quinta-feira, 26 de setembro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. DR. ANTONIO FERNANDES MENESES.

Itabaiana – 350 anos. Dr. Antonio Fernandes Meneses.
(por Antonio Samarone)

Um amigo ceboleiro, intelectual renomado, exilado no Recife, me mandou um comentário intrigante: “você está escrevendo uma “literatura” do Beco Novo. Já existe a “literatura” da Rua do Sol."

"São dois mundos: o Beco Novo, o Clube dos Trabalhadores e o Etelvino Mendonça; e a Rua do Sol, a Praça da Igreja, o cinema de Zeca Mesquita e a Associação Atlética. Vejo nisso uma clivagem de classes sociais.”

A tese me pegou de surpresa. Não sei se uma clivagem de classes sociais, isso em Itabaiana, não era visível a olho nu. Mas, certamente, uma clivagem cultural. Na segunda metade do século XX, Itabaiana só possuia dois polos culturais: o Beco Novo e a Rua do Sol.

Reconheço que alguns povoados possuíam lampejos culturais: Bom Jardim, Zanguê, Ribeira, Pé do Veado, Flechas, Matapoã, Caraíbas e Rio das Pedras. Alguma omissão?

O meu amigo exilado, ainda acrescentou: - “ocasionalmente, vejo em sua “literatura” um descuido com a gramática.” Eu concordo que existe a carência. Outro amigo, Raimundo Luiz, antes me corrigia. Parou um pouco, penso que ele considerou inútil, pois eu não me consertava.

O meu personagem, Antonio Fernandes Menezes, Tonho Primo, me obriga a retornar ao miolo do Beco Novo. Fazer o quê?

Antonio Fernandes Menezes nasceu em 12 de julho de 1950, no segundo trecho da Rua da Vitória, em Itabaiana. O Pai, Anisio Deodato Meneses, Anisio Goiouiou, é filho de Dona Branquinha e Zé Goiouiou. Uma família do segundo trecho do Beco Novo, defronte ao Maestro Antonio Silva.

Os tios de Tonho Primo, por parte de pai, foram pessoas de destaque em Itabaiana: as famosas professoras, maria de Branquinha e Helena de Branquinha; o empresário Zé Meu Mano, com a sua sortida bodega na esquina do Beco Novo com a Rua da Pedreira, onde se vendia de óleo de rícino a pavio de candeeiro, de querosene a sonrisal; e as doceiras, na pedra da feira, Antonieta, Lira e Anita.

Uma família de peso na cidade!

A mãe de Tonho Primo, Ana Belizana Menezes, tem raízes no Condado do Zanguê. Filha de Antonio de Anjinho, comerciante no Beco Novo, e Maria Graça de Souza (Dona Tatinha). Belizana é irmã de Zé Crispim, Ana, esposa de Sizino de Boarnerges; e Manoel, que sempre viveu nas matas do Zanguê.

Tonho de Anjinho é irmão do Professor Cícero, responsável pela educação no Zanguê, e o pai dos professores Melquiades e João de Deus (falecidos) e de Fabiano, um jurista, que ainda advoga. Deve ter mais gente que esqueci.

Antonio Fernandes Menezes nasceu e viveu em Itabaiana até os 14 anos. O pai, empregado do armazém de Euclides Paes Mendonça, mudou-se para Aracaju, com a morte do patrão. Em Itabaiana, Fernandes fez as primeiras letras com a professora Joseíta, e com a tia, Helena.

Tonho Primo muda-se para Aracaju, e só retorna a Itabaiana em 1980, já formado em medicina. Itabaiana já oferecia condições para abrigar os seus filhos que saíram para estudar. A economia centrada no comércio e nos caminhões, e a criação do Ginásio Murilo Braga, facilitaram o crescimento econômico da cidade.

Em 1970, só residiam em Itabaiana três médicos, Pedro, Osmeil e Millet, todos de Fora. Com a chegada do baiano Dr. Raulino, a medicina se estabeleceu com força. Raulino montou uma equipe médica na Maternidade São José, que acolheu muitos médicos recém-formados, filhos de Itabaiana, os doutores, Edmundo, Luciano das Vitalinas, Antonio Carlos Fontes. Além do Dr. Cardoso (o que atestou o milagre de Santa Dulce).

Retornam ainda a Itabaiana, após a formatura, os médicos Aírton Peixoto e Fátima Siqueira.

Outros médicos itabaianenses, dessa época, se estabeleceram em Aracaju, Guilhermino Noronha, Luiz Carlos Andrade, Hélio Lima, Ferreira, Carlos Umberto, José Marcondes de Jesus, Valfredo Tavares, José Luiz Machado, Marcos Ramos, Betânia, filha de Tonho de Doci e Denise Silveira.

Antonio Santana, Átalo, Benjamim Nogueira, Edésio Vieira e Nivaldo de Joãozinho Vermelhinho foram embora. Depois eu falo dos médicos das gerações mais novas: Ana Jovina, Rômulo, Ivanilson...

Antonio Fernandes Meneses montou a primeira clínica particular em Itabaiana, em 1981: Clínica de Pronto Atendimento de Itabaiana, funcionando 24 horas. Faziam parte do corpo clínico os ortopedistas Adail e Lucianinho de Ribeirópolis. O primeiro ortopedista de Itabaiana, foi o Dr. Luciano de Zé Sacristão, que nunca retornou a Itabaiana.

Depois veio a Bio Clínica de Peixoto, a Clínica dos filhos de Serapião (Bertrand, Gois), formados em Pernambuco; a clínica do Dr. Antonio Correa, entre outras. Estou levantando a lista completa. São muitas.

Hoje, trabalham em Itabaiana cerca de 300 médicos. Só a Rede Municipal de Saúde possui 26 Unidades Básicas (UBS). A Prefeitura Municipal emprega 45 clínicos, 62 especialistas e 14 médicos de apoio. Estou apurando os que trabalham na Maternidade São José e no Hospital Pedro Garcia Moreno.

Na próxima terça, 01 de outubro, no jantar rotariano da Academia Sergipana de Medicina, a palavra estará com o Dr. Raulino, para nos contar essa jornada da medicina em Itabaiana.

Atualmente, a medicina privada em Itabaiana é próspera, com uma característica: a maioria da demanda é de pacientes particulares. Os Planos de Saúde e os Convênios são secundários.

Os serviços de atenção primária e secundária são ofertados com qualidade, resta a atenção terciária, a alta complexidade, talvez pela proximidade de Aracaju.

Itabaiana é uma confirmação da tese que a medicina acompanha a economia. Dos três médicos até 1970, aos atuais trezentos, foi uma consequência do desenvolvimento econômico da cidade, do seu crescimento demográfico e as transforações da vida politica.

Resta avaliar, qual é o peso dessa atividade econômica (a medicina), para o desenvolvimento da cidade.

Itabaiana atrai pacientes de uma vasta região em sua volta, gerando renda e empregos. Ouvi dizer que as pessoas dos municípios próximos, até do sertão da Bahia, preferem procurar os médicos em Itabaiana, do que alongar a viagem à Aracaju. Aproveitam, para fazer comprar, sempre mais em conta em Itabaiana.

Por muito tempo, Itabaiana viveu uma dicotomia: uma economia pujante convivendo com uma vida política atrasada, centrada na violência e no clientelismo. A partir de 2012, emergiu uma nova força política, voltada para a gestão e o bem comum. Os resultados são visíveis.

Antonio Fernandes Menezes, médico ortopedista, um ceboleiro de quatro costados, liderou esse crescimento da atenção médica em Itabaiana.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

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