terça-feira, 16 de março de 2021

PRESENTES NA PANDEMIA


Presentes na Quarentena.
(por Antonio Samarone)
Recebi um presente na quarentena: o recente livro do Senador Chico Rollemberg. Uma maravilha de cultura, sensibilidade e sergipanidade.
Destaco a grandeza dos antigos conservadores. Se pode discordar do conteúdo, por razões ideológicas, mas a Direita no Brasil possuía uma Doutrina, era a Doutrina Social da Igreja Católica.
Quando observo o que pensa a atual direita bolsonarista, me certifico da decadência.
Francisco Rollemberg conta no livro, que virou médico e político, influenciado pelo Círculo Operário, do Padre João Lima, e pela leitura da Rerum Novarum.
Diz Chico em seu livro: “A Rerum Novarum, de certa forma, me fez médico; a Rerum Novarum, de outra forma, de outra maneira, me fez político.”
Na década de 1920, surgiu no Brasil um movimento leigo empenhado na discussão dos problemas sociais à luz de pensadores católicos e inspirado nas Encíclicas Sociais da Igreja.
As Encíclicas Rerum Novarum (1891), defendendo a união Capital/Trabalho, tornando natural o Direito a Propriedade; Quadragesimo Anno (1931), atualizando a encíclica anterior; Divini Redemptoris (1937), qualificando o comunismo como “intrinsecamente perverso”, e Mater et Magistra (1961), reforçando as anteriores, mas introduzindo a questão das desigualdades.
Organizaram-se no país vários grupos políticos inspirados pela Igreja: Liga Eleitoral Católica, a Associação de Universitários Católicos, Ação Católica Brasileira e os Círculos Operários.
Em 1964, funcionavam no país 408 círculos, reunidos em 16 federações estaduais, com um total de cerca de 435.000 associados. Os líderes católicos deram apoio ao movimento político-militar.
O Círculo Operário em Aracaju, fundado em 11 de agosto de 1935, foi muito forte durante o Estado Novo. Era um contraponto ao Centro Operário, de orientação trabalhista, que batalhava no campo da luta de classes.
O Círculo Operário de Aracaju funcionava no segundo andar do Cine Vitória.
Em agosto de 1968, o Monsenhor João Moreira Lima, Assistente Eclesiástico do CTC de Aracaju (e da FTCESE), em uma assembleia, transformou o Círculo Operário em “Ação Solidária” (ASTA), passando todo o patrimônio do Círculo para esta nova entidade (ligada à Arquidiocese de Aracaju).
Tenho uma gratidão pessoal ao Círculo Operário. Meu pai, analfabeto, um trabalhador rural sem terra e pequeno negociante, era um circulista. Nunca soube os motivos, ele era um temente a Deus, e que torcia na política pelo PSD, de Leite Neto e Manoel Teles.
Como ele se filiou ao Círculo Operário? Não sei.
Por sua condição de circulista, eu tive acesso gratuito à Escola do Padre, em Itabaiana. O Educandário Cônego Vicente de Jesus era uma escola paga, para a classe média e ricos. Eu frequentei por conta do Círculo Operário.
Existia a discriminação, claro, mas não me afetou. Eu me achava melhor que os meninos que pagava. Eu era do Beco Novo. Reagia com paus e pedras a qualquer gracinha.
Minha mãe orientava-me: “não puxe briga com ninguém, não insulte, mas não quero que você chegue em casa apanhado. Não aceite desaforos!” E eu não aceitava.
O Padre Everaldo, diretor do colégio, nos explorava. Quando tinha jogos de futebol de salão, mandava a gente carregar água da bomba da Praça, para molhar a quadra de areia, evitando poeira na torcida.
Eu carregava a lata d’água sem questionar. Achava que estava pagando os estudos.
A Doutrina Social da Igreja deu meia volta com o Papa Francisco.
A nova Encíclica da Igreja, Fratelli Tutti (2020), é uma completa mudança na Doutrina Social da Igreja. Não teve a repercussão merecida no Brasil, porque a Igreja Católica perdeu força na política, para os evangélicos. Outro retrocesso!
Que se reative as Comunidades Eclesiais de Base, a nova doutrina social está pronta. Pedirei filiação!
Antonio Samarone (médico sanitarista).


 

Um comentário:

  1. Gostei muito do texto. Nos faz refletir e para mim esta é uma prova dos tempos loucos que vivemos. De um lado uma esquerda acomodada, no outro lado uma direita desvairada e obediente ao louco da Virgínia e no meio disso tudo os cupins vão roendo o que resta do Brasil.

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