O Fim do Sofrimento Necessário.
(por Antonio Samarone)
Chul Han continua sendo o pensador mais instigante da pós-modernidade. O seu novo livro, 'The Palliative Society', vai fundo.
A pós democracia é paliativa, não enfrenta os conflitos, os confrontos dolorosos, não quer fazer as mudanças dolorosos.
A democracia paliativa cria uma política de positividades mentirosas, um bem-estar centrado no desempenho individual, numa sociedade da performance, numa suposta trilha para a felicidade.
A ilusória maré de um bem-estar permanente cria uma legião de deprimidos e ansiosos, sustentados pela indústria farmacêutica.
A felicidade se tornou uma obsessão. A dor, a desilusão e o sofrimento, parte da natureza humana, tornaram-se inaceitáveis.
“A ganância material da indústria farmacêutica não é a única causa desta crise, que se deve antes a uma suposição fatídica sobre a existência humana.” Chul Han
“Somente uma ideologia de bem-estar permanente pode fazer com que medicamentos originalmente usados na medicina paliativa sejam administrados em larga escala também em pessoas saudáveis.” Chul Han
“Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor.” – Nelson Cavaquinho.
A dor foi silenciada, impedida de transforma-se em paixão, perdeu a sua força transformadora. Numa cultura de complacência, nada pode doer. É o fim das possibilidades da catarse.
A dor subsiste apenas em sua forma física, tornou-se objeto exclusivo da medicina. É o fim da dor existencial.
A cultura da complacência é a resultante da mercantilização da cultura, a sua subordinação ao gosto dos consumidores. As obras de arte se adaptaram ao mercado, para se tornarem consumíveis.
O novo livro de Chul Han é uma delícia, profundo e bem escrito.
“Pensem nas trevas e na grande friagem, Neste vale onde ecoam as lamentações.” Brecht.
Antonio Samarone (médico sanitarista).
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