As Bancas de Miudezas...
(por Antonio Samarone)
As bancas de miudezas vendiam todas as quinquilharias da terra: linhas; agulhas; alfinetes; dedais; babados; enfeites; fitas; lembrancinhas; prendedores de cabelo; bobs; massas de moldar; santos de gesso; broches e escapulários.
Na feira de Itabaiana, a banca de miudezas mais famosa era a de Anita de Pedro de Chiquinho Gordo. Sortida de um a tudo.
Quando o comerciante de miudezas melhorava de vida, abria um armarinho. O comércio de Itabaiana era apinhado. Lembro-me dos armarinhos de Antonio de Rosinha, Zequinha Sete Porta, Fefi, Dalula, Lindolfa e Zaíra. Em cada trecho do comércio tinha um grande armarinho.
Antonio Gomes de Vasconcelos (Antonio de Rosinha), dono de Armarinho, foi o primeiro seguidor do Trabalhismo em Itabaiana.
Nas eleições presidenciais de 03 de abril de 1930, Antonio de Rosinha apoiou Getúlio Vargas. O candidato da situação, Júlio Prestes, obteve em Itabaiana 719 votos e Getúlio, apenas 13.
Getúlio Vargas perdeu a eleição em Sergipe, em abril de 1930, com menos de dez por cento dos votos. Não foi votado em vários municípios e em Itabaiana teve 13 votos. Contudo, em outubro de 1930, assumiu o Poder por conta da Revolução.
Itabaiana é uma terra governista. Esses 13 itabaianistas liderados por Antonio de Rosinha, talvez tenham sido os primeiros ceboleiros a votarem contra o Governo. Essa proporção não mudou muito até hoje, apenas o eleitorado cresceu.
Pouco depois, mesmo perdendo a eleição, a Revolução de 1930 colocou Getúlio Vargas no Poder por 15 anos (1930 a 1945). Depois ele voltou em 03 de outubro de 1950, pelo voto, ficando até 1954, com o suicídio.
Getúlio no Poder, Sergipe se desmanchou em mimos e homenagens. É a alma sergipana!
Nas eleições de 03 de outubro de 1950, depois da Ditadura do Estado Novo, Getúlio venceu com facilidade em Sergipe, com 43.435 votos. A oposição democrática, agora era João Mangabeira do (PSB), que obteve 100 votos. Não descobri quantos votos Mangabeira teve em Itabaiana (talvez os treze).
Nessa mesma eleição de 1950, em Sergipe, para efeito de comparação, Arnaldo Garcez foi o Governador eleito, com apenas 36.374 votos. Getúlio Vargas teve 43 mil para Presidente.
Voltando a trinta.
Em 05 de novembro de 1930, um mês depois de Vargas no Poder, o Prefeito de Aracaju nomeou a principal Rua da Capital como João Pessoa (o vice na chapa de Getúlio Vargas). Antes era a Rua do Barão, depois Japaratuba, e ficou até hoje como João Pessoa. Homenagem descabida, só por bajulação política.
Em Itabaiana, ainda em 1930, Antonio de Rosinha recebeu pessoalmente de Getúlio Vargas, uma foto oficial emoldurada, que ele ostentava na parede do seu Armarinho. Como se não bastasse, ele mantinha no balcão, uma estatueta em bronze de Getúlio.
Getúlio Vargas sabia agradar seu eleitorado, cativando Antonio de Rosinha para sempre. Procurei por essa foto e essa estatueta e ninguém soube informar o paradeiro.
A oposição progressista em Itabaiana começou com Antonio de Rosinha, mesmo ele nunca tendo sido um profissional da política. Era uma Getulista!
Já o seu irmão, Carlos Gomes de Vasconcelos (Carlos da Pipoca), era visceralmente contra Getúlio Vargas.
Durante a Revolução de 1930, Carlos da Pipoca era Tenente do Exército no Rio de Janeiro. Carlos era músico (trompetista) e ex-aluno da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Por isso, ingressou na Banda de Música do Exército, como oficial.
Com a vitória de Vargas, ele foi desligado do Exército e retornou para Itabaiana. Carlos da Pipoca foi um personagem importante em minha infância. Aos domingos e dias de festas, o seu carrinho de pipoca era uma referência na Praça da Igreja.
Eu era um freguês dos torresmos!
A pipoca era um produto de luxo. Aos meninos que ficavam ximando, sem dinheiro, Seu Carlos distribuía uns saquinhos de torresmos. Eu, por vaidade, ainda me gabava: gosto mais dos torresmos!
No Governo de Castelo Branco, Carlos da Pipoca foi reincorporado e conseguiu aposentar-se como soldado do Exército, perdendo a patente.
Vou perguntar a Vladimir Carvalho quem foram esses trezes que votaram em Getúlio Vargas, em 1930, em Itabaiana. São os “Treze do Forte” da cebola.
Antonio de Doci, Faustinho, Mané Barraca, Juca Cego, Océas, Euclides Alfaiate, Mazze Lucas, Zé Martins, Goisinho, Pulga de Cós, Átalo, Cibalena e mais uma meia dúzia, são os herdeiros políticos dos “Treze do Forte”, em Itabaiana.
Antonio Gomes de Vasconcelos (Antonio de Rosinha) é filho de João Gomes de Vasconcelos (músico da Filarmônica) e Dona Rosinha. Antonio era casado com Dona Nina Vasconcelos e tiveram 9 filhos: Tonico, Getúlio, Maninho, Zé Augusto, Maria José, Ana, Tereza, Leda e Lalá.
Antonio de Rosinha morreu em Salvador, na casa dos filhos.
Do mesmo jeito que Batista Itajay fundou a política tradicional em Itabaiana, Antonio de Rosinha fundou a oposição democrática popular.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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