terça-feira, 15 de outubro de 2024
GENTE SERGIPANA - ANTONIO HIGINO
Antonio Higino – Gente Sergipana.
(Por Antonio Samarone)
Deus criou o homem com o barro da Terra.
Em Itabaiana, as atividades com o barro vem de longe. No início, foram as paneleiras, depois as olarias e as cerâmicas. Hoje, é uma forte atividade econômica. São dezenas de empresas queimando o barro. Não sei quantas, mas são muitas.
A cerâmica acompanhou o homem desde a pré-história. Quando e quem começou essa arte em Itabaiana? As paneleiras são de tempos imemoriais, chegaram com os quilombolas, no atual Bairro São Cristóvão.
As olarias foram trazidas para o Lagamar, por Antonio Higino (foto), na primeira metade do século XX. Nas olarias o trabalho é artesanal: o barro é amassado, modelado e queimado por mãos humanas.
Seu Antonio Higino era um camponês da Cova da Onça. Foi visitar uma irmã (Losa), no Povoado Roque Mendes, em Riachuelo. O seu cunhado, Jaime, além de proprietário de saveiros, possuía uma olaria. Antonio Higino se interessou, e montou a primeira olaria em Itabaiana.
Roque Mendes era um povoado importante. Uma parte da produção agrícola de Itabaiana era levada em lombos de burros (tropeiros) até Roque Mendes e, de lá, embarcava em saveiros, até o Mercado Central em Aracaju. A fama de cidade celeiro vem daí.
Antonio Higino dos Santos era casado com Dona Maria Irinea de Araújo. Tiveram simplesmente 18 filhos. Eles tocavam a olaria do pai. A escola foi amassar barro a partir dos sete anos. Os filhos de Higino: Augusto (85 anos), o mais novo, Pedrinho, Bobó, Gordinho, Juca, Nascimento e Toinho montaram a indústria da cerâmica em Itabaiana.
Depois veio a família de Manezinho Massa Crua. Não sei se o nome vem da fabricação do adobe, um tijolo maior e não queimado, mais baratos, usado pelos mais pobres. Já morei em casa de adobe.
A indústria da cerâmica só chegou a Itabaiana na década de 1960.
Para variar, Seu Antonio Higino já morou no Beco Novo, próximo a Miguel Fagundes.
A olaria de Higino veio para o Batula, mais próximo da cidade, visando facilitar o transporte das telhas e tijolos. O transporte era feito de jegue, com dois pequenos caixotes. Carregavam 50 tijolos por viagem.
No caminho do Açude Velho, final da atual Rua Miguel Teixeira, tinha o Aloque, um barreiro da olaria de Antonio Higino. Eu pensava ter sido o Aloque um curtume, pelo cheiro forte que exalava. Eu tinha medo daquele banho. A gente chamava de “Zaloque”.
Seu Augusto, montou, e possui até hoje, a Cerâmica Higino, que virou uma marca famosa. Os tijolos e as telhas Higino, dominavam até o sertão da Bahia. A tecnologia mudou muito. A indústria de cerâmica em Itabaiana se modernizou.
Nesse momento, um grupo de empresários itabaianenses, liderados por César, um neto de Antonio Higino, está em uma feira tecnológica, na China. Isso mesmo, na China! A obra iniciada por Seu Antonio Higino foi longe.
Seu Augusto, o filho mais novo de Antonio Higino, é um homem culto, sem nunca tem pisado os pés numa escola. Conhece o repertório do Rei do Baião, de fio a pavio. Frequentou o Vale do Cariri e Exu, sem ser devoto do Padre Cícero. A atração era Luiz Gonzaga.
Seu Augusto, dono da Cerâmica Higino, se casou com Dona Maria Ortência Santos (81 anos), do Beco Novo. Filha Zé de Donona Peito de Flande, o primeiro motorista de caminhão de Itabaiana. Dona Ortência (com O), é uma amante da natureza. A sua casa é ornada com belas flores.
Desse casamento brotaram 9 filhos: Acácia, César, Anchiara, Carlos Alberto, Angêla, Ana Arleide, Carlinhos e Ana Lúcia. Seu Augusto tem um defeito: torce pelo Flamengo.
Seu Augusto permanece ativo e toca a Cerâmica Higino, hoje dentro da cidade, no Bairro Marianga.
As cerâmicas, as fábricas de carroceria, a produção de folheados e o comércio do ouro são originalidades de Itabaiana e contribuem para a sua potência econômica.
A Serra não possui somente um carneiro de ouro, como diz a lenda, na serra temos um redil.
A história da cerâmica em Itabaiana é tarefa para os historiadores. Apenas, quis realçar o talento empresarial de Antonio Higino, o organizador da indústria do barro em Itabaiana.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
Nenhum comentário:
Postar um comentário