A Solidão dos Idosos.
(por Antonio Samarone)
Encontrei um amigo, que me parabenizou pelo 15 de dezembro. Não foi o único!
“Parabéns pelo aniversário, quantos anos?” E sem esperar a resposta, desembuchou: “impressionante, como você não envelhece! Nem parece.
Não pareço com o quê, eu pensei.
Uma reação preconceituosa de quem esperava me ver um cadáver empalhado, em estágio de decomposição pública. Esperava um depósito de doenças, senil, dependente, com sinais de demência, caminhando para a completa perda de autonomia.
Ele esticou a conversa, onde será a festa? Eu retruquei de mau humor, que festa, aniversário em minha idade se lamenta, passa a ser um ano a menos. O horizonte do fim se aproxima velozmente.
Quis dizer ao mancebo que a perda de poder e status dos idosos, em geral, é anterior a perda do vigor físico e da saúde. A primeira desgraça dos idosos é o isolamento, intensificado no momento pela Pandemia.
O processo do desapego é doloroso. Talvez o esquecimento demencial seja um alívio necessário.
Ocorre, que envelhecer é o único meio de se viver muito tempo. A longevidade ainda é um privilégio dos abastados. Os pobres morrem cedo.
A velhice é uma covardia, um massacre. O que fazer para torná-la mais leve? Pensei em abrir esse diálogo com o amigo que me parabenizou. Desisti! Esse amigo é daqueles que deseja “Descanse em paz” a todos os que morrem. Vá á merda, diria o defunto, se pudesse.
Segundo Hipócrates a velhice começa aos 56 anos. Ele comparou a vida as estações do ano e a velhice era o inverno.
O Pai da Medicina deixou escrito que os idosos sofrem de dificuldades respiratórias, catarros, acesso de tosse, disúria, dores nas articulações, doenças nos rins, vertigens, apoplexia, caquexia, prurido generalizado, sonolência; expelem água pelos intestinos, pelos olhos, pelas narinas; frequentemente têm catarata, a vista é fraca e ouvem mal.
O Velho Hipócrates de Cós sabia das coisas.
Galeno aconselhava que os Velhos deveriam tomar banhos quentes e beber vinho para manter seu corpo aquecido e hidratado.
O século XX aliviou algumas dessas dificuldades encontradas na velhice. Com os avanços da medicina e da farmacologia, muitos desconfortos próprios do envelhecimento do organismo foram suavizados.
Por outro lado, a exclusão dos idosos da sociedade de consumo foi acentuada.
Com a hegemonia neoliberal, o velho se tornou um peso para a Sociedade. Nenhuma novidade, os povos nômades também abandonavam os mais velhos nas florestas por onde caminhavam.
Atualmente, o envelhecimento é visto como um problema a ser resolvido.
“Além de ser um destino do indivíduo, a velhice é uma categoria social. Tem um estatuto contingente, pois cada sociedade vive de forma diferente o declínio biológico do homem.” – Alfredo Bosi.
Isso é fato!
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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