura de óleo de cozinha com enxofre em pó), que aplicado na bunda do suplicante, injeção intramuscular para produzir um abscesso, reduzia a agitação do infeliz. Um velho princípio hipocrático: “a dor maior, cura a dor menor”.

De moderno, o Adauto Botelho possuía o eletrochoque, aplicado em quase todo o mundo. O choque era a panaceia, servia para tudo. O Dr. Antônio Santana demorou pouco tempo nessa casa de horrores. Doentes no chão, sem assistência médica, sobrevivendo a base dos choques. Santana pediu demissão e foi embora para São Paulo.

Antônio Santana foi compor a imensa legião de médicos sergipanos migrantes para São Paulo. Da segunda metade do século XIX, até hoje. Formamos uma elite de paus-de-arara, que partiram em busca de uma vida melhor. Não ajudamos a construir São Paulo só com o trabalho braçal, com o suor; exportamos também cérebros, inteligências, pensamentos, arte e sensibilidade.

Em 1972, Antônio Santana foi morar em São Paulo. Residiu primeiro em Piracicaba. Em 1975 mudou-se para Presidente Prudente, onde foi trabalhar no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. Lá viveu, exerceu a medicina decentemente, e criou os seus filhos: Carla, oftalmologista; e Claudio, patologista.

Antônio Santana desenvolveu um trabalho voluntário de combate ao alcoolismo, na cidade de Mirante de Paranapanema, próxima a Presidente Prudente.

O itabaianense Antônio Santana Meneses, o Dr. Meneses (para os paulistas), cinquenta anos de formado, reside hoje em São Paulo (capital), e ainda exerce a psiquiatria em seu consultório.

Antônio Samarone. Secretário de Cultura.
 

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