E por falar em retratistas...
(por Antonio Samarone).
O segredo de um bom retrato é captar um olhar inteligente, mesmo quando não existe um pensar correspondente. O olhar inteligente tem vida própria, só captado pelo inconsciente óptico das máquinas fotográficas, inacessível ao olho humano.
Na cultura, Itabaiana possui duas tradições: a música, com a secular Filarmônica; e a fotografia, com os mestres Paulino, Miguel Teixeira, Joãozinho Retratista, Percílio Andrade, Paulinho de Dóci, Jorge Moreira e Seu Romeu.
Só os ricos e remediados tinham acesso a esta arte.
Seu Joãozinho retratista era o mais famoso, com o seu cavalinho de madeira, anjos entregando hóstias não consagradas. Santos e cristos de papelão. Ao fundo, um cenário com o azul firmamento, carregado com nuvens de algodão. Seu Joãozinho dominava a técnica, com os seus retratos bem retocados, a lápis grafite.
Seu Joãozinho era um retratista mágico!
Miguel Teixeira (foto), o mestre da fotografia, deixou um legado sobre a vida na Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. O casario, o vestuário, as festas, folguedos, os dias santos, procissões, danças, hábitos e costumes. Um trabalho documental pouco estudado.
O acervo de Jorge Moreira se perdeu? Não sei dizer.
A fotografia era vista como um espelho do real. A fotografia não mente, é uma prova, uma mimese, uma imitação quase perfeita da realidade. A fotografia como semelhante ao referente. Um registro, uma tomada.
Os antigos retratistas oficiais se transformaram em fotógrafos profissionais. A boniteza estava na apuração técnica, na resolutividade, na iluminação e no enquadramento.
Hoje, se sabe, que a fotografia não é uma cópia do real.
O retratista Seu Justo chegou ao Beco Novo! A fotografia chegava ao povo. Seu Justo se instalou no mais famoso cruzamento de Itabaiana: Rua do Beco Novo com a Rua da Pedreira, na esquina onde funcionou a loja de tecidos de Manezinho Priscina, antiga casa do Coronel Sebrão.
Na segunda esquina, funcionaram as barbearias de Seu Abílio, e depois de Seu Juca, pai do guarda-vala Tito. Na terceira, funcionou a padaria de Euclides e Mamede Paes Mendonça, depois o Bar de Pedro Delfino, administrado com mão ferro por Dona Isaltina; e na última esquina, era a sortida bodega de Zé Meu Mano.
Um cruzamento com muitas histórias!
Dona Isaltina enxotava quem botasse açúcar demais no café. Ela inspecionava! Tomava-se café em copos de vidro, de geleia usado. Quando se pedia um pão com requeijão, ela não se dava ao trabalho de tirar a casca. E aí daquele que reclamasse!
Outro aborrecimento, inaceitável para Dona Isaltina, era algum abusado acaçapar uma bola com força na sinuca. Ela mandava encostar o taco na hora. Seja lá quem fosse...
Lembro-me que na bodega de Zé Meu Mano vendia-se óleo de rícino, o terror no tratamento final das lombrigas; ou para os que estivessem com a barriga inchada ou fastio. Minha mãe adorava prescrever óleo de rícino, violeta-genciana, pó de sulfamida, cibalena, cafiaspirina, pomada minâncora, uvilon, piperazil, emulsão de scott, biotônico fontoura e guaiacol.
Estava lendo um clássico de Philippe Dubois, “O Ato de Fotografar”, e a mente me empurrou para Itabaiana. Terminei no óleo de rícino de Zé Meu Mano e nas delicadezas de Dona Isaltina.
Vou parar por aqui.
Antonio Samarone.
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